Mercado de trabalho do Brasil só deve se recuperar após 1º tri de 2017

O alívio no quadro do emprego deve ocorrer por causa da melhora esperada para a atividade econômica

Reuters

Desemprego. Fonte: Shutterstock

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SÃO PAULO – O mercado de trabalho só vai dar os sinais iniciais de melhora após o primeiro trimestre do ano que vem e apenas em 2018 a massa salarial deve retornar para perto dos maiores patamares da história, vistos em 2015, estimam economistas consultados pela Reuters.

O alívio no quadro do emprego deve ocorrer por causa da melhora esperada para a atividade econômica. Neste ano, analistas ainda projetam uma retração no Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 3 por cento, mas avaliam que a economia brasileira deve se recuperar no ano que vem, embora com um crescimento modesto, de 1,30 por cento, segundo o último relatório Focus.

Enquanto a recuperação não se concretiza, a atual fraqueza da economia deve fazer o desemprego apurado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua subir e chegar ao pico de 12,4 por cento no fim do primeiro trimestre, segundo avaliação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

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“O mercado de trabalho não deve apresentar sinais de melhora neste ano. As demissões e os cortes de vagas devem continuar nos próximos meses”, disse o pesquisador do Ibre/FGV Tiago Cabral Barreira. “A taxa de desemprego sobe até o primeiro trimestre de 2017, e daí em diante vai começar a cair.”

O comportamento do emprego costuma ter um atraso em relação ao da economia. Nos momentos de desaceleração, é a última variável a apresentar piora. Mas também nos ciclos de recuperação, demora mais para retornar do que a atividade econômica.

Os últimos indicadores referentes ao mercado de trabalho mostram um quadro complicado. A Pnad Contínua apontou que a taxa de desocupação chegou a 11,8 por cento –o equivalente a 12 milhões de brasileiros sem emprego– no trimestre encerrado em agosto.

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A previsão do Bradesco indica um caminho mais lento na recuperação do emprego, com a piora seguindo até a metade do ano que vem. No auge da crise do emprego, o banco projeta uma desocupação de 12,5 por cento em meados do ano.

“Para que o desemprego recue é preciso que a ocupação cresça acima da PEA (População Economicamente Ativa), que hoje está rodando em 1 por cento, 1,5 por cento em termos anuais. E, por enquanto, a ocupação continua caindo”, disse o economista do Bradesco Igor Velecico.

Nas últimas semanas, o banco revisou a sua previsão para o mercado de trabalho por causa de uma análise mais pessimista sobre a economia brasileira. A recessão esperada pelo Bradesco para o PIB deste ano passou de 3 por cento para 3,4 por cento.

DESALENTO
A falta de uma perspectiva de melhora do quadro do emprego no curto prazo estaria causando um aumento das pessoas em inatividade, ou seja, aquelas que desistem de buscar recolocação no mercado trabalho.

Esse fenômeno se configura pela queda da população ocupada (PO) e pelo aumento da população não-economicamente ativa (PNEA). No trimestre encerrado em agosto, a PO recuou 2,2 por cento na comparação com o mesmo período do ano passado, e a PNEA subiu 1,3 por cento ante o mesmo período, de acordo com dados do IBGE.

“A queda da população ocupada mostra que as pessoas podem estar partindo para o desalento. Durante a atual crise, foram trabalhadores que tentaram entrar no mercado, mas estão desistindo e voltando para a inatividade”, disse Bruno Ottoni, também pesquisador do Ibre/FGV.

A desistência dos trabalhadores de procurar emprego é um forte sinal de deterioração do mercado de trabalho, mas, do ponto de vista estatístico, pode ajudar a não pressionar tanto a taxa de desemprego.

Antes desse movimento do desalento ganhar força, o Ibre/FGV chegou a projetar que a desocupação chegaria a 12,8 por cento.

MASSA SALARIAL
A crise do emprego e a redução na renda também têm provocado uma forte retração da massa salarial do Brasil. Em 2016, segundo estimativa feita pelo banco Santander, a massa salarial somará 175,3 bilhões de reais, uma queda de 4,5 por cento na comparação com 2015, quando foi de 183,58 bilhões de reais.

No ano que vem, o banco espera uma leve recuperação, para 177,4 bilhões, e apenas em 2018, ao atingir 183,6 bilhões de reais, a massa salarial voltará ao nível recorde do ano passado.

“A massa salarial vai continuar contraindo e essa tendência não será revertida no curto prazo”, afirmou o economista do Santander Rodolfo Margato. “As empresas estão fazendo um ajuste, com o pagamento de salários mais baratos para as pessoas recém-admitidas.”