Carreira sênior: consultoria ou não, eis a questão

Ramo pode garantir mais de 30% de lucro, mas exige competências específicas de um executivo, que precisa estar certo da mudança para não se arrepender depois

Eliane Quinalia

mature man doing paperwork with a laptop in front of him

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SÃO PAULO – A carreira sênior chega e uma série de perguntas começa a rondar a cabeça do executivo. Agora, ao invés de se preocupar unicamente com a própria ascenção profissional, o mesmo passa também a ter outros questionamentos, como qual a forma de trabalho que lhe trará mais lucros ou lhe proporcionará mais tempo com a família.

E é justamente nesse momento que a consultoria entra em cena.

Indicada para profissionais com mais de 40 anos e que já tenham atingido um nível sênior em sua carreira, a consultoria costuma agradar gregos e troianos por sua forma liberal de trabalho. Contudo, tais características não significam necessariamente, que a mesma seja a melhor solução para todos.

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“Ela traz uma maior oportunidade de lucro, sem dúvida, mas não garante o sucesso do profissinal, especialmente se o executivo não tiver um perfil adequado para o trabalho”, explica o diretor Executivo da Ricardo Xavier Recursos Humanos, Marshal Raffa.

Segundo ele, de nada adianta entrar neste segmento apenas visando o lucro sem o menor preparo, já que o sucesso do profissional dependerá também de sua habilidade comercial e de sua carteira de clientes.

“O executivo não pode abandonar o barco e decidir ser consultor de uma hora para outra. É recomendável que haja um planejamento, pois todo o custo do trabalho passará a ser dele”, aconselha Raffa.

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O que muda
Ao deixar de ser um contratado direto da empresa, o executivo se transforma em um empreendedor e, como tal, precisa aprender a administrar o próprio negócio, de A a Z.

E não se engane, a tarefa pode ser mais trabalhosa do que se pode imaginar. “Ele terá que pagar os próprios tributos, ter um fundo de reserva para emergências, separar o dinheiro das férias, planejar sua aponsentadoria e, em paralelo, deverá prospectar clientes, entregar propostas, concluir projetos dentro do prazo e ainda garantir que terá outro contrato ao término de um projeto, sem intervalos”, avisa Raffa.

E acredite, tais ações podem ser fundamentais para determinar o sucesso do profissional na nova empreitada, especialmente no que se refere aos contratos. “O consultor deve ter mente que precisa ter outro contrato já firmado antes do término do projeto atual. Não pode haver lacunas, do contrário ele acabará com o lucro do trabalho e ainda terá prejuízos”, informa Raffa.

O risco
Quem também avalia o mercado é o headhunter da Michael Page, Marcelo Cuellar. Para ele, o trabalho de consultoria, em termos de risco, se assemelha a um investimento na Bolsa de Valores.

“Quanto maior o risco, maior a possibilidade de retorno. Por essa razão, um profissional que não tenha receio de se aventurar no mercado pode se dar muito bem”, explica o consultor da Michael Page.

Na opinião dele, carreiras mais sólidas também trazem crescimento, mas a ascensão pode acontecer de uma forma mais lenta. “O resultado pode ser menos potencializado” diz.

Mercado sem volta
Mas pense bem antes de deixar tudo para seguir no novo negócio, afinal, retornar para a vida executiva após a realização de um trabalho como consultor não costuma ser tão fácil. “As empresas podem imaginar que o profissional está tentando retornar por estar em uma fase ruim de projeto e que logo abandonará o negócio para retornar a vida autônoma”, conta Cuellar, que alerta ainda que muitas companhias mantêm uma visão errônea do que é um consultor e do que ele realmente faz.

“Tem gente que acha que consultor é o nome chique do desempregado”, conta Cuellar.

A conta
De qualquer maneira, se sua opção for pelo sim, fique atento! Para fechar um bom negócio de consultoria e sobreviver ao mercado, a primeira dica é firmar um bom contrato e acertar na hora da conta. Como? Fazendo o cálculo certo dos seus honorários ou do serviço executado.

“Para ter lucro o consultor deve fechar um contrato que lhe garanta uma remuneração 70% a 80% superior do que se fosse contratado difertamente pela empresa”, avisa Raffa.

Segundo ele, esse valor é necessário para garantir o pagamento de todos os gastos que o profissional terá por trabalhar por conta própria. “Ele não terá FGTS, bônus, deverá pagar o próprio INSS e ainda manter a empresa. Tudo será por conta dele”, lembra o diretor Executivo da Ricardo Xavier Recursos Humanos, que avisa que 10% a 15% desse valor precisa ser reservado para o capital de giro.

Na prática
E dessa conta, o administrador de empresas e consultor de Supply Chain Management (SCM) e de Módulo de Manufatura em ERP, José Edison Loturco, entende bem.

“Normalmente pedimos o dobro do que ganhamos como contratados de uma empresa para compensar os custos da consultoria. A ideia é que o consultor busque um lucro de, no mínimo, 30%”, conta o profissional que entrou no ramo há dez anos visando a continuidade de sua carreira após a aposentadoria.

“O começo não foi tão fácil, pois eu não tinha uma carteira de clientes já formada apesar da minha experiência no ramo. Mas isso mudou com o tempo”, explica Loturco, que ao invés de fechar contratos diretamente com grandes companhias optou pela prestação de serviços para a Complex, que atende estas empresas.

Atualização constante
E se você apostou nessa carreira e deseja se manter no mercado, lembre-se: um consultor precisa de experiência, inglês fluente e muito, mas muito networking. Além disso, maturidade também pode se revelar um fator primordial para quem deseja se dar bem neste ramo.

“O profissional deve se manter sempre atualizado e buscar cursos que possam ajudá-lo com isso. Ele também precisará ser flexível e paciente, pois o trabalho de consultoria costuma ser realizado em empresas de culturas diferentes”, completa Loturco.