Produtividade do trabalhador brasileiro estagnou desde 1980, informa estudo da OIT

Está cada vez mais difícil para o trabalhador manter sua posição, quanto mais obter ganhos reais de remuneração

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – O trabalhador brasileiro vive hoje um dilema, apesar de trabalhar mais do que em outros países em termos de número de horas, não consegue produzir de forma eficiente.

Diante deste quadro as empresas vêem seus ganhos de produtividade limitados, o que acaba impedindo a melhora da remuneração de seus trabalhadores, em um círculo vicioso que não beneficia a ninguém. A constatação foi feita em um relatório publicado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho).

Brasileiro trabalha mais e produz menos

Pior ainda é a afirmação de que a produtividade do trabalhador brasileiro não aumentou nas últimas duas décadas, enquanto no resto do mundo houve melhora dos índices de produtividade.

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Esta tendência explicaria o porque dos brasileiros trabalharem mais em número de horas do que seus colegas alemães, franceses, italianos, suíços e escandinavos, mas ainda assim produzirem cerca de um quarto do que estes mesmos trabalhadores produzem.

De acordo com o relatório da OIT a estagnação da produtividade do trabalhador brasileiro não pode ser explicada somente pela sua menor capacitação técnica, ou até mesmo esforço, pois outras variáveis como tecnologia, ambiente econômico e situação social do país também são fundamentais na determinação da produtividade de um trabalhador.

Para se ter uma idéia do baixíssimo grau de produtividade do trabalhador brasileiro, basta verificar que ela é menor, inclusive, do que aquela registrada pela Colômbia, país afetado pelo terror do tráfico de drogas há anos. Enquanto o brasileiro produz em média US$ 14,3 mil por ano seus colegas norte-americanos produzem 4,25 vezes mais com uma produtividade de US$ 60,7 mil.

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Mesmo quando comparada com a produtividade dos europeus, que é mais baixa do que a dos americanos, verifica-se que nossos trabalhadores estão muito atrás em termos de produtividade: Bélgica (US$ 54 mil), França (US$ 52 mil) e Alemanha (US$ 42 mil). Pior ainda é a constatação de que apesar dos avanços tecnológicos das duas últimas décadas, o brasileiro produz hoje cerca de 3,4% menos do que produzia em 1980.

Noruegueses têm maior produtividade/hora

Além de mais produtivos, os americanos também são os trabalhadores que mais horas trabalham entre os países ricos. Enquanto um americano trabalha 1825 horas/ano, mesmo número de horas que no Japão, na França o número de horas trabalhadas é 15% menor de cerca 1545 horas/ano.

Em geral o número de horas trabalhadas têm caído no mundo inteiro, sendo que nos países menos desenvolvidos esta redução tem sido menos acentuada, pois é preciso compensar a falta de tecnologia com mão de obra mais barata. No Brasil o total de horas trabalhadas caiu cerca de 5,5% durante a década de 90 baixando de 1.796 no início da década para 1.698 no final da década.

Apesar de trabalharem mais horas, os trabalhadores americanos não são os mais eficientes em termos de produtividade/hora ficando atrás dos noruegueses, onde um trabalhador produz cerca de US$ 38/hora e dos franceses com US$ 35/hora, frente os US$ 32/hora dos americanos, cerca de quatro vezes mais do que a dos brasileiros.

Situação preocupa, pois dificulta geração de renda

O mais preocupante desta situação é que apesar dos esforços para se aumentar a produtividade do trabalhador brasileiro ela se manteve estável em US$ 7,8/hora nas últimas duas décadas, enquanto no resto do mundo ela tem crescido a uma taxa média de 1,9% ao ano.

A notícia apesar de não surpreender certamente levanta preocupações sobre a situação do mercado de trabalho nacional, onde está cada vez mais difícil para o trabalhador manter sua posição, quanto mais obter ganhos reais de remuneração.

Afinal, devido à menor produtividade de seus trabalhadores as empresas nacionais têm mais dificuldades de competir no mercado global, o que acaba sendo refletido na sua capacidade de crescer, contratar mais mão de obra, e obviamente de repassar ganhos de produtividade aos seus trabalhadores.

O relatório da OIT deixa evidente que a solução do desemprego no Brasil e da melhoria do poder aquisitivo do trabalhador não serão resolvidos com medidas paliativas de redução da jornada de trabalho, como defendido pelo governo, mas sim por ações mais profundas que garantam maior competitividade da nossa indústria.