Mulheres x homens: inserção feminina no mercado de trabalho é mais precária

Além disso, a responsabilidade das atividades domésticas atribuídas às profissionais influenciam diretamente em suas carreiras

Karla Santana Mamona

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SÃO PAULO – O número de mulheres que estavam empregadas ou à procura de emprego aumentou em dez anos. Em 1998, a taxa de ocupação era de 52,8%, enquanto que, em 2008, a proporção registrada foi de 57,6%. Já os homens se mantiveram praticamente estáveis no mercado de trabalho, passando de 81% para 80,5%.

Os dados fazem parte de levantamento realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e divulgado nesta segunda-feira (8).

Apesar do avanço da participação feminina no mercado de trabalho, as mulheres continuam em desvantagem, se comparadas com os homens, já que têm inserção mais precária e continuam com a responsabilidade de cumprir os afazeres domésticos.

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Tarefas domésticas
De acordo com o Ipea, em 2008, 86,3% das brasileiras com 10 anos ou mais afirmaram realizar atividades domésticas, contra 45,3% dos homens. Além disso, as mulheres gastam mais tempo com esses afazeres, em média 23,9 horas semanais, enquanto os homens gastam a média de 9,7 horas.

O estudo aponta que as tarefas são diferenciadas entre ambos os sexos, já que os homens tendem a realizar aquelas mais externas, como cuidar do jardim, carro ou as esporádicas, como pequenos consertos, enquanto as mulheres são incumbidas de tarefas mais intensas e cotidianas, como cuidar do filhos, limpar a casa, entre outras.

Desigualdade no mercado de trabalho
A sobrecarga nas atividades domésticas influencia diretamente na inserção feminina no mercado de trabalho. Isso porque elas procuram um emprego mais perto de casa, ou de jornada parcial, ou aceitam um trabalho apenas no caso de conseguir arranjos pessoais para cuidados dos filhos.

Os afazeres domésticos também interferem na possibilidade de ascensão no emprego, pois as mulheres têm menor disponibilidade para ocupar cargos de poder ou esbarram no entendimento de que não têm as mesmas condições dos homens. Mesmo que haja disponibilidade para participação, os esteriótipos associados às responsabilidades familiares não as colocam como potenciais candidatas a ocupar cargos mais prestigiados.

Além disso, o tempo de desemprego das mulheres é maior. Uma das explicações dadas pelo Ipea é a menor disponibilidade das mulheres para o mercado de trabalho e as condições impostas em aceitar um emprego devido às tarefas domésticas.

Teto de vidro
As desigualdades das condições de trabalho e da remuneração de homens e mulheres decorrem de diversos processos. Um deles é o chamado “teto de vidro”, isto é, a segregação hierárquica dos postos de trabalho, que resulta na baixa representação das mulheres em cargos de comando nas empresas. A representação é desproporcionalmente inferior à participação da força feminina, e é observada mesmo quando há mulheres capacitadas de maneira igual aos homens. 

Essas práticas organizacionais reproduzem o esteriótipo e as convenções atribuídas às mulheres, pois a ocupação de postos de poder demanda trabalhar em jornadas extensas, muitas viagens, e, portanto, maior tempo disponível para o trabalho.