Carro: sobe número de consumidores que compram o primeiro zero quilômetro

Dentre aqueles que compraram um veículo novo em março, 53,7% compravam o primeiro zero quilômetro, revela levantamento

Camila F. de Mendonça

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SÃO PAULO – Com o aumento da renda, do crédito e com o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) reduzido para automóveis, o número de pessoas que comparecem às concessionárias para comprar o primeiro zero quilômetro vem subindo gradativamente desde 2007.

De acordo com levantamento realizado pela Agência M. Santos, março não só registrou recorde no número de emplacamentos, mas também no número de pessoas comprando o primeiro carro novo. Ao todo, 53,7% dos que compareceram aos feirões realizados pela agência estavam comprando um zero pela primeira vez.

Em novembro de 2007, quando o levantamento foi iniciado, 43% declararam comprar um carro novo. Ayrton Fontes, especialista da agência, explica que o fator IPI reduzido não foi o único a influenciar nos resultados. A migração de parte do segmento que pertencia à baixa renda para a classe C também foi determinante.

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Tendência?
Segundo os dados coletados pelo especialista nos feirões organizados pela M. Santos, o número de consumidores que declararam comprar o primeiro zero alcançou 48,3% em agosto de 2008, passando para 49,2% no mesmo mês de 2009 e atingindo o maior pico registrado pela agência, em março deste ano.

De acordo com Fontes, porém, ainda é cedo para dizer se essa linha é uma tendência. “Estamos fazendo um estudo completo sobre isso”, ressalta. O especialista afirma, porém, que o aumento da renda e do crédito, independentemente do incentivo fiscal, já seria um forte fator para elevar o índice.

Dessa forma, o fim do IPI reduzido poderá afetar pouco essa linha ascendente. Ele já adianta que, mesmo sem o benefício fiscal, é provável que o número de pessoas que comprem um zero pela primeira vez se mantenha nos mesmos patamares do último mês.

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O pico e a base
O primeiro zero quilômetro tornou-se possível para muitos consumidores e os números não devem mudar tanto por conta das mudanças na pirâmide social do País. Santos lembra que a fatia que mais alimenta o mercado de automóveis é a que se encontra no pico da classe D, entre os que ganham até três mínimos, e na base da classe C, que ainda não ascendeu totalmente. “Com R$ 1,6 mil de renda, esse consumidor já consegue arcar com uma parcela de um carro novo popular”, argumenta.

E, mesmo sem IPI reduzido, o Brasil ainda tem mercado para os autos. Para se ter uma ideia, a relação no País é de um carro para oito habitantes. “O espaço é enorme”, considera Santos. Além disso, o especialista ressalta que o fator IPI contribuiu para que o consumidor tenha vontade de comprar um zero. “As montadoras gastaram milhões em publicidade”, lembra. Para Santos, a publicidade contribuiu para a compra por impulso. “Essas compras não foram planejadas. Antes, não era assim”, ressalta.

Essa falta de planejamento e a compra impulsiva elevaram as vendas em março. “O número de emplacamentos de março não é um número de mercado”, diz. No mês passado, o setor registrou recorde em vendas. Ao todo, 350 mil autos e comerciais leves foram vendidos. Com o fim do benefício fiscal, as vendas devem voltar aos números de “mercado”. Em abril, o especialista acredita que sejam vendidas entre 260 mil e 270 mil autos e comerciais leves.

“O esforço conjunto de marketing das montadoras, bancos e concessionárias, somado ao final do benefício do desconto do IPI e à facilidade do crédito fácil e farto, tem alavancado esse aquecimento, graças aos mais de 22 milhões de brasileiros que foram inseridos na nova classe média”, diz o especialista. “Nunca se anunciou tanto e nunca se vendeu tanto”.

Selic e minério de ferro podem barrar crescimento
Para o especialista, embora não dê para afirmar que seja uma tendência, o crescimento do número de pessoas que compram o zero quilômetro pela primeira vez pode se manter. “Mas se tudo continuar como está”. “Se não houver um acidente externo ou interno, tudo vai ficar bem”, acredita Fontes.

Dois fatores podem agitar o cenário externo e interno e quebrar essa linha registrada pela M. Santos: o preço do minério de ferro no mercado internacional e a Selic. Fontes explica que as montadoras são o segundo maior consumidor de aço, atrás apenas da construção civil.

Como o minério é a matéria-prima do metal e os preços desse produto estão subindo no mercado, é provável que haja um encarecimento dos custos das empresas na hora de montar um auto. Tal incremento deve ser repassado ao consumidor, cedo ou tarde. Para o especialista, se o preço do minério continuar subindo, o impacto será maior, o que barrará o aumento do consumo de zeros.

No cenário interno, Fontes acredita que um aumento da taxa básica de juro, a Selic, também poderá influenciar negativamente no acesso do consumidor ao carro novo. 

Crise
A estabilidade econômica – que gera emprego e aumento da renda e amplia o crédito – é determinante para que o consumidor deixe o usado de lado e opte por levar um zero quilômetro para garagem. Tanto é que, em dezembro de 2008, a M. Santos computou que, dos consumidores que foram aos feirões, apenas 18,7% declararam comprar um auto novo.

“Naquele momento, as novas regras impostas pelos bancos para os financiamentos haviam mudado radicalmente, em função da crise mundial, ou seja, o financiamento era escasso ou quase inexistente, uma vez que os bancos exigiam até 50% de entrada, mais uma comprovação efetiva de renda que não comprometesse 10% da mesma para saldar a parcela mensal do financiamento”, explica.