Ascensão socioeconômica de pessoas negras avança, mas ainda é baixa; empreendedoras mostram caminhos

Conheça as histórias de Luana Génot, fundadora do Instituto Identidades do Brasil, e da empreendedora Camila Farani, um dos “tubarões” do Shark Tank

Alexandre Rocha

A empreendedora Camila Farani (Divulgação)

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Pessoas negras têm desafios adicionais para ascender dentro das empresas ou empreender, derivados do racismo estrutural no Brasil. Luana Génot, fundadora e diretora executiva do ID_BR (Instituto Identidades do Brasil), percebeu isso quando trabalhava como modelo. Recebia menos e não conseguia os trabalhos de maior destaque, como as capas das revistas.

“Era podada do acesso na moda, mas isso vale para qualquer coisa”, disse ela no painel “Os desafios da população negra na ascensão socioeconômica”, realizado neste fim de semana como parte da conferência online Juntos 2021, organizada pela consultoria McKinsey.

“Em cinco anos, aumentou muito a conscientização, nunca se falou tanto da inserção de jovens negros no mercado, mas agora falta fazer”, acrescentou a empreendedora Camila Farani.

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No debate mediado pela jornalista Adriana Couto, Farani deu uma ideia da dimensão do racismo estrutural arraigado na sociedade. Ela conta que não gostou da boneca negra que ganhou do pai quando tinha quatro anos, pouco antes de ele morrer. “Se é meu lugar de fala, eu tenho que falar”, declarou.

A empresária disse que já se sentiu uma impostora, seja pelo fato de ser negra ou de ser mulher, e quando começou a participar do programa de TV Shark Tank, houve quem achasse ser por causa de alguma ação afirmativa.

A atração coloca aspirantes a empreendedores frente a frente com potenciais empreendedores. Farani conta que fez um de seus investimentos numa fabricante de bonecas negras.

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“Na área de tecnologia, investidores anjo negros são 0,5%, conta-se nos dedos, mas a associação entre mulheres negras vem crescendo. Olhem para isso com mais atenção”, comentou a empresaria.

Farani começou cedo nos negócios. Aos 16, foi trabalhar na tabacaria da mãe, propôs começou a vender café gelado, o faturamento cresceu 28%, e ela passou a ter uma participação de 15% na empresa. Foi o seu “gatilho” para o empreendedorismo.

O “gatilho” de Génot foi a percepção de racismo mundo da moda, pois ela não pensava em ter negócio próprio. A ex-modelo conta que estudou Comunicação no Rio e fez pós-graduação nos Estados Unidos.

As participantes comentaram que, de 2010 a 2019, o número de negros nas universidades cresceu 400%.

“Somos uma primeira geração de negros com ensino superior, mas não queremos mais ser geração de primeiros”, disse Génot.

Ela ressaltou que o país está acostumado com histórias de superação, mas a ascensão de pessoas negras tem que passar a ser o normal. “Pense melhor em quem você vota”, observou.

Mais do que estudo e cursos de trainee exclusivos para negros, Génot disse que pessoas negras necessitam estar presentes nas diretorias e nos conselhos das empresas.

Nesse sentido, Farani comentou que faz parte do comitê de ESG do Banco Modal. A sigla faz referencia à adoção de princípios ambientais, sociais e de governança. “Precisamos ‘walk the talk’”, disse. Ou seja, fazer o que falamos.

Pandemia

As debatedoras destacaram que a Covid-19 escancarou desigualdades. “A pandemia catapultou todos os buracos”, afirmou Farani.

Génot acrescentou que a pandemia deteriorou a saúde financeira de mulheres negras, que já não tinham reservas e nem apoio. Quem empreendeu, fez por necessidade, não por opção.

Génot disse que solidão e sobrecarga são “dores comuns” de mulheres negras empreendedoras. “São necessárias mais políticas públicas e privadas”, declarou. “O problema do Brasil não é só social, é racial”, destacou.

Nessa linha, as participantes fizeram recomendações para quem quer empreender. Ter equilíbrio emocional, autoconhecimento, recorrer a mentorias – se possível -, pesquisar o mercado e as opções financeiras, e planejar.

“Não ir só no que o mercado está dizendo, mas fazer o que faz sentido para você”, observou Génot.

Farani recomendou o método “ABZ”. Tenha um plano A com dez a 15 objetivos a serem atingidos em 12 meses, um plano B com apenas cinco e um plano Z com “se nada disso der certo, para onde é que eu vou”. Ela acrescentou que está oferecendo vagas em seu curso Código Farani de formação de empreendedoras.

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Alexandre Rocha

Jornalista colaborador do InfoMoney