Endividamento não preocupa governo, mas concessão de crédito deve ser vigiada

Afirmação foi feita pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, para quem o crédito está democratizando o consumo

Ana Paula Ribeiro

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SÃO PAULO – O governo ainda não está preocupado com o endividamento das famílias e deve manter a posição de estimular o crédito, para permitir o acesso a bens de consumo. A afirmação foi feita pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, nesta quarta-feira (30), um dia depois da Nota de Política Monetária do Banco Central mostrar que a inadimplência dos consumidores subiu 0,7 ponto percentual em um mês, atingindo 13,4% em junho.

Segundo Bernardo, se por um lado, “deve ser comemorado” o fato de o crédito passar de 22% para 35% do PIB (Produto Interno Bruto), entre 2003 e 2008, já que isso democratizou o acesso ao consumo, por outro, a expansão dos empréstimos e financiamentos deve ser vigiada, para não causar o descontrole dos brasileiros, que podem não ter condições de honrar com o pagamento das contas. “Achamos que nos últimos 12 meses [o crédito] cresceu muito além do que seria razoável, pois cresceu mais de 32%. Precisamos vigiar se não está havendo descontrole”, afirmou, segundo a Agência Brasil.

Para o ministro, embora a concessão de crédito tenha levado as pessoas a alimentar o mercado interno e a melhorar a economia, é preciso ter cuidado para que não estimule um endividamento excessivo, tornando-se um problema para as famílias depois.

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Inadimplência sob controle

Entre especialistas do mercado financeiro, há os que compartilham em parte da opinião de Bernardo, como o sócio da Partner, Álvaro Musa, para quem o nível de endividamento não é considerado alarmante nem deve fazer que o Brasil, futuramente, enfrente uma crise como a que atingiu os Estados Unidos. “Passou de 0,8 salário mensal para dois salários mensais, de 2004 a 2008”, afirmou, acrescentando que um limite tolerável de comprometimento é de quatro salários.

Sobre a concessão de crédito, Musa afirmou que, na verdade, ela está em fase de desaceleração, passando de um crescimento de 20% ao ano, de 2000 até 2007, para 14% no período de julho 2007 até o mesmo mês de 2008. “Quando a economia estabilizou, os consumidores tomavam os empréstimos sem poder pagar, mas, passados alguns anos e com a inflação controlada, isso passou”, explicou.

Já o economista-chefe da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), Marcel Solimeo, enxerga um aumento do risco de endividamento no fato do volume de crédito concedido ser maior do que a massa salarial. “Se isso continuar, teremos problemas sérios”, afirmou durante seminário realizado nesta quarta pela entidade.

Melhora na carteira de crédito

Mesmo com inadimplência mantida em níveis não preocupantes, um outro fator está levando bancos e financeiras a restringir a concessão de crédito: a alta da inflação, que faz que o brasileiro destine uma parcela maior do seu orçamento à aquisição de produtos básicos e, conseqüentemente, diminua sua capacidade de pagamento dos empréstimos.

De acordo com o vice-presidente da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), José Arthur Lemos Assunção, uma medida que está sendo tomada é a redução do nível de comprometimento da renda do cliente, aceito pelas financeiras, para o pagamento das prestações. “Já caiu o nível de comprometimento da renda, que era de 25% ou 30%, no começo do ano, dependendo do produto, e chegou a 20% ou 23%”.

Ainda segundo Assunção, o crédito consciente está ligado ao novo cenário do País. “O consumidor deve saber que, por causa da inflação, vai sobrar menos dinheiro no bolso para o pagamento de dívidas”, afirmou, adicionando que, à medida que persistir esse quadro inflacionário, a inadimplência pode subir.

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney