Processos judiciais não acarretam demissão por justa causa

Empresas não podem demitir por esse motivo. Contudo, imagem dos profissionais fica prejudicada. Caso do goleiro Bruno é diferente

Camila F. de Mendonça

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SÃO PAULO – Qualquer pessoa pode cometer erros. Contudo, existem equívocos que podem prejudicar muitos aspectos da vida. Existem outros que, mesmo não comprovados, podem prejudicar ainda mais, tanto o campo afetivo quanto o profissional.

Estar envolvido em algum processo judicial, ainda mais como acusado, é um desses casos. Dependendo da natureza do processo, a carreira do profissional pode ir por água abaixo. Mesmo se, no fim das contas, a inocência for comprovada. O caso do goleiro Bruno Fernandes, do Flamengo, é um exemplo. Embora seja apenas suspeito de um crime, sua imagem e a do clube estão sendo afetadas.

O que fazer nessas horas? Quais são os direitos de um profissional que está envolvido em um processo judicial? O que a empresa pode fazer nessa situação? Quando o assunto envolve a Justiça, muitos pontos são relativos.

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Porém, profissionais envolvidos em questões judiciais podem ter uma única certeza: eles não podem ser demitidos por justa causa por carregarem consigo um processo. “Nesses casos, a justa causa só pode ocorrer quando houver uma condenação definitiva, que não cabe mais recursos”, afirma o responsável pelo Núcleo Trabalhista da Tostes e Associados Advogados, Rui Meier.

“Se o empregado está sendo investigado, ele tem condições de comparecer ao trabalho e não pode ser demitido por justa causa por esse motivo”, ressalta a especialista em Direito Trabalhista e sócia da Fragata e Antunes Advogados Associados, Glaucia Soares Massoni.

Reflexos
O artigo 482 da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) é claro ao dizer que o profissional envolvido em processos judiciais pode ser demitido por justa causa se a condenação for definitiva. 

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Contudo, os especialistas consultados concordam que um processo por si só já traz uma imagem negativa ao profissional. Meier explica que, caso esse profissional se sinta constrangido por conta do processo e comece a faltar, ele corre o risco de ser demitido sem direitos. “A justa causa independe de um processo judicial”, lembra o advogado.

Ou seja, é bom ressaltar que, mesmo para esses profissionais, a rescisão do contrato de trabalho pelo empregador pode ser feita obedecendo os critérios estabelecidos pela legislação, como:

O advogado ainda reforça que, se o profissional se ausentar constantemente do trabalho para cumprir as convocações judiciais, ele não pode ser demitido. De acordo com Meier, todo cidadão comum que for convocado deve comparecer e tem direito ao comprovante da presença.

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Apesar disso, é possível que empresas pouco idôneas demitam profissionais envolvidos em processos com esta justificativa. “Se isso ocorrer, ele pode recorrer à Justiça”, explica Meier.

E o caso Bruno?
O caso do goleiro do Flamengo é um pouco diferente porque a legislação que rege as relações de trabalho dos esportistas profissionais é outra, e não a CLT. O artigo 18 da Lei 6.354 também determina em quais situações o esportista pode ser demitido por justa causa.

“No caso dele, se ele for condenado e a pena for maior do que dois anos, o contrato dele pode ser rescindido”, afirma Glaucia, na hipótese de aplicação da Lei 6.354. “Antes disso, não pode”, completa. Bruno se entregou para a polícia nesta semana e foi preso preventivamente. Mesmo nesta situação, ele não pode ser afastado.

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O que pode ter acontecido, acredita a advogada, é que, provavelmente, o contrato do goleiro foi suspenso. Isso porque, preso, Bruno não pode comparecer ao clube nem atuar. A lei diz que “não podendo contar com o atleta, impedido de atuar por motivo de sua própria e exclusiva responsabilidade, poderá o empregador ficar dispensado do pagamento do salário durante o prazo de impedimento ou do cumprimento da pena”.

Como prevê a legislação, se o goleiro for considerado culpado e se ele for condenado a mais de dois anos de prisão, o clube pode demiti-lo. Mas, mesmo se Bruno for inocentado, sua imagem estará afetada no “mundo da bola”.