Quem precisa de um líder carismático?

Liderança é importante, mas é bem diferente do que é anunciado sob este rótulo. Tem pouco a ver com "qualidades de liderança" e ainda menos com "carisma"

Equipe InfoMoney

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Surpreendeu-me o comentário de um “observador” ao ser entrevistado por jornal de grande circulação, sobre a necessidade do Grupo Aché, em sérias dificuldades de gestão:

“O ideal para o Aché seria um líder carismático e capaz de envolver a empresa em grandes projetos. A dificuldade é que os sócios não dão espaço para esse tipo de liderança, afirmou”.

Carisma

Tentei entender o significado desta afirmação e colhi no dicionário a definição do termo carisma como a “atribuição a outrem de qualidades especiais de liderança, derivadas de sanção divina, mágica ou diabólica”. A pergunta que me fiz foi: quem, em pleno século XXI, precisa desse tipo de liderança?

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A liderança é importante, sem dúvida. É bem diferente daquilo que agora é anunciado sob este rótulo. Tem pouco a ver com “qualidades de liderança” e ainda menos com “carisma”. É algo comum, desinteressante e nada romântico. Sua essência é o desempenho.

A liderança eficaz não depende de carisma. Dwight Eisenhower, George Marshall e Harry Truman eram líderes extremamente eficazes e, no entanto, nenhum deles possuía mais carisma do que um peixe morto. O carisma não garante, em si, a eficácia de um líder. John F. Kennedy pode ter sido a pessoa mais carismática a ocupar a Casa Branca. No entanto, poucos presidentes realizaram tão pouco.

Liderança como trabalho

Esses dois últimos parágrafos não são meus, mas de Peter Drucker* ao definir liderança como trabalho. Poderíamos tomar também o exemplo do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como um dos maiores líderes carismáticos do Brasil, se não o maior e, no entanto, nos últimos quatro anos de governo, mostrou muito pouca eficácia no que mais interessa à sociedade brasileira: crescimento econômico.

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A segunda parte da afirmação do “observador” também traz à tona um tema muito importante na gestão dos negócios que é: qual deve ser a finalidade de uma empresa? Envolver-se em grandes projetos? Que tipo de projetos? A quem interessaria esses projetos?

Retomando Peter Drucker, só existe uma definição válida para a finalidade de uma sociedade: criar um consumidor. Ele adiciona: os mercados não são criados por Deus, pela natureza ou pelas forças econômicas, mas sim pelos homens de negócios.

Estratégia

Pelo que se sabe, “market-share” também não se perde por forças diabólicas agindo sobre a estratégia da empresa. Pelo que se pode entender do artigo em questão, o problema atual do Aché passa muito longe da falta de um líder carismático, mas, antes de qualquer coisa, é de estabelecer procedimentos de identificação clara das razões que estão levando o grupo a perder tantos consumidores. Depois da compra da Biosintética, a empresa perdeu 40% da participação no mercado de genéricos, baixando de 12% para 8% em um ano.

Identificar claramente o problema significa fazer as perguntas certas que, se respondidas adequadamente, poderão levar o Aché a um novo plano estratégico para se recompor nos seus mercados. Isto requer conhecimento e racionalidade. A implantação desse plano estratégico exigirá muito mais do que isso, porque a organização é também uma entidade humana e social. Esses dois aspectos da administração moderna são como o ponto de apoio e a alavanca que movem as organizações em direção à eficácia e ao lucro.

(*)Livro: “O Melhor de Peter Drucker – O Homem” – Nobel-Exame. – Capítulo 13, extraído de Managing for the Future: 1990´s and beyond, publicado em 1992.

Roberto Paschoali é diretor da Evolve Gestão, especializada na prestação de serviços de gestão empresarial.