Tempo e renda são dificultadores de empregos melhores para a Classe C

Profissões predominantes são de vendedores, auxiliares administrativos e operadores de telemarketing

Karla Santana Mamona

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SÃO PAULO – A classe C brasileira representa 53,9% da população. De acordo com o Data Popular, este ano, a nova classe média atingiu 104,1 milhões de pessoas, sendo 42,8 milhões de homens e 52,9 milhões de mulheres.

Ao analisar o mercado de trabalho, os dados indicam que as profissões predominantes da classe C são de vendedores, auxiliares administrativos, operadores de telemarketing, recepcionistas e caixas de lojas.

O professor do Ibmec do Rio de Janeiro, Nelson de Sousa, explica que os profissionais ocupam mais cargos operacionais por dois motivos: falta de dinheiro e tempo para estudar. Este profissional trabalha para se manter, ganha pouco e não tem tempo para estudar.

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Renda da classe C
Por ano, os homens da nova classe média ganham R$ 9.937,50, enquanto as mulheres recebem R$ 6.300,60. Mensalmente, estes valores são de R$ 828,12 e R$ 525,05, respectivamente.

“A renda é baixa porque não ele não estudou. Mas ele não estuda porque não tem dinheiro e não tem tempo. O tempo dele é para trabalhar. Vira um ciclo vicioso”, explica o professor.

Apesar de a situação ser desmotivadora, o especialista acredita que é possível conseguir melhores colocações no mercado de trabalho. Sousa explica que o caminho deve ser por meio de cursos profissionalizantes ou por faculdades cujas mensalidades são mais acessíveis.

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Da metalúrgica para à farmácia
Foi o que a farmacêutica Lucélia Cristina Miranda fez. Filha de entregador de gás e operadora de máquina, após terminar o Ensino Médio, cursou Contabilidade para poder fazer a faculdade que sempre sonhou. “Desde pequena eu queria fazer remédios”.

Com o curso de Contabilidade, ela trabalhou durante três anos em uma metalúrgica. Com o salário e ajuda da mãe, ela pagou a faculdade, cuja mensalidade era de cerca de R$ 600.

Lucélia lembra que o seu antigo chefe também a ajudou neste período, já que ela podia tirar cópias de apostilas e materiais solicitados pelos professores dentro da empresa. O gestor também permitia que a farmacêutica descansasse, ao perceber que havia dormido pouco por ficar estudando à noite.

Além do dinheiro, outro dificultador era a distância. Moradora de Diadema (SP), ela tinha de ir de ônibus fretado para a faculdade, que fica em Santos, litoral de São Paulo. “Eu tinha aula de sábado, dia que não tinha o fretado. Ia para a faculdade de ônibus de rodoviária. Nos cinco anos, fiz amizade com todos os motoristas”, diz.

Para ela, todo o esforço valeu à pena, pois é um orgulho para a família, por ser a primeira a se formar. Lucélia foi além da graduação. Ela acabou de entregar o trabalho final da pós. Agora, ela é especialista em cosméticos.

Vivência universitária
Outra profissional que enfrentava ônibus lotado e poucas horas de sono para estudar era Rita de Cássia Negro. Pedagoga de formação, atualmente, ela trabalha como analista de sistema de cobrança.

“Já trabalhava em banco e fui parar nesta área por circunstâncias da vida. Estudei e falei que era hora de ganhar dinheiro. Quando estudava, meu salário dava só para pagar a mensalidade e a condução. Muitas vezes atrasava o pagamento da faculdade porque não tinha dinheiro”.

Apesar de não atuar em sua área, ela considera sua graduação fundamental para a atividade que desenvolve. Segundo ela, foi por meio da Pedagogia que ela aprendeu como transmitir o conteúdo passado nos treinamentos que desenvolve dentro da empresa.

A primeira formada da família aconselha outras pessoas a estudar. “Não me arrependo de nada. Todo mundo deveria experimentar o que é cursar uma faculdade. É difícil, mas vale muito à pena. Falo isso sempre aos meus sobrinhos”, finaliza.