Home office: produtividade aumenta, mas ainda falta equilíbrio entre vida e trabalho

Há preocupação com elevada carga de trabalho, piora nas relações e perda do convívio

Giovanna Sutto

(Getty Images)

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SÃO PAULO – Passado mais de um ano desde o início do home office para parte dos profissionais do país, a percepção é de que a produtividade no dia a dia vem aumentando. Mas também há preocupação com elevada carga de trabalho, piora nas relações e perda do convívio.

“Novas Formas de Trabalhar: as adequações ao home office em tempos de crise”, uma pesquisa da Fundação Dom Cabral em parceria com a Grant Thornton Brasil, mostra que 58% dos brasileiros se sentem mais produtivos ou significativamente mais produtivos em home office. Em 2020, na versão anterior dessa mesma pesquisa, esse índice ficou em torno de 44%.

A pesquisa também buscou saber quais os receios para continuidade do trabalho remoto. Segundo 20,6% dos entrevistados, o maior deles é a perda de convívio social, seguida de maior carga de trabalho no modelo remoto (15,5%) e piora de comportamento por ausência de convívio (13,5%). O estudo teve 1.075 respondentes e foi divulgado nesta semana.

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“Na primeira edição da pesquisa, no início da pandemia em 2020, foi possível concluir que os entrevistados percebiam a experiência do trabalho remoto como positiva, mas já existia uma preocupação com relação à administração das tarefas de trabalho e das de ordem pessoal, tanto do ponto de vista organizacional quanto de relacionamento com as pessoas”, lembra Fabian Salum, professor da Fundação Dom Cabral.

“Depois de um ano, constatamos a concretização de alguns receios e como a percepção sobre o aumento da produtividade no trabalho remoto mostra seu custo, quando o assunto é equilíbrio e bem-estar. Os comentários dos respondentes apontam para um esgotamento mental, que envolve tanto a situação crítica própria da pandemia quanto os desafios mencionados anteriormente. Por isso, não podemos nos deixar seduzir pela alta produtividade. Faz-se necessários ajustes nos três níveis: organização, equipes e indivíduos”, conclui.

Falta de equilíbrio e bem-estar

Apesar da sensação de produtividade, a pesquisa revela que a percepção de equilíbrio e bem-estar do colaborador é negativa.

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Em 2021, observou-se uma redução na proporção de respondentes que concorda, ainda que parcialmente, com a afirmação sobre ter conseguido alcançar um equilíbrio entre demandas pessoais e profissionais com o trabalho remoto. Entre aqueles que discordam total ou parcialmente dessa afirmação, houve um crescimento de 78% de respostas entre 2020 e 2021, de 16,3% para 29%, sugerindo que esse equilíbrio é um desafio para uma parcela relevante dos profissionais.

Segundo os entrevistados, os principais obstáculos do home office são “maior volume de horas trabalhadas”, apontado por 24%, e “dificuldade de relacionamento” e “dificuldade de comunicação”, ambas com 16%. Para 14% dos respondentes, o “equilíbrio com demandas pessoais” é também uma das questões presentes.

A conclusão do estudo é que será preciso muita atenção sobre como os profissionais vão lidar com esse desequilíbrio e obstáculos do home office. “O excesso de trabalho observado na modalidade remota pode ser alienante, o que em longo prazo pode causar uma perda de propósito e sentido para o colaborador. A gestão do tempo e do espaço devem ser renegociadas e aprendidas, confirmando a necessidade de novos benefícios de contratos de trabalho, promovendo a adaptabilidade como competência essencial para este momento”, diz o estudo.

Mas as empresas também têm seu papel. “Essa pesquisa nos traz informações muito importantes sobre quais pontos devem passar a ser foco de atenção nas relações de trabalho a partir de agora, principalmente por parte das lideranças empresariais”, avalia Ronaldo Loyola, sócio da área de Capital Humano, da Grant Thornton Brasil.

“A experiência acumulada ao longo de um ano de trabalho remoto por conta da pandemia, com todo o processo de mudança ao qual a cultura organizacional foi submetida, precisa ser canalizada para a preservação do bem-estar na gestão do capital humano, a fim de manter o engajamento das pessoas com relação aos resultados da organização”, completa Loyola.

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.