CEO da Netshoes revela como transformou a loja de estacionamento em um império online

Aos 43 anos, o economista Marcio Kumruian acredita que gerir a empresa depois do IPO na Bolsa de Nova York é o maior desafio hoje

Giovanna Sutto

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 SÃO PAULO – “Acho que o maior desafio é sempre aquele que estamos enfrentando, e não os já superados”, diz Márcio Kumruian, fundador da Netshoes, em entrevista ao InfoMoney. Aos 43 anos, o economista administra um império online. E hoje, segundo ele, gerir a empresa depois do IPO (abertura de capital) na Bolsa de Nova York é o desafio em andamento.

A empresa de artigos esportivos nasceu em 2000 como uma loja de sapatos, em parceria com o primo do empresário, Hagop Chabab, em um estacionamento perto da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em SP, onde ele se formou. Márcio trabalhava em uma loja de calçados e resolveu se arriscar empreendendo com sua própria loja. Deu certo, e de lá para cá a empresa só cresceu e se transformou.

Em um primeiro momento, transferir as operações para a internet nem passou pela cabeça de Kumruiam. Tanto que a expansão inicial da companhia foi por meio de lojas físicas: oito filiais, uma dentro do Shopping Ibirapuera. Mas esse plano não funcionou.  

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O empresário assume que nem tudo saiu como o planejado durante o desenvolvimento da empresa. E destaca o erro com essa expansão física. A filial do Ibirapuera abriu em outubro de 2001 e, em abril de 2002 foi fechada. Em um momento difícil, quando o negócio não estava dando certo, o empresário foi forçado a procurar novos caminhos. Foi quando enxergou o valor da internet e encontrou uma nova oportunidade.  

Ele acredita que essa transição das lojas físicas para a internet – quando a empresa deslanchou – foi uma dos maiores desafios da Netshoes. “Tivemos que superar o insucesso da expansão das lojas físicas quando o negócio ainda não estava pronto para isso. Precisamos ser rápidos e práticos ao entender que não havíamos dado um passo correto e voltar atrás. Enfrentar o mundo online, descobrir como ele funcionava e construir uma plataforma de e-commerce confiável também não foi fácil”, comenta.

Com o estoque que havia sobrado das lojas físicas, os primos se arriscaram na internet. “É impossível prever o resultado de todas as ações que vamos realizar. Às vezes, temos que apostar, confiar no nosso instinto e arriscar para ver no que vai dar. E, quando não dá certo, temos que encarar como aprendizados que irão nos ajudar no processo das tomadas de decisão seguintes ”, acredita o economista, que é descendente de armênios.

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O desempenho da loja no mundo virtual foi bom logo no começo, e com o tempo foi crescendo cada vez mais. Durante cinco anos, o empresário seguiu com os dois modelos funcionando, até que em 2007, a empresa encerrou de vez a operação física.

A internet dava resultados expressivos (70% das vendas na ocasião) e não valia a pena manter sete lojas físicas abertas. “Construímos uma maneira de trabalhar praticamente do zero e tivemos que desenvolver uma logística diferenciada, que sustentasse o nosso novo modelo de vendas e permitisse que entregássemos o nosso maior asset: o melhor atendimento possível para o cliente”, conta o empresário.

Hoje a empresa vive a nova fase: no dia 12 de abril deste ano, a companhia fez o IPO na bolsa de valores de Nova York (NYSE). A Netshoes foi a primeira companhia fundada no Brasil a realizar o IPO exclusivamente na NYSE. Hoje a companhia engloba as marcas Netshoes, Zattini (e-commerce de moda) e Shoestock (e-commerce de calçados) e se tornou uma plataforma de compras online que tem operações no Brasil, Argentina e México.

A empresa parece ter acertado a fórmula do sucesso, e Kumruian credita as conquistas à “uma cultura que valoriza as pessoas e as estimula a terem um olhar de dono do negócio”, ao “inconformismo positivo que nos permite inovar e estar sempre a frente” e o “foco no cliente”.

Existe também outro fator determinante no sucesso da companhia, que é o aporte de quatro importantes fundos especializados em empresas de tecnologia: os americanos Tiger Global e Iconiq Capital (que têm Mark Zuckerberg, do Facebook, entre seus sócios), o Temasek, do governo de Cingapura, e o latino-americano Kaszek Ventures. Juntos, esses fundos têm menos de 50% de participação na companhia.

Em relação ao setor de varejo online, os dados provam a tendência: segundo o Ebit, em 2016, o setor faturou R$ 44,4 bilhões, com crescimento nominal de 7,4% e com um crescimento de 22% no volume de consumidores ativos, ou seja, pessoas que têm o hábito de comprar pela internet.

“Se considerarmos que, até 2021, 27 milhões de pessoas farão a sua primeira compra online – de acordo com uma pesquisa sobre o impacto digital nas vendas encomendado pelo Google -, temos ainda um grande potencial de penetração e crescimento para o varejo online”, explicou o CEO.

“E nós da Netshoes, assim como a maioria dos e-commerces nacionais, estamos trabalhando para impulsionar esse crescimento, com sites e aplicativos responsivos, que permitem a compra a partir de um clique, simplificando o processo e facilitando o dia a dia das pessoas”, complementa. 

Como ter um negócio e ser um profissional de sucesso

Segundo Kumruian, acreditar no seu negócio é essencial, mesmo com as dificuldades e os desafios que vão aparecer pelo caminho. Além disso, ele orienta para quem estiver começado agora, se cercar de pessoas que acreditem tanto quanto você e querem te acompanhar na jornada para o sucesso. “Os dois primeiros funcionários da Netshoes, Marcio e Marcelo Chammas, estão comigo até hoje e fizeram toda a diferença na nossa história”, revela. Outro ponto citado por ele, é a importância de ter um plano de longo prazo, foco nos resultados e “não se deslumbrar quando eles vierem”.  

Pensar no futuro é crucial, e é impossível sem pensar na tecnologia como ponto de partida, diz o empresário. “Não existem fórmulas mágicas, cada negócio é um, às vezes, a gente precisa acreditar nos nossos instintos para seguir em frente. O valor de uma marca é sua capacidade de se reinventar”.

E para ter um negócio de sucesso, é preciso ser um bom profissional. E segundo Kumruian, esse profissional “precisa não só estar disposto a enfrentar as mudanças que acontecem cada vez mais rápido no mundo de hoje, mas também querer fazer parte delas”. Além disso, é ter responsabilidade e saber trabalhar com autonomia, buscando executar suas ações com agilidade e entregando sempre a melhor qualidade possível farão com que você esteja um passo à frente de muitos concorrentes.

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.