De boia-fria a dono de empresa que fatura R$ 2,5 bilhões: “só é competente quem reconhece limitações”

Vilmar Ferreira deixou de trabalhar na roça depois de levar um golpe de foice; hoje, administra uma empresa líder regional

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Até chegar à posição de presidente de empresa bilionária, Vilmar Ferreira trabalhou como boia-fria, pequeno comerciante e estoquista, no último caso ganhando um terço do salário mínimo da época. Hoje, a Aço Cearense, criada a partir de suas economias pessoais, fatura R$ 2,5 bilhões anualmente e produz 500 mil toneladas de aço, o que a consolida como líder regional.

Para ele, o segredo do sucesso é relativamente simples: humildade. “Só é competente quem reconhece suas limitações”, disse, em evento do meuSucesso.com realizado na última segunda-feira. “Se você reconhecer o que não sabe fazer, vai buscar alguém melhor para completar e isso valoriza seu trabalho”, continua. “Não tenha vergonha de ser humilde, dizer onde errou”.

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Vilmar, como diria o coach Edu Lyra, que também participou do evento, é um “filho da improbabilidade”. O cearense deixou de trabalhar na roça aos 15, depois de levar um golpe de foice que o feriu gravemente.

Vilmar foi salvo pelo pai, que fez uma promessa: o caçula nunca mais pisaria na roça se ficasse curado do acidente. Nesta época, ele já trabalhava havia 9 anos, e o incidente não o abalou.

“Ele tinha uma vaquinha e, através da venda dela, começou um pequeno negócio: comprou outros animais menores e revendia o que conseguia. Às vezes ele perdia todos os ovos que tinha quando levava para os clientes, ele passava muitas dificuldades”, disse sua filha e herdeira da Aço Cearense, Aline Ferreira.

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Depois de alguns anos ganhando o quanto conseguia dessa forma e enfrentando a adversidade de percorrer longas distâncias sempre que queria encontrar clientes, ele decidiu ir à capital do estado tentar algo maior. Na época, tinha 18 anos.

Chegando a Fortaleza, Vilmar começou trabalhando como funcionário de um primo, em uma loja que pagava um terço do salário mínimo da época. Mesmo com pouco, ele decidiu se aventurar no comércio – começou no mercado de bebidas, algo que seu pai reprimiu logo de início: “bebida não traz felicidade a ninguém”.

Vilmar seguiu o conselho do pai, saiu da bebida e definiu sua nova área. “Para mim, na época, foi muito natural optar pelo aço. Era um momento de crescimento do país, um negócio promissor”, relembra.

“Então eu fui até a Gerdau decidido a usar todas as minhas economias para comprar 50 toneladas de aço”, conta o empreendedor, em documentário realizado pela plataforma que organizou o evento. Vilmar precisou chorar na sala de atendimento da gigante siderúrgica para conseguir fechar negócio. “Eu disse: não saio daqui enquanto não conseguir”.

Crise

A companhia cresceu a ponto de ter quase 5 mil funcionários, número que a crise atual fez cair em cerca de 1400. “Tivemos que tomar decisões e demitir essas pessoas, mas já estamos trabalhando na recuperação. Pretendemos contratar 150 ainda neste ano, recuperar os 1400 nos próximos e crescer mais ainda no futuro”, diz o empresário.

Em falas ao público, fica claro que o trabalho para sair do momento de dificuldade econômica é realizado em conjunto entre pai e filha, Aline. Ela chegou à posição de sucessora do pai mesmo depois de, inicialmente, sofrer com o que Vilmar mesmo considerou “machismo”.

“Quando eu tinha oito anos, escutei ele dizer que queria ter um menino”, contou a administradora. “Foi isso que me fez buscar cada vez mais esse amor, lutar ainda mais”, garante. “Isso e o amor da minha mãe”.

E ela demonstra ter crescido firme. Mesmo com formação religiosa forte, Aline afirma possuir pragmatismo em momentos de dificuldade. “A gente precisa demitir aquela pessoa que não está produzindo dentro da empresa, que não dá certo, para conseguir um ambiente melhor para todos os outros”, comenta a também caçula, que conquistou a cadeira do pai por decisão de toda a família. “Quando o outro erra, você precisa olhar com os olhos dele e entender a dificuldade que deve estar sentindo”, conclui.

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Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney