Maioria das crianças entre oito e 12 anos já está preocupada com profissão

Pesquisa mostra que reflexão sobre carreira e sucesso profissional começa cedo entre os jovens no Brasil

Tércio Saccol

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SÃO PAULO – Escolher a carreira que vai seguir é uma verdadeira tortura para os milhões de vestibulandos que se submetem a exames todo semestre no País. Mas não só para eles. Quase 80% das crianças entre oito e 12 anos estão muito preocupadas com a futura profissão. É o que diz uma pesquisa desenvolvida pela empresa Rohde e Carvalho, com mais de 1,2 mil crianças, adolescentes e jovens de oito a 20 anos de todo o Brasil. Entre os chamados betweens – que tem entre oito e 12 anos – 76% decidiram que querem ter o próprio negócio.

A pesquisa ouviu estudantes em redes sociais e contatos em escolas. Participaram predominantemente jovens das classes A e B. Para a diretora da empresa, Suzana Carvalho, o alto índice está associado ao forte desejo de independência financeira para manter ou melhorar o status social. “Os jovens de hoje têm uma relação estreita com a tecnologia, e são mais impacientes. Querem uma rápida busca por sucesso e dinheiro”, destaca.

Sucesso, no entanto, não se traduz em satisfação profissional ou êxito entre todos os pesquisados. Na faixa entre 13 e 20 anos, chamada pela pesquisa de teen, 41% responderam que ser bem-sucedido equivale a ter boa remuneração no trabalho. Outros dados da pesquisa apontam que viajar e morar fora do País são desejo de 20% dos teens e de 24% dos betweens. Entre os dois grupos, 56% passam mais de três horas na frente do computador – sendo o principal objetivo o acesso ao Orkut e MSN (72%), YouTube (69%) e baixar música (65%). Mais de 90% dos dois públicos têm celular e acesso à internet em casa.

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Mudança de valores
Para a psicóloga Clarice Barbosa, a pesquisa mostra a clara influência da mídia nos hábitos e cultura atual nos jovens. “A cultura do consumismo se reflete nessa preocupação com a profissão desde cedo. A necessidade de cultivar imagem e status alimenta essa expectativa precoce”, destaca. Mesmo assim, a profissional lembra que é perfeitamente normal que os jovens projetem a carreira desde cedo, mas que isso deve obedecer alguns limites.

Para Clarice, o fator mais preocupante da pesquisa é a clara influência do ambiente familiar, que tem se transformado, com cada vez mais pais saindo para trabalhar e adquirindo mais (e mais caros) bens de consumo, criando um ambiente de estímulo à necessidade de acumular riqueza, e não de realização pessoal. “Sem perceber, eles acabam passando esses valores da necessidade de ter uma carreira que dê retorno financeiro, status e projetando seus anseios nos filhos, e essa ideia é comprada pelos jovens”, relata a psicóloga, recomendando maior atenção para as necessidades individuais dos jovens.

Suzana Carvalho lembra que “em outras pesquisas, verificamos que se compararmos o interior com a capital, temos no interior uma preocupação maior com estabilidade e nas cidades grandes a questão da aparência, de mostrar sucesso, é bem mais forte”. Na pesquisa da Rohde e Carvalho, o fator sucesso é considerado prioridade para os betweens – 23% deles pensam que não basta ter apenas um trabalho, mas ser bem-sucedido.