O que a teoria econômica tem a dizer sobre as negociações de salário?

Pesquisa recente mostra satisfação em ganhar mais que o colega, contrariando pressuposto da escola ortodoxa

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SÃO PAULO – Estudo elaborado por pesquisadores da Universidade de Bonn demonstrou que ter um salário superior a seus pares proporciona satisfação individual maior do que ter uma remuneração elevada em termos absolutos.

O resultado contradiz o pressuposto pela Teoria Econômica Clássica, pois confere maior importância aos ganhos relativos. De acordo com a linha tradicional, o homo economicus procura maximizar sua utilidade por meio de um salário real mais alto, sem necessariamente compará-lo à recompensa de outros cidadãos.

Armin Falk, um dos pesquisadores, resume o resultado da seguinte forma: “Segundo a linha tradicional, o aspecto mais importante é o tamanho da recompensa em si, e a comparação com os salários dos outros teria pouca influência. Nosso trabalho demonstra justamente o contrário”.

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Não à Teoria Clássica; sim à Geral

Muito embora a dissonância com a teoria clássica seja evidente e, portanto, o trabalho tenha insights importantes, suas conclusões não apresentam um caráter inédito.

Em 1936, quando da publicação da “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, John Maynard Keynes já alertara para a prática de indivíduos comparando seus salários nominais com o de seus pares.

Uma crítica antiga

Keynes, em uma crítica à idéia clássica de trabalhadores negociando seu salário real, propõe uma disputa pela determinação do salário nominal. E isso aconteceria não pelo fato de ilusão monetária, mas pela maior facilidade de comparação com outros indivíduos.

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Em outras palavras, o trabalhador negociaria o salário nominal não porque desconheça os impactos da inflação sobre o poder de compra, mas pelo fato de conseguir relacioná-lo com maior facilidade.

Segundo o próprio Keynes, “uma objeção (à escola ortodoxa) decorre da contestação da hipótese de que o nível geral dos salários reais seja diretamente determinado pelo caráter das negociações dos salários.” Ou seja, o trabalhador não negocia diretamente o salário real.

Isso porque “qualquer indivíduo que consinta uma redução dos seus salários nominais em relação a outros sofre uma redução relativa do salário real, o que é suficiente para justificar a sua resistência (à menor remuneração nominal)”.

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A contribuição dos pesquisadores da Universidade de Bonn à teoria econômica é inegável. Sua natureza inovadora, porém, talvez devesse ser atribuída ao lorde inglês.