Empresa contrária a benefícios trabalhistas gera discussão no Facebook

Advogado trabalhista explica que não há irregularidade à primeira vista, apesar de ser “estranho”

Paula Zogbi

(Wikimedia Commons)

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SÃO PAULO – Uma empresa de tecnologia brasileira está sendo criticada nas redes sociais por conta de seu posicionamento com relação às regras trabalhistas vigentes e à separação entre trabalho e vida pessoal.

Com frases como “mesmo sendo contra nosso desejo/vontade, pois acreditamos que o governo administra muito mal o dinheiro que destinamos ao pagamento de impostos e encargos, nossa única forma de contratação atualmente é CLT”, a s1mbi0se passou a ser criticada por alguns usuários que prezam pelas normas vigentes, enquanto outros afirmam que seu posicionamento é apenas “sincero”.

Na aba “Forma de Contratação e Benefícios” de seu GitHub, a empresa afirma que benefícios “como Vale Refeição, Vale Transporte, Assistência Médica e Odontológica, dentre outros, são totalmente contra a nossa cultura e o nosso sonho, pois não incentivam em nada as pessoas a empreender ou correrem atrás de seus objetivos e sonhos”.

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Publicações como esta criticam o posicionamento da empresa e geraram discussões. Boa parte dos comentários indignados com o que leram na página.

De acordo com o advogado trabalhista Paulo Prandini, apesar de “estranho”, o posicionamento da empresa nesse sentido não é condenável perante a lei. “O único benefício que seria obrigatório seria o vale transporte, mas como o trabalho é remoto, não é necessário. Os demais benefícios, como plano de saúde e vale refeição, geralmente são previstos em acordo sindical e depende da categoria”, explica.

Cultura da empresa

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A página de cultura da companhia também trouxe uma discussão sobre a forma como as empresas de tecnologia têm tratado seus funcionários. “Nós esperamos que você dê tanto valor para essa empresa quanto seus fundadores dão a ela, mesmo que você (ainda) não seja dono dela”, diz o tópico “cultura de dono” da página da empresa.

Para Renata Gallego, da Meritor Desenvolvimento de Pessoas, “esta competição não tem fim e, em determinado nível, deixa de ser saudável, deixa-se de enxergar o outro, podendo além causar problemas mais sérios, como desencadear doenças. Além disso, é comprovado que o trabalho em equipe, em um ambiente colaborativo e agradável, gera muito mais resultado, não só do trabalho em si, mas nos resultados da empresa. Ninguém trabalha sozinho dentro de uma empresa”.

“O mais difícil nesse esquema de trabalho remoto é controlar o horário”, afirma Paulo. “Muitas vezes, você consegue provar que o trabalhador remoto fica disponível de madrugada, finais de semana, em regime de plantão, e isso dá direito a uma remuneração de horas extras”, comenta. Renata acredita que é importante dissociar o máximo possível o trabalho da vida pessoal: “é importante lembrar que é apenas uma parte dela, é a fonte de nossos rendimentos. O trabalho é a fonte de onde poderemos investir nosso dinheiro da maneira que for conveniente: quanto mais profissional for, sem interferência, provavelmente melhor será o trabalho”, afirma ela.

Entretanto, o advogado também vê ressalvas em relação à CLT como é hoje. “Muita gente da própria justiça do trabalho critica [o CLT], porque não tem uma flexibilidade. Por mais achemos que o trabalhador precisa ser protegido, a CLT está muito distante da realidade atual. Essas tecnologias são muito mal previstas e muito mal exemplificadas na lei”, diz Paulo.

Veja a página da s1mbi0se neste link

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney