Habilidades sociais são última linha de defesa de humanos em busca de trabalho

Programas de computador agora vêm imbuídos de habilidades sociais

Bloomberg

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(SÃO PAULO) — Dennis Mortensen, fundador de uma startup de tecnologia, tinha uma tarefa simples para Amy Ingram: marque uma reunião com uma jornalista.

Em minutos, Amy enviou um e-mail com a data e o horário de preferência e duas alternativas. Ela entrou em contato novamente no meio da noite, cerca de nove horas depois, já que não recebeu resposta: “Gostaria de programar essa reunião entre você e o Dennis”. Quatro horas depois disso, ela disparou outro e-mail: “Ainda não recebi um retorno seu a respeito dessa reunião. O horário é conveniente?”.

Alguns diriam que Amy é persistente, outros poderiam afirmar que ela é excessivamente agressiva ou até mesmo irritante. O que não se pode discutir é que ela cumpriu seu dever. A reunião foi programada menos de 24 horas após o pedido inicial.

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Amy Ingram é uma assistente pessoal virtual criada por Mortensen, de Nova York, e sua equipe na x.ai. Suas iniciais são as mesmas do termo inteligência artificial em inglês e seu sobrenome é uma referência a um modelo usado para ajudar as máquinas a compreender o discurso humano.

Sua obstinação é um exemplo da necessidade de imbuir esses programas de habilidades sociais, de modo que Amy vai continuar sendo um trabalho em andamento, disse Mortensen na entrevista programada por ela.

Polarização dos empregos

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Os esforços para tornar os agentes de inteligência artificial mais sensíveis ameaçam corroer uma das maiores vantagens competitivas dos humanos em relação aos robôs: a capacidade de invocar as competências sociais, incluindo interpretar os sentimentos de uma pessoa, gerenciar emoções, trabalhar em equipe e comunicar-se efetivamente, para concluir uma tarefa. A capacidade das máquinas de realizar tarefas rotineiras que não exigem um toque pessoal – como, por exemplo, aquelas desempenhadas por trabalhadores de linhas de montagem, atendentes de banco ou caixas de supermercados — está por trás da chamada polarização do mercado de trabalho, que tem contribuído para o esvaziamento das profissões da classe média.

David Deming, professor associado de Educação e Economia da Universidade de Harvard, descobriu que os empregos que exigem interação social estão crescendo em comparação com os que não a exigem e essas habilidades podem oferecer alguma proteção em relação à tomada do controle pelos robôs. Certas profissões de alto nível que requerem um conhecimento técnico e trabalhos menos especializados que podem ser feitos por uma fatia maior da população muitas vezes têm em comum uma necessidade de linguagem, criatividade, flexibilidade e destreza física, todas elas coisas que os humanos atualmente conseguem fazer melhor do que as máquinas.

Quase todo o crescimento do emprego desde 1980 tem sido em trabalhos que necessitam de habilidades sociais, de acordo com pesquisa de Deming publicada em agosto. Ocupações que requerem altos níveis de raciocínio analítico e matemático, mas poucas interações sociais – por exemplo, estatísticos e mecânicos – têm se “saído especialmente mal”, escreveu ele. Enquanto que o crescimento do salário real tem sido mais forte em trabalhos que exigem que os trabalhadores tenham matemática e habilidades sociais, tais como enfermeiros, designers e gerentes financeiros.

Futuro mais brilhante

Para David Autor, professor de Economia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts em Cambridge, que é considerado um dos maiores especialistas do campo de polarização de empregos, o futuro é mais brilhante, embora provavelmente haja algum sofrimento na forma de empregos perdidos ao longo do caminho. A automação tirou trabalho das pessoas — na agricultura, na indústria, na lavagem de louça — nos últimos 200 anos e a humanidade sempre se recupera, disse ele.

“As pessoas tendem a subestimar o fato de que, quando mecanizamos uma série de coisas, nós pensamos em todo tipo de coisas novas para fazer”, disse Autor em entrevista. A forma de responder “é por meio da nossa criatividade e também nos educando. Nós continuamos fazendo com que nós continuemos sendo importantes”.

Em resposta sobre como se sente pelo fato de Amy ser uma possível assassina de empregos, Mortensen disse rapidamente que poucas pessoas têm a sorte de contar com um assistente — e que ele está apenas tentando democratizar o trabalho.

A esperança é que os humanos deixem de perder tempo no “pingue-pongue dos e-mails”, disse Mortensen. “Eu ainda acho que há espaço para nós e no nível seguinte. Isso é apenas o que o meu lado otimista diz”.