Crise: CUT defende redução da jornada de trabalho, com salários iguais

"Vamos oferecer um cardápio de alternativas para que empresas possam analisar", disse presidente da Força Sindical

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – A crise trouxe à tona a necessidade de as empresas reduzirem gastos. A escassez de crédito e o menor nível de liquidez (dificuldade em transformar um ativo em moeda corrente) são os motivos. Devido a problemas de caixa, algumas empresas já começaram a demitir.

Por isso, esta semana, representantes de empresários e sindicatos apresentaram propostas de redução da jornada de trabalho, a fim de manter o nível de emprego. O presidente da Fiesp e do Ciesp (Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, por exemplo, defendeu a menor jornada de trabalho, mas acompanhada de cortes nos salários.

Em resposta, a CUT, que, há cerca de seis anos, pede a redução da jornada de 44 horas semanais para 40 horas, afirmou que não há necessidade de reduzir os ganhos dos trabalhadores.

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Argumentos

Segundo a CUT, o lucro acumulado por setores econômicos nos últimos anos, quando o cenário era de bonança, dá margem à redução da jornada de trabalho sem necessidade de reduzir salários. “Temos números consistentes que comprovam isso”, afirma o secretário-geral da CUT, Quintino Severo, para quem não haverá prejuízo para as empresas, financeiros e de competitividade.

Em sua opinião, é fundamental mencionar que o custo da mão-de-obra industrial brasileira, por hora, é de US$ 4,9. Na Dinamarca, esse custo é de US$ 35,5. Por sua vez, o economista Cássio Calvete lembra que a redução da jornada de trabalho sem redução de salário aumentaria o custo da mão-de-obra em 2%, o que seria absorvido em apenas seis meses, mediante o ritmo de crescimento da produtividade.

Cursos gratuitos

A Fiesp, através do Senai-SP, havia se comprometido a dar cursos gratuitos aos trabalhadores que tiverem redução de jornada e de salário. “Vamos levar os trabalhadores no tempo ocioso para nossas escolas ou treiná-los nas próprias empresas, sem qualquer custo”, afirmou o presidente da instituição.

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O Senai-SP criará, inicialmente, 100 mil vagas para cursos gratuitos profissionalizantes destinados aos trabalhadores que aceitarem diminuição da jornada, com redução proporcional de salário. “Uma grande vantagem ao trabalhador é a possibilidade de reciclagem e qualificação profissional em cursos que, em valores de mercado, seria muito difícil pagar”, enfatizou Skaf.

A Fiesp lembrou que a legislação atual permite que, por meio de acordo com o sindicato, as empresas possam reduzir a jornada de trabalho, com consequente redução dos salários.

Negociação

A Fiesp e a Força Sindical iniciaram, nesta sexta-feira (9), discussões para ajudar a conter a crise econômica e evitar demissões. O encontro reuniu, na sede da Fiesp, Paulo Skaf, e o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, além de representantes dos principais sindicatos paulistas ligados à Força Sindical. Foi um primeiro passo na busca conjunta por soluções para o setor.

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“Nossa grande preocupação, neste momento, é encontrar medidas rápidas, pragmáticas e objetivas, para evitar que as empresas sejam obrigadas a demitir funcionários. E há alternativas, dentro da lei, que podem amenizar os efeitos nocivos da crise no que diz respeito ao aumento do desemprego”, ressaltou Skaf.

Propostas

Tanto Skaf quanto Paulinho da Força acreditam que a redução da jornada de trabalho e dos salários pode ser uma das alternativas para os setores que foram ou ainda serão afetados pela crise. Ambos concordam que demissão é a última opção.

“Vamos oferecer um cardápio de alternativas para que as empresas possam analisar, caso a caso, e discutir com os respectivos sindicatos o quanto é necessário e o que pode ser feito para resolver sua situação”, explicou Silva.

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Segundo ele, a preocupação dos sindicatos é o fato de muitas empresas terem dado férias coletivas e licença remunerada aos funcionários. Na volta deles ao trabalho, podem ocorrer demissões.

“Há o risco de ocorrer uma enxurrada de demissões a partir da próxima semana. Então, a ideia foi discutir, sem nenhum preconceito, todas as alternativas dentro da lei que podem ser usadas pelas empresas para evitar que isso aconteça”, explicou.

Paulinho da Força lembrou uma recente entrevista de Skaf à imprensa na qual ele ressaltava a importância de não se mexer nos direitos dos trabalhadores. Mas disse que, para encontrar a solução ideal, é necessário que os dois lados, empresários e sindicatos, se sentem juntos para chegar a um acordo.

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Discussões não param…

Skaf lembrou que, desde o início de outubro passado, o setor empresarial já vinha sentindo o impacto da crise econômica mundial. Em primeiro lugar, por conta da falta de crédito. Depois, devido ao custo do crédito – problema que, em sua opinião, acabou se agravando porque o mercado externo passou a usar o crédito interno.

Fiesp e Força Sindical se comprometeram a retomar as discussões na próxima terça-feira (13). Desta vez, eles pretendem ampliar a reunião, com participação de representantes do Ministério e da Justiça do Trabalho, além da indústria e demais sindicatos.

O objetivo é chegar a um consenso em prol da manutenção dos empregos. “Queremos acalmar os empresários e pedir que esperem o acordo. De nosso lado, não há ameaça de promover greves. Ao contrário, vamos buscar alternativas para evitar o desemprego”, tranquilizou o presidente da Força Sindical. “Se fizermos um acordo em São Paulo, este poderá ser estendido para outros estados do País e, assim, conseguiremos conter o desemprego”, completou Skaf.