Dekassegui: como garantir o futuro do seu filho durante a estadia no Japão?

Para quem planeja ficar por mais tempo, escola japonesa pode ser a melhor opção para o crescimento profissional futuro

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – A ida ao Japão foi bastante planejada, você e seu cônjuge avaliaram com cuidado os prós e contras desta decisão e, ao final, optaram por ir trabalhar no Oriente, buscando garantir um futuro melhor para a sua família.

Mas, nessa análise não avaliaram com cuidado a questão da educação das crianças. Seria melhor enviar as crianças para uma escola brasileira, cujas mensalidades podem ser elevadas, ou para uma escola japonesa, sob o risco da criança se afastar demais da cultura brasileira.

Do total de 23,6 mil brasileiros em idade escolar no Japão, 35,6% estudam em escolas brasileiras, 28% em escolas japonesas e 36% não estudam. No momento existem 70 escolas brasileiras no Japão, das quais 37 são reconhecidas pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) e 17 são reconhecidas pelo governo japonês.

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Quando pretendem retornar?

Como era de se esperar, não existe uma resposta única, é preciso avaliar caso a caso. Porém, uma variável é bastante importante na sua decisão: a duração da estadia no Japão. Para quem pretende voltar ao Brasil em dois ou três anos, as escolas brasileiras são a melhor opção.

Mas, é preciso estar com o bolso preparado, já que os custos variam entre 25 mil ienes, para período parcial, e 35 mil ienes, para período integral. Quem não tem certeza da duração da sua estadia, e quer colocar o filho em escola brasileira deve optar por uma das 17 escolas brasileiras que são reconhecidas pelo governo japonês.

Já quem não sabe ao certo quando pretende retornar, pode ter como melhor opção a matrícula do filho em escola japonesa. Dependendo da duração da sua estadia e da idade com a qual a criança chegou ao Japão, não há como garantir que, quando adulto, irá querer morar no Brasil. Tendo estudado em escolas japonesas, esse jovem terá maior fluência na língua e, conseqüentemente, maior aceitação no mercado de trabalho, de forma que pode ser mais vantajoso ficar no Japão.

Contato com a cultura brasileira depende dos pais

Boa parte dos brasileiros teme colocar os filhos em escola japonesa porque não quer que o filho “vire japonês”. Ainda que essa seja uma preocupação válida, sobretudo, para quem planeja voltar ao Brasil, cabe aos pais manter o contato da criança com a cultura brasileira. Assim, pais de crianças que vão à escola japonesa têm a obrigação e ensinar o português em casa, já que isso é fundamental para que mantenham a identidade com a cultura brasileira.

Realmente, os alunos de escola japonesa são mais expostos à cultura daquele país, mas isso nem sempre é ruim, já que a integração e o aprendizado mais rápido do idioma são pontos positivos que não podem ser ignorados. Além disso, essa é uma oportunidade única para se aprender um outro idioma, o que pode acabar sendo um diferencial no seu futuro profissional.

Nem lá, nem cá

Na prática, contudo, não é isso que se observa. Muitos filhos de dekasseguis chegam à adolescência sem ter fluência em nenhum dos dois idiomas. O fenômeno tende a ser mais freqüente entre os estudantes de escolas brasileiras, já que aqueles que seguem a escola japonesa ao menos garantem fluência no japonês.

Daí a importância de se planejar com cuidado a duração da estadia no Japão, de forma a oferecer aos seus filhos as melhores oportunidades de crescimento profissional. Um jovem que não é fluente no japonês, ou no português, terá muitas dificuldades para prosseguir seus estudos, o que comprometerá seu futuro profissional.

Educação superior é diferencial

No Japão, não é fácil entrar na faculdade, e quem não consegue romper essa barreira tem dificuldades para encontrar empregos fora das fábricas. No Brasil, entrar na faculdade não é tão difícil, mas nem sempre é garantia de um bom emprego, sobretudo, no caso de escolas com pouco reconhecimento pelo mercado.

Ainda são poucos os casos de filhos de dekassegui que conseguiram entrar na faculdade. Porém, o próprio governo japonês tem interesse nessa tendência, visto que, diante do envelhecimento da população e menor interesse dos jovens japoneses pelo trabalho, precisa garantir a reposição da mão de obra qualificada se quiser manter o crescimento da economia.

Assim, é possível que sejam criados mecanismos para facilitar o acesso dos filhos de dekasseguis às universidades. Mas, para aproveitar desta tendência, o jovem precisa ser fluente no idioma, e estar integrado à sociedade. Diante disso, os jovens fluentes em japonês podem ver na estadia no Japão uma oportunidade, enquanto os que estudaram em escolas brasileiras podem preferir continuar seus estudos no Brasil.

Por sua vez, os jovens que abandonaram os estudos para trabalhar em fábrica, e não planejam estudar na volta ao Brasil, certamente terão dificuldades no retorno, já que – sem qualificação específica – dificilmente encontrarão um emprego com remuneração compatível à que recebem no Japão. Em geral, esses jovens acabam voltando ao Japão, e, sem alternativa, seguem os passos dos seus pais, e continuam trabalhando em fábricas.