Diplomacia: qual é o caminho para representar o Brasil no exterior?

O Instituto Rio Branco, que forma diplomatas, lançou edital com 26 vagas abertas. Para entrar, é necessário muita dedicação

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SÃO PAULO – O Instituto Rio Branco lançou edital para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata, com 26 vagas – sendo duas reservadas aos portadores de deficiência. “Ele é considerado o concurso mais difícil do país”, afirma a coordenadora da ESD (Escola Superior Diplomática), Cláudia Gonçalves Galaverna.

Em 2010, cerca de 8 mil candidatos em todo o Brasil se inscreveram para o processo seletivo, mas Cláudia lembra que esse número já chegou a 12 mil.

As inscrições no valor de R$ 150 começam nesta segunda (24), pelo endereço eletrônico www.cespe.unb.br/concursos/diplomacia2011, e vão até o dia 22 de fevereiro.

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Área de humanas é privilegiada
Para prestar o concurso, o Instituto exige que o candidato tenha uma formação em nível superior em qualquer área. “Humanas, exatas e biológicas podem participar. Eu tenho um médico estudando com a gente”, conta a coordenadora, que é formada em Economia e fez pós-graduação em Direito Internacional.

Porém, como a prova é muito focada, pessoas formadas em Relações Internacionais, Economia e Direito acabam tendo mais facilidade. “Letras, Publicidade e Jornalismo também saem na frente”, salienta Cláudia, “porque são áreas em que os profissionais escrevem muito bem”.

Os candidatos precisam conhecer profundamente o conteúdo das disciplinas e também saber transmitir esse conhecimento. “O diplomata é um funcionário de alto escalão. Ele faz assessoria para os principais órgãos do governo e produz muitos relatórios. Por isso, precisa saber escrever bem”, destaca a coordenadora.

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As quatro fases
Para um candidato entrar no Instituto Rio Branco, precisa vencer quatro etapas. A primeira é uma prova objetiva, com questões de Português, histórias do Brasil e mundial, Geografia, Política Internacional, Inglês, noções de Economia e Direito e Direito Internacional Público.

As três etapas seguintes são de provas escritas, sendo que a segunda é apenas de Português, e a terceira engloba todas as demais disciplinas da primeira fase. Já na última etapa, os candidatos fazem provas dissertativas de Espanhol e Francês.

Aplicado no estudo!
De acordo com Claudia, é muito difícil uma pessoa decidir ser diplomata e passar na prova sem muita dedicação. “Não subestimo ninguém, mas demanda um projeto de estudos e uma bagagem cultural extensa”, avalia.

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Ela acredita que o período de preparação deve ser feito de forma equilibrada. “Não adianta se ausentar de um cinema ou exposição, porque eles até fazem parte da prova. Mas uma viagem talvez seja melhor adiar”, aconselha.

Além disso, é importante o candidato avisar a família, o companheiro e os amigos sobre os seus planos, pois como exige muita dedicação, ele vai precisar do apoio e da compreensão, por conta de suas ausências. “É uma maratona. Mas depois vem a compensação que é a vitória”, pondera Cláudia.

Cursinho ou por conta própria?
Outra dúvida daqueles que desejam prestar a prova é se há necessidade de fazer um cursinho preparatório. “Antigamente, não existiam escolas nem professores especializados e levava cinco anos para uma pessoa passar no concurso. Hoje, um aluno leva em média dois anos, considerando que tem aquele que passa com um ano de estudo e o outro com até três”, contabiliza.

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Normalmente quem opta por não fazer um cursinho é porque não tem dinheiro, tempo ou é autodidata. “Eu sou uma pessoa muito autodidata. E o que eles tendem é estudar o que gostam”, explica. “Porém, esse concurso demanda objetividade muito grande, e o cursinho vai ajudar a se organizar e ter foco”.

Além disso, o curso preparatório ajuda a mostrar o que realmente a prova está pedindo, já que a bibliografia é imensa, daquelas para a vida toda, e é difícil fazer uma seleção sozinho. “Também ajuda a treinar a escrita para o estilo do Itamaraty, que é diferente do acadêmico ou jornalístico”, acrescenta.

Assim, aqueles que estudam por conta própria acabam levando mais tempo que os que procuram um curso preparatório, mas também têm chance de entrar para o Instituto.

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Trabalho x estudo
De acordo com Cláudia, é possível conciliar a preparação com o trabalho. Inclusive, quem trabalha costuma ter mais responsabilidade. “O índice de faltas na turma do sábado é menor do que da turma durante a semana”, explica.

Além disso, ela conta que costuma aconselhar aqueles candidatos que são mais ansiosos e não têm um psicológico bem resolvido a ter uma atividade paralela para aliviar a pressão. “Eu já vi um candidato super preparado que não passou, porque estava nervoso e na hora da prova deu um branco”, lamenta.

De qualquer forma, quem pode parar com o trabalho e se dedicar apenas para os estudos é um privilegiado.

Carreira construída passo a passo
Depois de aprovado no Rio Branco, o embaixador fará um curso que dura um ano e meio, e já no segundo semestre, inicia um estágio no Itamaraty.

A partir daí, a carreira será construída gradativamente. O aluno formado no Instituto Rio Branco torna-se terceiro-secretário, depois, segundo-secretário, primeiro-secretário, conselheiro, ministro de segunda classe e, então, ministro de primeira classe, que é o embaixador.

“A ascensão está mais rápida e demora menos de quatro anos para ele mudar de cargo”, afirma Cláudia.