Falta de qualificação e rotatividade ainda marcam mercado de trabalho

Diretor técnico do Dieese diz que, muitas vezes, empresas exigem mais qualificação do que o necessário para o cargo

Flávia Furlan Nunes

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SÃO PAULO – No mercado de trabalho brasileiro, continuam a perpetuar duas características: a falta de qualificação, que é um entrave para quem procura um emprego, e a alta rotatividade, de acordo com o diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), Clemente Ganz Luz.

Em relação à falta de qualificação, ele disse que ela é causada pela defasagem entre o conhecimento do trabalhador e a necessidade da empresa. “Predominam as ofertas nas áreas de serviços auxiliares, apoio, ajudantes. Muitas vezes, é demandado um alto nível de qualificação para um trabalho que não exige tal qualificação”, afirmou, em entrevista à Agência Brasil.

Segundo disse, com base em dados do Anuário do Sistema Público de Emprego e Renda 2008, divulgado na quarta-feira (29) pelo Dieese e o Ministério do Trabalho, há 18 milhões de desempregados* no Brasil e, desses, 4,5 milhões buscaram o Sine (Sistema Nacional de Emprego) no ano passado. Dos 2 milhões de postos ofertados, 800 mil foram preenchidos em 2007.

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Alta rotatividade

Uma outra característica apontada por Ganz foi a rotatividade, atribuída à flexibilidade do mercado brasileiro.

“Há total liberdade de demissão e contratação pelas empresas. Simultaneamente a isso, nos anos 1990 e, principalmente, nos primeiros anos da década de 2000, a rotatividade foi usada como forma de reduzir os salários. As empresas demitiam com um salário e contratavam um trabalhador por outro salário mais baixo”, explicou.

A rotatividade ainda pode ser explicada, de acordo com ele, pelas empresas ajustarem a demanda de produção à contratação ou demissão de funcionários, principalmente os de cargos como ajudantes, auxiliares e assistentes. No ano passado, 51% dos empregados formais foram demitidos sem justa causa e por iniciativa do empregador e 31%, devido ao término do contrato.

*Pessoas que se encontram em uma das seguintes situações: desemprego aberto, desemprego oculto pelo trabalho precário ou desemprego oculto pelo desalento e outros.