4 tendências que todo profissional deve saber (para não ficar sem emprego)

Publicações e pesquisas indicam que 50% da força de trabalho mundial será freelancer entre 2025 e 2030. Nesta fase, espera-se que o desemprego atinja os 20% em nível global - quatro vezes mais que o nível atual  

Giovanna Sutto

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SÃO PAULO – O mercado de trabalho está se transformando devido ao desenvolvimento da tecnologia, que avança a passos largos. Para quem teme perder o emprego, pode soar como uma transição negativa, mas a verdade é que ela já começou. E os impactos de longo prazo serão enormes – a menos que os profissionais se preparem para isso.  

De acordo com um relatório da recrutadora Robert Half, intitulado “O Futuro do Trabalho”, fica quase impossível prever como será o trabalho em dez anos, já que não tem como saber quais são as tecnologias que vão revolucionar mais uma vez o setor ou a empresa em que cada profissional atua.  

Um outro relatório do Fórum Econômico Mundial, The Future of Jobs, corrobora com a ideia: 65% das crianças que estão no primário hoje terão uma profissão completamente nova no futuro. Muitas carreiras desaparecerão e outras serão substancialmente alteradas. Até 2030, espera-se que a taxa de desemprego salte cerca de 4 vezes, dos atuais 4,95% para 20%. 

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“Um dos problemas que impactam o mercado de trabalho hoje é que pouquíssimos profissionais têm ciência da proporção das transformações que estão acontecendo e por vir. Ou seja, não estão preparados para outras funções”, afirma Rodrigo Sahd, General Manager da Foursales Group no Brasil, especialista no recrutamento de talentos para a área comercial.    

Em termos globais, Danilo McGarry, especialista em automação e membro da Comissão Europeia de Inteligência Artificial, explica que as maiores tendências tecnológicas que impactarão o mercado de trabalho são Inteligência Artificial (AI, na sigla em inglês), Automação de Processos Robóticos (RPA, na sigla em inglês) e Blockchain.

“Não é uma surpresa. Todas já estão acontecendo e grandes nomes como a consultoria McKinsey, Havard Business Review, entre outras já discutem sobre esses tópicos”, diz.  

No Brasil, em meio a um cenário de tentativa de recuperação, após uma crise econômica severa, os profissionais cada vez mais precisam estar atentos às mudanças. O InfoMoney consultou especialistas que apontaram algumas das principais tendências do mercado de trabalho para o futuro. Confira:  

1. Funções com mais criatividade e análise crítica  

Para Sahd, a chegada da tecnologia no mercado de trabalho vai impactar principalmente cargos operacionais, “que não exigem a criatividade ou inteligência logica aplicada”.  

“Nesse processo, os postos de maiores impactos serão: atendente de call centers, vendedor porta a porta e outras posições em que exigem pouca análise crítica, pouca criatividade e cargos com pouca inteligência interpessoal, como por exemplo, o vendedor B2B de contas de pequeno e médio porte. Essas posições devem ser automatizadas no médio e longo prazo”, afirma, considerando o setor de vendas marketing. Segundo ele, os canais de venda estão com uma forte tendência de migração para o online.  

Essa falta de preparo para o futuro do trabalho também é reconhecida na falta de planejamento de carreira, e incapacidade de antever tendências para investir em conhecimentos novos, segundo Sahd. “Os profissionais brasileiros deveriam ser ‘earlier adopters’ de novas tecnologias relacionadas às suas respectivas áreas de trabalho, mas não são”, diz.   

Para a empregabilidade do indivíduo se manter alta é importante ter hábitos que façam com que se desenvolva rapidamente para o mercado, complementa.  

McGarry, da Comissão Europeia de Inteligência Artificial, diz que os empregos do futuro que devem começar a se destacar a partir de 2025 estarão espalhados em três grandes áreas:  

No mercado de tecnologia: como codificadores, desenvolvedores, arquitetos de softwareentre outros;  

Na gerência sênior: é difícil automatizar um executivo. A automação não tem habilidades interpessoais;  

Em cuidados humanos: enfermeiros, cuidadores de idososetc. No geral, as tecnologias obrigarão os humanos a pararem de realizar tarefas operacionais, para que se concentrem mais nas pessoas”, explica McGarry.  

Ainda, o relatório do Fórum Econômico Mundial aponta para um ganho de dois milhões de empregos em áreas como Computação, Matemática, Experiência do Consumidor, Engenharia e Arquitetura em até dez anos em cargos que demandarão criatividade e análise crítica. 

2. Substituição de funções  

A chegada de novas tecnologias inicialmente causará desemprego. Mas não em níveis tão drásticos quanto se especula hoje em dia. A razão para isso é que toda empresa e governo está em sua própria jornada em termos de educação e investimento nessa área, segundo explica McGarry. 

O especialista afirma que 90% das médias e grandes empresas de Países mais Economicamente Desenvolvidos (MEDC, na digla em inglês) terão aplicado inteligência artificial e RPA em seus processos atyé o final de 2019. “Com isso, o mercado de trabalho começará a ver mudanças significativas de forma acelerada já nos próximos dois anos”, diz.

“O esperado é que tenhamos dois grandes grupos de impacto: os que se adaptarão rapidamente e os que avançarão a reboque no processo, simplesmente absorvendo os impactosÉ crucial entender as movimentações de mercado e adquirir os conhecimentos necessários o quanto antes. As transformações oferecerão excelentes oportunidades para as empresas e profissionais mais preparados”, complementa Sahd, da Foursales 

A velocidade com que essas mudanças ocorrerão é incerta, pois depende da evolução tecnológica, das transformações no sistema educacional e da amplitude da mobilidade global dos talentos, explica McGarry.   

 

3. Fim do vínculo empregatício

Como resultado dessas mudanças de função e enxugamento de mão de obra nas empresas, o especialista da Comissão Europeia de Inteligência Artificial afirma ainda que mais profissionais se tornarão “consultores”, trabalhando em projetos e iniciativas individuais, mas ainda dedicadas a instituições específicas.

Em meados de 2022, a maneira de trabalhar começará a mudar novamente, criando um mercado de trabalho “freelancer”, no qual os profissionais trabalharão com muitas empresas, principalmente de seu escritório em casa. “A competição por menos empregos aumentará à medida que muitos profissionais se tornarem freelancers e investirem em sua própria marca pessoal e marketing”, sugere McGarry. 

O relatório da Robert Half  também aponta que o trabalho do futuro compreenderá a diversidade das empresas e dos estilos de vida dos profissionais. O contrato fixo de tempo integral dará cada vez mais espaço para modelos mais flexíveis de terceirização, outsourcing, serviços temporários e consultorias.

As empresas serão mais eficientes e diminuirão o tempo de resposta às demandas dos mercados, deixando suas equipes permanentes a cargo de atividades estratégicas. 

De acordo com o estudo Freelancing in America Survey, 50% da força de trabalho mundial será freelancer entre 2025 e 2030. Nesta fase, espera-se que o desemprego atinja os 20% em nível global – atualmente, essa taxa está em 4,95%.

4. Fluidez do ambiente de trabalho  

Outra tendência que o relatório da Robert Half mostra é o profissional que passa cada vez menos tempo em sua mesa e transita entre reuniões, viagens, home office e visitas ao cliente.

“Essas pessoas já compõem hoje parcela significativa da mão de obra global. No futuro, a conectividade vai permitir que tenhamos mais qualidade de vida, evitando picos de trânsito ou optando por horários mais flexíveis e adequados para o nosso estilo de vida e trabalho”, diz o texto.  

Esse processo vai atender duas demandas: dos trabalhadores que buscam mais equilíbrio, e das empresas, que se tornam mais eficientes e assertivas. 

Falta de educação X  investimento em tecnologia 

A impressão de que o Brasil está muito atrás quando se trata de novas tecnologias pode ser verdadeira, mas não é exclusiva. 

“O mundo em geral está atrasado em muitos aspectos quando se trata dessas tecnologias disruptivas. Os funcionários dos governos não entendem do assunto e, em geral, (por causa da falta de educação) não investem o suficiente no sistema educacional para garantir que o mercado de trabalho esteja pronto para as mudanças que estão por vir”, afirma McGarry.  

Ainda, segundo ele, os governos e empresas precisam começar a interagir mais e colaborar na maneira como coordenarão a transição dos empregos que serão substituídos ou afetados em grande parte por tecnologias disruptivas e como eles ajudarão a resgatar o mercado de trabalho a assumir novos empregos no novo setor.  

“Eu diria que o Brasil já tem grande talento no setor de tecnologia e é altamente considerado na codificação e desenvolvimento de domínios de software, mas como todos nós vimos na última década ou mais, o caminho ainda é longo”, diz McGarry.

“Uma coisa é certa, a teoria da Singularidade tecnológica, que diz que robôs substituirão os humanos não acontecerá tão cedo (pelo menos não pelos próximos 20 ou 30 anos)”, afirma.   

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.