Brasileiro ficou mais ético no trabalho após Lava Jato? Estudo explica as mudanças

 As empresas devem utilizar todos os recursos disponíveis para potencializarem essa mudança

Weruska Goeking

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SÃO PAULO – A implementação da Lei Anticorrupção e o andamento das investigações da Lava Jato reforçaram a preocupação das empresas com as questões éticas. Mas, na prática, como reage o profissional brasileiro diante da corrupção, fraude, desvios e má-conduta? Segundo um estudo realizado pela consultoria global Protiviti, houve impacto positivo sobre as atitudes dos brasileiros no ambiente corporativo. 

A pesquisa indica como os funcionários se posicionam quando estão expostos a dilemas éticos existentes no seu dia a dia do trabalho. De acordo com o levantamento, 47% dos trabalhadores denunciam atos irregulares no ambiente organizacional, enquanto 53% apresentam resistências por medo das possíveis consequências.

Na pesquisa anterior, de 2015, os números apresentados eram de 40% e 60% respectivamente. Esse crescimento de 17,5% de pessoas que denunciam atos ilícitos mostra que as pessoas começam a enxergar que a conveniência a atos antiéticos tem causas externas.

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“Embora as empresas estejam cada vez menos tolerantes a atos antiéticos e o profissional sinta que pode ser prejudicado por saber da ocorrência de ilicitudes e se omitir, o medo de exposição e retaliação por denunciar ainda está presente, mas a divulgação constante da Lava Jato promove a conscientização sobre a queda da impunidade em relação a atitudes não éticas”, explica Antonio Carlos Hencsey, líder da prática de Ética & Compliance na Protiviti.

O estudo também observa que 15% dos profissionais avaliados têm baixa flexibilidade moral, ou seja, apresentam valores morais internalizados e sólidos. Já 35% tem uma flexibilidade moral média baixa, ou seja, seus valores morais ainda são sólidos e estão ancorados num contexto afetivo-social maior, como família e amigos.

Outros 36% apresentam média flexibilidade, o que indica que possuem tendência a agir de forma correta, porém, em situações de pressão e não identificação de uma saída correta podem flexibilizar sua conduta.

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“Esses percentuais mostram que, caso a empresa estimule e dê condições para que ações éticas sejam tomadas, como um canal de denúncia anônimo, que contempla processos investigativos e tratamentos adequados, políticas claras e reflexões sobre ética frequentes, 86% da população interna tenderiam a agir de acordo com o que é correto.

Neste cenário, apenas 14% da população apresentaria um perfil somado de média alta e alta flexibilidades apresentando maior probabilidade de riscos. Porém, em empresas que não oferecem condições para que as pessoas se posicionem em relação a atitudes ilícitas, os 36% com média flexibilidade tenderiam a compactuar com atitudes ilícitas mesmo que não concordando com elas, elevando para 50% o potencial de risco vindo dos colaboradores”, explica Hencsey.

Outros índices positivos trazidos na pesquisa são que 63% dos respondentes não repassam dados sigilosos por medo de serem prejudicados no mercado de trabalho ou pegos atuando de forma irregular. Esse mesmo percentual (63%) dos entrevistados também não furtariam ou fariam mau uso dos bens materiais da empresa com receio de forte condenação social.

No quesito pagamentos e recebimentos ilícitos, 57% dos trabalhadores respondentes afirmaram que esta prática não faz parte de suas relações profissionais por receio de serem punidos, sem, contudo, demonstrarem um distanciamento moral relevante com essa prática. Além disso, a gratificação indevida é vista com maus olhos para 56% dos profissionais entrevistados pela Protiviti.

Vale ressaltar que quando abordados sobre o receio da punição em reportar aos superiores os erros próprios ou de terceiros, 66% dos profissionais deixam de denunciar. Isso mostra que ainda há falta de visão do colaborador sobre as consequências futuras pela omissão do ato e o descomprometimento em não se envolver com a missão e os valores da empresa.

A consultoria afirma que a análise deste ano traz duas conclusões inéditas. A primeira delas é que os profissionais brasileiros estão mais atentos a este momento nacional, e as empresas devem utilizar todos os recursos disponíveis para potencializarem essa mudança.

O segundo ponto está relacionado a uma nova maneira das companhias avaliarem os candidatos e colaboradores frente a dilemas éticos por meio de metodologias diferenciadas.