Tim Cook, da Apple, diz que Vale do Silício criou “caos” e deve ser responsabilizado

Crítico aos abusos cometidos por várias empresas de tecnologia contra seus usuários, Tim Cook discursou em Stanford

Allan Gavioli

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SÃO PAULO – Um pronunciamento de Tim Cook, CEO da Apple, feito no último domingo (18), durante a 128° cerimônia de formatura da Universidade de Stanford, mostra o descontentamento do executivo sobre como o mundo da tecnologia vem lidando com os resultados de suas inovações.

Stanford é reconhecida como uma das melhores universidades do mundo em tecnologia e detém a reputação de ser a favorita dos chefes executivos do Vale do Silício. Os fundadores do Google, Larry Page e Sergey Brin e o CEO da Netflix, Reed Hastings, estão entre seus ex-alunos.

“Os caminhos da Stanford e do Vale do Silício se cruzaram. Já fazemos parte do mesmo ecossistema. Crescemos muito, juntos, nessa última década. Mas hoje acredito que chegamos em momento que é necessária uma reflexão: cheios de cafeína e códigos, otimismo e idealismo, convicção e criatividade, gerações e mais gerações de graduandos da Stanford usam e usaram a tecnologia para recriar nossa sociedade”, disse Cook durante seu discurso.

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“Nos últimos tempos, parece que o caminho tomou uma direção errônea. Crises substituem o otimismo, consequências desafiam o idealismo e a fé na realidade é abalada. Mas há esperança: grandes sonhos ainda vivem por aqui. Em plena era do cinismo, esse lugar ainda acredita que a capacidade humana de resolver problemas é inabalável”, completa o executivo.

Cook, que se tornou uma das vozes mais importantes na defesa dos direitos dos consumidores em relação à privacidade e aos abusos cometidos por várias empresas de tecnologia, ainda argumenta que as gigantes dessa indústria devem ser responsabilizadas pelas consequências “caóticas” que suas inovações tecnológicas causam no mundo real.

“Ultimamente me parece que essa indústria está se tornando cada vez mais conhecida por uma invenção nada nobre: a crença que você pode levar crédito de algo sem se responsabilizar pelas consequências”, disse, sob um a salva de palmas.

“Nós vemos isso todos os dias”, completa o executivo sobre a falta de responsabilização. “Em cada vazamento de dados, em cada violação de privacidade, em cada discurso de ódio que a própria rede alimenta, nas fake news que abalam nossa democracia.”

Cook em nenhum momento citou alguma companhia especifica pelo nome, mas claramente não foi preciso. Os exemplos citados no discurso se encaixam perfeitamente nos últimos casos controversos que envolveram o Facebook e o YouTube, por exemplo.

“Goste ou não, o que você constrói e o que você cria define quem você é. Para mim parece loucura ter que dizer isso, mas, se você cria uma máquina que se alimenta do caos, você não pode se livrar da responsabilidade de ter criado um cenário caótico”, continua o CEO.

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O executivo ainda deixou claro aos graduandos que a vigilância digital ameaça a inovação e tocou em um assunto que a Apple vem colocando em destaque nas suas coletivas e anúncios publicitários: a privacidade digital.

O resto de sua fala foi direcionado a temas mais específicos, como deixar seu legado e dicas para os estudantes trilharem seus próprios caminhos.

Cook termina o discurso com um aviso para os recentes graduados da Universidade. “Graduandos, por último, aprendam com esses erros. A geração de vocês deve ser livre para moldar seu próprio caminho, assim como a minha foi. Se você quer levar o crédito, deve primeiro aprender a assumir responsabilidades”

Confira o discurso na íntegra no vídeo abaixo:

Allan Gavioli

Estagiário de finanças do InfoMoney, totalmente apaixonado por tecnologia, inovação e comunicação.