Limite ético deve pautar postura em seleção para empresa concorrente

Prudência ao transmitir informações e abordar histórico em empresa concorrente é orientação da diretora da Transition RH

Tércio Saccol

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SÃO PAULO – Em um mercado de trabalho aquecido como se verifica na realidade brasileira, procurar profissionais em algumas áreas é uma tarefa cada vez mais difícil. Em setores estratégicos como a indústria, poucas empresas concentram grande número de profissionais e, então, a busca por executivos e técnicos especializados se dá, exatamente, em uma concorrente.

Ao ser abordado por uma empresa concorrente, fica a dúvida, especialmente entre os executivos: como se mostrar aberto à possibilidade de ouvir uma proposta, mantendo o compromisso ético com o sigilo de informações ou, ainda, como relatar a experiência conquistada em determinado ambiente de trabalho, sem fazer menção a algo que comprometa a estratégia da empresa onde o profissionou atuou ou atua?

A sócia-diretora da empresa Transition RH, de recrutamento, seleção e avaliação de executivos, Marina Vergili, admite que há um limite muito tênue nesse contexto, e que a situação de ser chamado para uma entrevista em uma empresa concorrente é bastante delicada, mas recomenda prudência máxima ao profissional. “Evite falar números, se possível mencione apenas percentuais, e evite falar de lançamentos, novidades e planos. Mantenha seu foco na sua atuação, resultados conquistados e competências desenvolvidas”, recomenda a consultora.

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A orientação é generalista, mas cada segmento e empresa inspira maior detalhamento de sua realidade. “Claro que no caso de uma empresa de capital aberto, o faturamento é algo público, então não é necessário manter segredo. É preciso ter em mente que tipo de informação poderia prejudicar determinada empresa, e se abster de tocar nesse ponto no processo de recrutamento”.

Só o necessário!
A consultora aponta que, no caso de o executivo falar demais em um conversa ou diálogo com o recrutador, pode até ser descartado por não ter sido coerente com a expectativa com relação à sua postura profissional. “Afinal, se ele já sai revelando planos, ideias, metas e informações sigilosas sobre a empresa onde está, pode fazer isso com a empresa para qual pretende ir também, em outro momento”, identifica a especialista.

Focar no necessário e interessante especificamente para determinada entrevista é a dica da consultora. Ao tentar diversificar demais o assunto, alguns executivos acabam fazendo críticas ou comentários inoportunos sobre a gestão de pessoas ou o ambiente encontrado na última empresa. “É a mesma lógica que existe sobre o sigilo de informações. Se o profissional não valoriza o contexto que encontrou antes, desmerece a empresa, critica suas práticas, fica o clima de receio com relação à possibilidade de que ele faça isso novamente no emprego que está pretendendo, e isso, sem dúvida, compromete sua seleção”, avalia.

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Embora não seja uma prática comum, algumas empresas podem ultrapassar o limite da confidencialidade, e interrogar um profissional em processo de recrutamento sobre questões e pontos-chave de sua empresa no passado. Nesse caso, a recomendação de Marina Vergili é que o profissional seja claro. “Ele deve revelar que não se sente confortável ao compartilhar determinada informação ou questão, por entender que se trata de um ponto confidencial. Se a empresa continuar insistindo, ou colocar isso como uma questão fundamental, então o profissional deve entender que essa empresa talvez não esteja interessada na sua capacidade técnica, mas nas suas informações”, afirma.

Marina lembra que em algumas empresas e contratos, há até cláusulas de confidencialidade, para evitar a transmissão de informações exclusivas. Em alguns mercados, aponta a especialista, há “acordos de cavalheiros” que visam evitar a concorrência indiscriminada pela contratação de profissionais.

Passar para uma concorrente, no entanto, muitas vezes deixa a empresa abandonada com a ideia de “traição”. Essa é uma sensação difícil de ser evitada pelo próprio profissional, que não deve se sentir culpado, já que a transferência ou mudança é parte do processo de uma carreira, lembra Marina. A melhor orientação, nesse caso, é estabelecer o máximo de transparência e, na medida do possível, “deixar as portas abertas”, estabelecendo diálogo e apontando as razões pelas quais está se transferindo de empresa.