Com mudanças conjunturais, fazer carreira no exterior exige alta especialização

Dinâmica do mercado se inverteu: o Brasil passa a receber mais estrangeiros e muitos países estão com mercados fechados

Camila F. de Mendonça

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SÃO PAULO – O mercado de trabalho estrangeiro atrai muitos brasileiros, seja pela remuneração muitas vezes maior, seja pela oportunidade de conhecer um país diferente. 

“O interesse pelo mercado estrangeiro vem desde a década de 80 e se fortaleceu porque o mercado brasileiro estava desfavorável”, explica o professor do Instituto de Economia da Unicamp, especializado em mercado de trabalho, Cláudio Salvadori Dedecca. “Na época, as possibilidades de crescimento profissional em países desenvolvidos eram grandes. Mas esse cenário mudou”, enfatiza o professor.

Em dez anos, a economia brasileira cresceu, passou sem grandes consequências negativas por uma crise financeira internacional e fortaleceu o mercado de trabalho, até então esmaecido por uma economia mais dependente. Ao mesmo tempo, muitos países desenvolvidos, como os Estados Unidos, por exemplo, se perderam no caminho do crescimento e começaram a exportar profissionais.

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Para se ter uma ideia, os dados do Ministério do Trabalho mostram um forte salto no número de vistos de trabalho concedidos pelo Brasil a estrangeiros no ano passado. De 2009 para 2010, o crescimento foi de 30,5%. Ao todo, foram concedidos 56.006 vistos de autorizações de trabalho a estrangeiros. Na comparação com 2006, o crescimento foi de mais de 120%. Desse total, 7.550 profissionais vieram dos Estados Unidos. 

As mudanças conjunturais e estruturais do País e do mundo inverteram, em certa medida, a situação do mercado de trabalho global e geraram dúvidas em quem pensava em fincar carreira no exterior. É melhor ficar ou ir embora? A resposta para a questão, na avaliação do professor do Insper Marcus Soares é muito pessoal. “É sempre um ‘upgrade’ para a carreira ter uma experiência no exterior, apesar de hoje você conseguir permanecer no mercado brasileiro em boas condições”, afirma.

Onde estão as oportunidades
Ter ciência de como está o mercado de trabalho na sua área de atuação é o primeiro passo para analisar se o melhor a fazer agora é ficar ou ir para o exterior. No País, as portas estão abertas para muitas áreas. O número de contratações com carteira assinada registrou recorde em fevereiro. Os últimos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostram que foram geradas quase 281 mil vagas. E essa expansão atingiu praticamente os 25 subsetores da economia.

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Ao contrário, em países que costumavam receber muitos brasileiros, como os Estados Unidos, o desemprego, gerado muito por conta da crise financeira de 2008, ainda preocupa e mantém muitos mercados fechados. Para se ter uma ideia, no país, a taxa de desemprego ficou em 9% em fevereiro – ainda alta, embora o mercado tenha criado 192 mil postos no segundo mês do ano.

“O mercado lá fora está mais desfavorável e a atração por eles caiu significativamente”, avalia Dedecca. O professor cita que países como os próprios EUA e o Japão já apresentavam retrações de oportunidades mesmo antes da crise financeira. “Agora, esses mercados estão fechados”, afirma. Soares, no entanto, enfatiza que para profissionais altamente especializados, pode haver espaço em territórios estrangeiros.

Para ele, países como a Alemanha, por exemplo, ainda demandam profissionais de tecnologia. “Tecnologia, na verdade, é uma carência mundial”, explica. No Canadá e na Austrália, há postos para o setor de Serviços. “Países como Espanha, Portugal, Japão e grande parte dos países africanos ainda enfrentam crises profundas”, afirma o professor do Insper. Para Dedecca, os países do Mercosul também podem oferecer grandes oportunidades para os profissionais altamente capacitados.

Profissionais mais operacionais, contudo, perderam muito espaço na última década nos mercados internacionais. “A não ser que ele já pertença a uma empresa multinacional e tenha de ir para outro país atuar em nome dessa empresa, o espaço para quem tem baixa qualificação está muito restrito”, considera Soares. “Essas oportunidades ficam direcionados à população local”.

Dentre as áreas, os especialistas reforçam a oferta de oportunidades nas de tecnologia, engenharia, turismo e hotelaria e setores mais específicos, como o químico.

Ir ou ficar
Com o cenário atual, Dedecca, da Unicamp, aconselha os profissionais a esperarem um pouco mais e abraçarem as oportunidades que o Brasil passa a oferecer. “Mesmo um jovem profissional talvez não esteja disponível para enfrentar esse risco”, afirma. Mas é o risco que leva Soares, do Insper, a crer que o melhor é enfrentar qualquer desafio. “Quem tem vontade de fazer carreira no exterior não deve esperar. Os desafios que existem em outros países são grandes. E quanto mais cedo eles forem encarados, melhor é para o profissional”, avalia.