Falta de executivos faz profissionais de SP ganharem mais que os de Nova York

Pesquisa aponta que salários de profissionais do Brasil são maiores do que o recebido em países como Inglaterra e Hong Kong

Tércio Saccol

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SÃO PAULO – A falta de executivos especializados está fazendo o salário desses profissionais em São Paulo, ultrapassando, inclusive, os rendimentos de seus colegas dos Estados Unidos, Inglaterra, Cingapura e Hong Kong. É o que diz uma reportagem publicada pelo site da revista britânica The Economist, na quinta-feira (27), com base em um estudo da AESC (Associação de Recrutadores de Executivos, na sigla em inglês).

O levantamento foi elaborado para confirmar os dados de outra pesquisa – esta da consultoria brasileira Dasein Executive Search, que afirma que executivos e diretores têm maiores salários em São Paulo do que em outros países pesquisados. Para o gerente de Negócios da Dasein, David Braga, o resultado do estudo retrata um momento bem recente na economia. “Em 2008 fizemos uma pesquisa e mais de 80% dos executivos avaliavam que os salários brasileiros eram os piores”, lembra.

Para o diretor da divisão executive search da empresa Michael Page, responsável pelo recrutamento de altos executivos, Fernando Andraus, o fenômeno já vinha sendo percebido pelas empresas, principalmente as multinacionais. “Já se tornou uma barreira para clientes de muitos países. A questão cambial contribui muito para esse processo”, analisa, lembrando da valorização do real frente ao dólar nos últimos meses.

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Bons salários
Segundo os dados, o diretor de uma empresa em São Paulo teve, em 2010, remuneração média de US$ 243 mil. Um profissional com o mesmo cargo em Nova York recebeu salário anual de US$ 213 mil e em Londres US$ 179 mil. Em Hong Kong, a média de remuneração ficou em 97 mil dólares. Já entre os presidentes e CEOs, os que atuam na capital paulista recebem em média US$ 620 mil anuais, enquanto aqueles que trabalham em Nova York ganham US$ 574 mil. Em Hong Kong, são US$ 242 mil.

Fatores
O aquecimento econômico dos últimos anos, que se reflete com intensidade em áreas como infraestrutura e combustível, e a ausência de profissionais capacitados e especializados na quantidade demandada são os principais motivos para o fenômeno dos supersalários. Sem opções, as companhias se veem obrigadas a oferecer o maior número de benefícios para atrair os mais qualificados.

Fernando Andraus, da Michael Page, analisa o cenário. “Em muitos mercados, como os setores sucroalcoleiro, agronegócio e educação e saúde a profissionalização é muito recente, e há grupos familiares. Então, como há poucos executivos especializados, as grandes companhias vão em outras áreas buscar seus profissionais”, explica.

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David Braga acrescenta que a demanda por profissionais técnicos, sobretudo ligados à engenharia é muito urgente, mas lembra que só aumentar a quantidade de formados nestas áreas não será suficiente. “É necessário formar gestores, que compreendam o cenário da globalização e a cultura das empresas para atender a enorme demanda”, aponta.

Fenômeno
Para Braga, entre os maiores beneficiados da busca desenfreada por talentos estão os gerentes brasileiros que trabalham no exterior. “Eles têm o conhecimento da cultura local e o interesse na carreira”, pontua. Mas há espaço para o desenvolvimento de novos executivos no País, aponta Andraus. “Só que para esse profissional é básico conhecer a dinâmica do mercado financeiro, ter a cultura de governança corporativa e conhecer gestão”, aconselha.