Intercâmbio: será que vale a pena deixar os destinos tradicionais de lado?

Viajar para o exterior pode ser altamente enriquecedor para o estudante, mas porque não considerar países da África e Ásia?

Viviam Klanfer Nunes

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SÃO PAULO – Ter um intercâmbio no currículo impressiona bastante na hora da seleção. Mas será que existe alguma diferença entre optar pelos destinos tradicionais, como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Austrália, e aqueles não tão comuns, como os países da África e da Ásia?

De acordo com o gerente educacional da CI, Gabriel Canella, os destinos tradicionais são os mais procurados, basicamente, por dois motivos. Primeiro, porque são os que concentram o maior número de escolas, oferecendo um leque maior de opções e, segundo, pois os interessados ainda têm bastante receio de viajar por um longo tempo para o exterior e, portanto, acabam procurando os destinos mais semelhantes à sua própria cultura.

A pergunta mais comum que os interessados fazem, na hora de decidir o destino, é o quanto essa ou aquela cidade é parecida com determinadas regiões do Brasil. “Eles sempre procuram destinos que sejam semelhantes aos locais onde moram”, afirma Canella. Já os que buscam especificamente programas de MBA (Master Business Administration) têm um perfil bastante claro. Selecionam a região de acordo com o status das universidades, ou seja, escolhem determinada cidade por conta da faculdade que pretendem cursar.

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Além disso, faz muita diferença se na cidade para onde vão localiza-se a sede da empresa na qual trabalham. “Se a pessoa quer aprender alemão e trabalha na Volkswagen no Brasil, provavelmente vai escolher a cidade alemã onde está localizada a sede da Volkswagen”, diz o gerente. Isso é interessante, pois podem conseguir um estágio na sede da empresa e ainda impulsionar bastante o networking.

Selecionando economias emergentes
Mas, apesar dos bons motivos, o mundo está mudando bastante e as economias que antes não eram tão importantes passaram a ser. É o caso dos Brics, acrônimo que se refere ao Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. À medida que esses países se tornam as economias do momento, vale mais a pena partir para um intercâmbio com destino a um desses locais.

“As relações entre os países do Brics tende a se aprofundar cada vez mais”, explica o diretor acadêmico Internacional da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), Sérgio Pio. Assim, vale a pena considerar os países fora da rota tradicional na hora de escolher o destino do intercâmbio. Além disso, praticamente todos os países já oferecem cursos – seja de extensão, especialização, cursos de verão e outras modalidades, em que as aulas são ministradas em inglês.

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Ou seja, você pode ir estudar na Rússia ou na China sem ter de saber russo ou mandarim. Pio ainda lembra que muitas escolas renomadas, como Harvard, por exemplo, possuem consócio com diversos países, sendo possível estudar com a metodologia de Harvard na Ásia. Tanto o professor quanto o gerente da CI reconhecem que já está aumentando sensivelmente o número de interessados nos países não tão tradicionais.

Além dos trabalhos voluntários
Por sua experiência, Canella afirma que, na África do Sul, o maior interesse ainda é daqueles que querem desenvolver trabalhos voluntários. Sem contar que é um destino muito mais econômico do que países da Europa ou América do Norte, por exemplo. Em relação à língua, apesar de o inglês ser o idioma oficial, assim como na Índia, é um inglês mais complicado e usa-se muito os dialetos regionais.

Isso, porém, não deve ser visto como um obstáculo, mas sim uma oportunidade de aprender a lidar com adversidades e diferenças. Esse é outro motivo que faz dos países fora da rota tradicional serem mais atrativos. Quanto maior for o choque cultural, mais interessante será o intercâmbio para o desenvolvimento da pessoa.

O que acontece é que o Brasil está muito alinhado com os Estados Unidos e também com muitos países da Europa, em termos de cultura, política, economia e padrões de consumo, para citar alguns pontos. Já em Dubai (Emirados Árabes Unidos), por outro lado, os códigos sociais são outros, o que proporcionará um choque cultural muito mais intenso. “O Brasil tem uma cultura americana. Por isso, seria muito mais interessante escolher um país da Ásia, África ou Oriente Médio, onde é tudo muito diferente”, avalia Pio.

Atualmente, é interessante avaliar que o ensino está bastante ‘comoditizado’, ou seja, as pessoas recebem as mesmas informações e aprendem as mesmas coisas. É importante analisar se não seria interessante entrar em contato com sociedades realmente diferentes do Brasil, com suas políticas e sistemas distintos. “Lidar com a adversidade e sociedades distintas pode ser altamente enriquecedor para o estudante”, diz Pio.