Por que o mercado de trabalho brasileiro ainda está protegido da crise?

Estudo revela que empresas adaptadas à competitividade mundial e maior qualificação atenuam efeitos da crise

Flávia Furlan Nunes

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SÃO PAULO – Estudo realizado pelo economista da Área de Pesquisas Econômicas do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Antonio Marcos Hoelz Ambrozio, revelou os motivos que fazem com que a dinâmica no mercado de trabalho brasileiro continue positiva, enquanto demissões são realizadas ao redor do mundo por conta da crise.

De acordo com ele, transformações ocorridas a partir do fim da década de 1990 atuam no sentido de preservar os empregos. “A economia brasileira conta hoje com empresas adaptadas a um ambiente de maior competitividade, um regime cambial mais favorável para amortecer choques externos, bem como mudanças quantitativas no mercado de trabalho”, diz o estudo.

Dentre essas mudanças estão o aumento do grau da formalidade e a qualificação do profissional. A participação de profissionais pouco qualificados – que possuem menos do que o ensino fundamental completo – no emprego formal caiu de 33,5% em 2000 para 20% em 2007.

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Década de 1990

O estudo revela que, entre 1995 e meados de 1999, o nível de ocupação permaneceu relativamente estagnado, enquanto o número de desempregados alcançou um patamar muito elevado, decorrente das crises da Ásia e da Rússia. Porém, a partir do segundo semestre de 1999, houve aumento substancial do nível de ocupação.

Já o período de 2000-2003 foi caracterizado por uma recuperação da geração de emprego, embora com um nível médio de desemprego ainda elevado. O terceiro período analisado no estudo, de 2004 a 2008, por sua vez, conciliou novas vagas no mercado de trabalho com queda na taxa de desemprego.

O aumento do nível de emprego no período foi causado, principalmente, pelo crescimento econômico. Além disso, o regime de câmbio desvalorizado representou uma maior exposição da economia a uma pressão competitiva externa. “O esgotamento do processo de ajuste das formas à abertura econômica na virada dos anos 2000 foi um elemento importante para explicar a recuperação do emprego no período”.

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A crise

Os dados mostram que a atual crise financeira internacional vem tendo um efeito adverso sobre o emprego em diversos países, e seus reflexos começaram a ser sentidos também no Brasil. No último trimestre do ano passado, houve queda de postos de trabalho, mas o pesquisador analisou que foi muito mais por um movimento de não-contratação do que de demissão.

Isso mostra que existe mais o movimento de pausas no padrão de produção do que uma reversão no padrão de geração de emprego.

Para Ambrozio, diante de tudo isso, é bom observar que boa parte dos fatores que proporcionaram o crescimento do mercado de trabalho “não tende a ser afetada pela crise, ou envolvem mecanismos para atenuar o impacto da crise sobre o emprego”.