Brasileiro, ex-presidente Bayer Polímeros comenta obstáculos na Alemanha e crava: “existe preconceito no Brasil”

Theunis Marinho percorreu um longo caminho até sentar na cadeira de presidente da multinacional e hoje preside a ABRH-SP

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Os obstáculos de Theunis Marinho na carreira começaram cedo. Aos 29 anos de idade, escolhido pelo presidente da Bayer S.A como diretor de RH da empresa, foi desacreditado por seu antecessor e ainda chefe – para ele, “um menino de 29 anos, ainda por cima brasileiro”, não poderia ser uma boa escolha para o cargo. Theunis conversou com o InfoMoney e falou sobre o lançamento recente de seu livro, “Sonhar Alto, Pensar Grande”.

Trajetória

Quanto mais ascendia na carreira, maiores as dificuldades que Theunis enxergava em sua trajetória. Aos 36, já trabalhando na sede da companhia na Alemanha, o preconceito estava por toda a parte. “Certa vez estava conversando com um gestor sobre minhas dificuldades com o alemão, quando um outro funcionário, que não trabalhava diretamente comigo, me interpelou: ‘se você não sabe falar alemão, o que está fazendo aqui?’”.

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Theunis fez disso uma missão para a sua vida: “passei a assinar o jornal da cidade de colônia por um ano. Todos os dias, durante um ano, eu escolhia um artigo que me interessasse e traduzia e anotava 10 palavras para decorar. Isso aumentou meu vocabulário para 3600 palavras decoradas; se eu perdesse 10% da minha memória ainda teria 3240”, conta. Essa foi a ferramenta que encontrou para, mais que saber falar, dominar bem o idioma.

E foi assim que manteve sua postura durante os quase 30 anos que trabalhou na multinacional. “Aprendi uma coisa muito importante sobre subir na vida: é preciso ter resiliência, ser elástico, para chegar em algum lugar”, afirma.

“Aqui no Brasil as pessoas confundem com resignação, mas não é isso. É preciso aguentar a porrada, e para isso nada mais importante do que entender por que está aguentando tudo aquilo”. E completa: “é preciso ter meta e, principalmente, autoestima”.

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Brasil, preconceito e egoísmo

Depois da experiência na Bayer, Theunis decidiu, por motivos diversos, retornar ao Brasil, onde busca hoje “retribuir tudo o que aprendeu”.

Embora tenha passado grandes dificuldades fora do Brasil, ele acredita que o preconceito é ainda mais forte por aqui. “O mundo evolui positivamente, mas ainda existe preconceito no Brasil, existe racismo. Mesmo havendo miscigenação, o racismo aqui existe: a diferença é que ele é velado”, crava.

Mas a principal diferença que enxerga entre Brasil e Europa é quanto ao preconceito de gênero. “No Brasil tem um negócio muito mais grave do que na Europa que é a desigualdade de gênero: a mulher sofre mil vezes mais para se posicionar na carreira – ela é discriminada. É muito mais difícil para ela subir”, explica.

Há pesquisas que confirmem: enquanto a média geral de cargos de alto escalão ocupados por mulheres nas empresas ao redor do mundo é de 24%, o Brasil tem essa média geral em apenas 19%, de acordo com a pesquisa International Business Report. “Isso é algo que devemos buscar mudar, principalmente considerando que as mulheres são 51% da população brasileira, mais da metade”, ele advoga.

Theunis também traça um panorama de personalidade dentro das empresas que auxilia e diagnostica: o trabalho em equipe está prejudicado pela falta de conexão com as empresas. “Acho que hoje as pessoas têm menos compromisso com seu trabalho. Antes você fazia carreira nas empresas, hoje as pessoas pulam de empresa em empresa. Você tem foco em resultado pessoal, não em equipe”, analisa.

Para ele, um dos grandes problemas dos países latinos em geral – “e isso inclui o Brasil, mas também o Portugal, a Itália e outros” – é o individualismo, que gera desconforto e problemas para empresas e equipes.

“Do lado artístico isso é positivo: pode ser na arte, na moda, no design, eles tiram coisas positivas disso. Mas para empresas é diferente”, explica. “O povo nórdico é mais coletivista – morei em uma vizinhança onde os vizinhos iam avisar caso a grama estivesse malcuidada para padronizar o bairro. No Brasil, isso não aconteceria, aqui é cada um por si”, analisa o executivo. “Dessa forma, jogando sozinho, o time não ganha. Ele pode fazer 2 gols, mas toma 3”.

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney