Expatriados temem por falta de segurança ao chegar no Brasil

Mas quando vão embora, segundo especialista, levam boas lembranças do País e deixam de ter a visão de turistas

Karla Santana Mamona

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SÃO PAULO – Ser transferido para outra cidade pode ser considerado um tanto complicado para os profissionais. Agora, imagina mudar de país. Esta é a realidade de milhares de executivos que vêm para o Brasil desenvolver algum projeto ou trabalhar na filial brasileira de empresas multinacionais.

O último balanço divulgado pelo MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) revelou que, das 51.353 autorizações de trabalho emitidas entre janeiro e setembro do ano passado, 96% foram para profissionais com contrato de até dois anos no Brasil.

Segundo o MTE, o segmento de profissionais com mestrado e doutorado foi o que mais cresceu. “O que revela que esta mão de obra é altamente qualificada”, afirma o coordenador geral de Imigração, Paulo Sérgio de Almeida.

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Destino: Brasil
Estes profissionais vêm de várias regiões do mundo como Europa, Ásia e América do Norte. Muitos desembarcam em solo brasileiro sozinho, mas uma minoria traz, junto com a bagagem e o conhecimento, a família. O processo de expatriação de um profissional deve ser bem planejado pela empresa. É o que afirma a diretora-proprietária da consultoria especializada em expatriação, A Vida Bem Organizada, Alexa Miranda.

“A empresa não pode simplesmente trazer o profissional e deixá-lo. É necessário um processo de adaptação. A maioria dos profissionais volta antes do tempo previsto. Um profissional expatriado custa três vezes mais”. Vale lembrar que o contrato de trabalho tem validade de dois anos, podendo ser prorrogado por mais dois.

A volta destes executivos representa prejuízo para a empresa, que teve um custo com passagens, auxílio-moradia, auxílio-escola, planos de previdência, entre outros. “Nestes casos, o profissional também sai perdendo, tem um prejuízo emocional”, alerta.

Segurança e trânsito
Indiferentemente da nacionalidade, Alexa afirma que os estrangeiros chegam no Brasil preocupados principalmente com a segurança. Assustados com as notícias sobre a violência brasileira, muitos questionam sobre o bairro em que vão morar.

A escolha da moradia também é baseada pela proximidade com o local de trabalho. Eles optam por casas ou apartamentos perto da empresa. “Quando vêm sozinhos, eles se acomodam em apartamentos menores do que o de país de origem. Mas a preferência é por lugares que eles possam ir à pé, evitando o congestionamento”.

Em São Paulo, os bairros escolhidos geralmente são Alphaville, Cerqueira César, devido à proximidade com a Avenida Paulista, Itaim e Alto da Boa Vista. Na região do Grande ABC, eles optam pela cidade de São Bernardo do Campo, por conta da proximidade com as indústrias automobilísticas.

Quando a família está junto e os filhos estão na idade escolar, os expatriados querem escolas cuja grade escolar é a mesma dos EUA (Estados Unidos da América) e Inglaterra. Desta maneira, as crianças conseguirão retornar os estudos em seu país com mais facilidade.

Três fases
A especialista explica que a adptação dos estrangeiros ocorre em três fases. A primeira é o que ela chama de lua de mel, que apesar do medo da violência, os expatriados se encantam com as pessoas, com o clima, com as praias e com as atrações turísticas. “Eles são quase como turistas”. Esta fase dura até o primeiro mês.

A segunda etapa surgem as dificuldades, como compras nos supermercados, dificuldade de locomoção e de comunicação. Alexa explica que é neste momento que aumenta a saudade da família e a solidão por ainda não ter amigos.

Já a partir do terceiro mês, o executivo se sente em casa. Nesta etapa, ele se sente seguro, diminui o estresse da adaptação e ele começa ter uma vida normal. “No geral, quando eles vão embora levam uma imagem muito positiva do Brasil. Alguns tabus são quebrados”, finaliza.