Trabalho noturno: compensa trocar o dia pela noite?

Apesar do ganho financeiro ser maior, as pessoas que optam pela madrugada tendem a ter mais problemas psicológicos e de relacionamento

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Trocar o dia pela noite. Ficar acordado enquanto a maioria da cidade dorme e descansar quando muitos estão se levantando. O trabalho noturno é quase um estilo de vida, que garante, ainda, um salário maior do que a mesma função exercida em horário comercial.

Segundo a presidente do Núcleo Trabalhista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo, Sônia Mascaro Nascimento, esse retorno financeiro, segundo a CLT, é de 20% sobre a hora trabalhada.

Horário

“A primeira coisa que deve ser levada em conta é que a regra vale somente para empregados de pessoas jurídicas com fins lucrativos, registrados ou não”, explicou Sônia. “Não estão inclusos, por exemplo, os trabalhadores domésticos.”

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Na zona urbana, o trabalho noturno é aquele que se exerce das 22 horas às 5 horas. Na zona rural a situação muda um pouco: pecuária, das 21 horas às 4 horas e agricultura, das 22 horas às 4 horas. “Isso porque o trabalho no campo já costuma ser iniciado mais cedo”, adicionou a advogada.

Além de cada hora render mais em dinheiro, com o chamado adicional noturno, ela também vale menos em proporção de minutos. “Ficou definido que os 60 minutos do dia equivalem a 52 minutos e 30 segundos da noite”, informou Sônia. Essa normativa muda, no entanto, no caso de acordo ou convenção coletiva.

Desgaste

“Na minha opinião, que é bem parcial, os 20% a mais na hora trabalhada não compensa o desgaste físico e emocional da pessoa”, garantiu o psicólogo Eduardo Yabusaki.

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Segundo ele, a mudança no hábito traz prejuízos para a pessoa. “O nosso organismo tem um funcionamento tanto biológico quanto psíquico. Sem dúvida, a noite foi feita para descansar e possibilitar a reposição de energia”, explicou.

No caso da pessoa trocar o dia pela noite, o prejuízo é maior. “É muito indicado para pacientes em depressão atividades ao ar livre, durante o dia, porque o sol é um componente muito importante que tem influência direta no nosso metabolismo. Ele estimula a liberação da serotonina, que é o hormônio responsável pela sensação de saciedade”, afirmou o psicólogo.

Problemas emocionais

Entre os problemas emocionais que a prática acarreta estão a maior propensão ao estresse, crises de ansiedade e cansaço emocional. Todos esses fatores influenciam diretamente no humor da pessoa. “A tolerância fica diferente e as características de personalidade alteradas.”

Para trazer um pouco mais à realidade as conseqüências de se trocar o dia pela noite, Yabusaki contou a história de um casal que atendeu. “Ele trabalhava de noite e ela de dia. Só tinham tempo de ficar juntos aos fins de semana, porém, o marido não tinha tanta disposição quanto a esposa”. A diferença gerou uma crise no casal. “Esse tipo de coisa pode até colocar em risco o relacionamento”, finalizou.

Retorno financeiro

Quando decidiu encarar uma jornada de trabalho das 22 horas às 6 horas, William Maitan, então com 18 anos, levou em consideração o retorno financeiro. “Poderia escolher entre os três turnos. Fui para a noite porque queria ganhar mais”, contou. O local de trabalho era um hospital, onde Maitan dava suporte à rede de computadores.

“Era muito cansativo, eu não consegui me habituar. É completamente diferente trocar o dia pela noite, porque uma hora que você dorme durante a noite vale cinco durante o dia”, opinou.

Vida pessoal

Foi assim por um ano. O rapaz trabalhava de segunda a segunda, com folgas intercaladas durante a semana. Para ele, no entanto, o horário do trabalho não chegou a causar problemas em sua vida pessoal. “Na época eu namorava, mas ela sempre foi muito tranqüila com isso”, contou.

Por outro lado, Maitan perdia o tempo livre durante os finais de semana à noite. “Quando estava com meus amigos, sempre que chegava a pizza, eu tinha que ir embora trabalhar”, brincou.

Jornada

A jornada do rapaz não acabava na hora em que encerrava seu expediente. Maitan ia do trabalho direto para o curso pré-vestibular. “Já cheguei a dormir na aula”, disse.

A mudança de horário veio quando ele conseguiu outro cargo, na mesma empresa, para trabalhar de dia. Hoje, aos 22 anos, ele afirma que trabalhar à noite não é tão simples assim. “Sem dúvida, é melhor durante o dia.”