Com mais de 25 anos e em início de carreira: o que muda?

Não são poucos os jovens que saem tarde da faculdade. Para especialistas, idade não pesa, o que conta é a experiência

Camila F. de Mendonça

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SÃO PAULO – Recém-formado, o engenheiro químico Rodrigo Pereira Alves enfrenta uma rotina de processos seletivos em busca de uma vaga. Graduado em uma das instituições mais respeitadas do País, a Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), com inglês fluente, e alguma experiência na área, Rodrigo ainda não conseguiu uma oportunidade.

Embora a situação do engenheiro pareça semelhante à de muitos jovens que acabaram de sair da faculdade com pouca experiência no mercado, Rodrigo acredita que suas dificuldades advêm de outro fator, a idade. Ele tem 28 anos. “As empresas dão preferência para quem é mais novo”, diz o engenheiro. “Se eu tivesse entrado no mercado mais cedo, teria sido um pouco diferente”, acredita.

Depois de se formar, no primeiro semestre do ano passado, Rodrigo deu preferência a programas de trainee de grandes empresas, porque esse tipo de processo, dificilmente, exige experiência anterior. Entre dinâmicas de grupo e entrevistas, porém, ele constatou que a idade pesava no resultado final. “Agora eu estou focando em empresas menores”, afirma.

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A estratégia pode dar certo, uma vez que programas de trainee, de maneira geral, valorizam profissionais mais novos. “É mais fácil treinar uma pessoa crua, que passa por todos os setores da empresa”, avalia a diretora de Recursos Humanos da Trevisan Outsourcing, Priscila Soares.

“O programa de trainee é um investimento que a empresa faz em um jovem. A empresa prefere uma pessoa que se formou nos padrões normais de idade [entre 21 e 23 anos] porque ele termina o programa com uma idade em potencial para ocupar algum cargo”, afirma o coordenador de projetos de RH da FGV Projetos, professor Sergio Amad.

Para a gerente da V2 Recursos Humanos, Andrea Kuzuyama, a questão da idade não é um empecilho para recém-formados. Para ela, programas de trainee são ótimas oportunidades para esses jovens, independentemente da idade. “Na verdade, eu acredito que a questão é outra”, diz. A falta de experiência é o que pesa mais em qualquer processo, acredita. “As empresas tendem a buscar profissionais com um pouco mais de vivência”.

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Entrada tardia
A formação tardia e, consequentemente, a entrada tardia no mercado de trabalho deve-se a diversos fatores, de sociais a econômicos. Muitos estudantes conseguiram a oportunidade de se graduar tarde. Outros tiveram de largar os estudos no meio do caminho. As questões financeiras e de desorganização também entram na lista dos motivos.

Andrea também cita como fator a própria opção de alguns jovens em se dedicar mais à sua formação. A preferência, na avaliação da especialista, é válida. Contudo, é preciso ficar atento também à prática. “A teoria é ótima, mas a prática traz uma vivência que é muito importante, porque a rotina da profissão é diferente da teoria”, afirma.

No caso de Rodrigo, que entrou na faculdade com 19 anos, a formação tardia deve-se à programação da própria faculdade, cujos horários das aulas variavam entre manhã e tarde. Com isso, para conseguir estagiar, o engenheiro teve de deixar algumas aulas de lado – atrapalhando a grade. Durante o período, Rodrigo estagiou durante 1 ano e 8 meses na própria faculdade e por mais 8 meses na Companhia de Bebidas das Américas, a Ambev. Para terminar a faculdade, o engenheiro teve de abdicar do trabalho.

Essa situação, na avaliação de Priscila, não é recorrente. “Ao contrário, eu tenho visto muitos começarem cedo”, diz. “Hoje, a discriminação por idade é um conceito que está sendo quebrado aos poucos e já temos muitas mudanças de RH”.

Considerando o mercado de trabalho em geral, Amad também não observa tratamentos diferenciados entre aqueles com 20 e os que têm mais de 25 anos de idade. “A distinção não é tão forte nesse sentido. O que é mais marcante é a experiência”, afirma.

Assim como Priscila, o coordenador da FGV Projetos percebe que, cada vez mais, o mercado valoriza a experiência, principalmente entre os recém-formados. “As empresas preferem profissionais experientes porque, dessa forma, elas não têm de investir muito na formação desse jovem”, diz Amad.

Ele explica que, quando muito jovem e inexperiente, o recém-formado tende a procurar outras oportunidades no mercado. Com isso, todo o investimento em sua formação por parte das empresas é arriscado, porque não será aproveitado em benefício da empresa. “Como o mercado está aquecido, a possibilidade de se ir para outra empresa existe”, reforça Amad.

O que fazer então?
Para os especialistas, não existem fórmulas mágicas ou segredos para conseguir uma boa oportunidade no mercado. Rodrigo mudou sua estratégia. E aqueles que sentem dificuldade no mercado também devem avaliar sua situação e currículo e analisar se não é hora de mudar o foco.

“No fim das contas, a empresa busca resultados. Por isso, é melhor aproveitar a teoria, e ficar atento a como as coisas funcionam na prática”, aconselha Andrea, da V2 RH. “É preciso continuar investindo na busca. Uma hora acerta”, ressalta Amad.