Analista CNPI: por que o profissional é o mais procurado pelo mercado financeiro?

Função é considerada a porta de entrada para quem busca atuar no mercado financeiro com ganhos mensais de até R$ 8 mil, segundo a Apimec

Martha Alves

(SHutterstock)

Não é necessário fazer muitas contas para perceber que o número de analistas com CNPI (Certificado Nacional de Profissional de Investimento) não é suficiente para atender a demanda do mercado de capitais no Brasil.

Masterclass

O Poder da Renda Fixa Turbo

Aprenda na prática como aumentar o seu patrimônio com rentabilidade, simplicidade e segurança (e ainda ganhe 02 presentes do InfoMoney)

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Em abril (dado mais atual), a B3 registrou a marca de 6,1 milhões de investidores pessoas físicas cadastrados contra apenas 1.302 profissionais certificados pela Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais). Quem já possui a certificação ou está no caminho para obtê-la tem um vasto campo a explorar.

Natasha Pradella, head de Educação da TopInvest, diz que o CNPI é uma certificação que oferece várias oportunidades na área de consultoria financeira e de investimentos. Ela mesma possui CNPI e, antes de virar professora da escola de cursos preparatórios, buscou a credencial de olho nas oportunidades de trabalho em bancos e corretoras.“Quem chega [para investir] tem que saber o que é o mercado financeiro e precisa de profissionais para dar recomendações [de investimentos].”

Márcio Gropillo, head de recrutamento e sócio sênior da Korn Ferry, avalia que a demanda pelo profissional está relacionada com a mudança de cultura dos brasileiros, que perderam receios antigos de investir na bolsa de valores.

Por outro lado, Gropillo diz que os novos investidores demandam mais pela orientação dos CNPI porque ainda têm dificuldades para entender os produtos, como se comportam e quais são os fatores de risco que podem levá-los a perder dinheiro.

O head de recrutamento ressalta que o CNPI é apenas a porta de entrada na profissão, que exige do analista de investimentos um aprendizado contínuo. Para se destacar e crescer na profissão, Gropillo afirma que alguns soft skills são fundamentais, como:

“Uma das habilidades mais importantes é a capacidade de comunicação porque o profissional vai lidar com dados e gráficos que o seu interlocutor talvez não domine. Uma comunicação bem clara e objetiva é absolutamente fundamental.”

Já o bom diagnóstico de potencial de risco evita erros na recomendação de um produto ao cliente.

Sobre a capacidade analítica, o executivo afirma que o conhecimento e domínio de softwares possibilitam ao profissional mostrar históricos de resultados. “Com as informações nas mãos, ele vai poder dar as melhores indicações de investimentos ao cliente.”

Na avaliação de Gropillo, o que o mercado procura do analista de investimentos CNPI é a junção do soft skill com os conhecimentos técnicos.

Certificação CNPI

Quem pretende trabalhar como Analista de Investimento precisa ter uma das três modalidades de certificação CNPI, que habilitam o profissional a recomendar investimentos na B3. São elas: analista fundamentalista, analista técnico ou análise fundamentalista e análise técnica (trabalha com relatórios).

Elas são concedidas pela Apimec (Associação de Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais).

Francisco D’orto, diretor de certificação e educação da Apimec (Associação de Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), diz que o requisito para tirar a certificação é ter ensino superior completo em qualquer área. “Mas é necessário ter afinidade com cálculos matemáticos”, diz.

Para conseguir o CNPI, o candidato deve fazer a prova elaborada pela Apimec aplicada em todo território nacional nos centros de testes da FGV (Fundação Getúlio Vargas). No ano passado, dos 2.627 inscritos 1.453 conseguiram ser aprovados nos três exames.

O analista de investimento que obtém a certificação tem um salário inicial de R$ 3.500, que pode chegar a R$ 8.000, dependendo da região em que atua e da categoria, segundo a Apimec.

O analista de CNPI Marco Saravalle, sócio-fundador da SaraInvest, diz que o profissional tem espaço em bancos, corretoras e pode atuar como analista independente.

Segundo Saravalle, o crescimento o número de investidores pessoa física no Brasil ainda é pequeno se comparado a países como Estados Unidos e Reino Unido. Por isso, ainda há espaço para o mercado dobrar de tamanho e com mais oportunidades para quem atua no setor.

Saravalle ressalta a necessidade de os profissionais, sobretudo os que estão começando na área, se manterem atualizados sobre o mercado. “Se manter antenado com notícias do mercado financeiro muitas vezes é mais importante que os cursos”.

De acordo com o analista, os principais soft skills exigidos pelo mercado são:

Ele explica que hoje não basta apenas entregar um relatório em PDF. O profissional tem de explicar os dados em vídeo. “Não existe um analista hoje que não se exponha através de um vídeo: o relatório agora é [em vídeo].”

Saravalle, que começou em 2000 no mercado quando ainda nem existia a CPNI, da Apimec, aconselha ainda que os profissionais busquem cursos, especializações, certificações complementares, além de reverter lacunas sobre a exposição em público.

O domínio das novas tecnologias de ciências de dados é outra habilidade fundamental. “Quem não tem esse tipo de habilidade fica para trás”, reforça.

Competição com influenciadores

Na opinião de Saravalle, um dos grandes desafios enfrentados pelos profissionais da área é a competição com os influenciadores do mercado financeiro, que são vistos nas redes sociais como analistas. Pesquisa da B3 mostra que 75% das pessoas que começaram a investir no Brasil buscam informações em canais tocados por influenciadores. Saravalle estima que existem mais influenciadores que analistas cadastrados no mercado.

Na opinião do sócio da SaraInveste, muitas pessoas estão desistindo de tirar a certificação e preferem ser influenciadores porque não terão de enfrentar as mesmas responsabilidades, como a confecção de um relatório de análise. “Nós ficamos mais expostos, visíveis e temos um órgão regulador.”

Saravalle reconhece que os influenciadores ajudam a levar informação para quem não é do mercado, mas, ao mesmo tempo, atrapalham porque não têm as responsabilidades de um analista certificado. “Tem muita gente que não tem o objetivo de levar educação, mas de aumentar número de seguidores e monetizar. Não tem a responsabilidade social pela recomendação que nós temos.”

Reportagem do InfoMoney mostrou que a CVM estrutura uma medida para que os influenciadores de investimentos informem ao público quando estão fazendo propaganda ‘disfarçada de informação isenta’.

Martha Alves

Jornalista e Mestre em Comunicação. Foi repórter nos jornais Folha de S. Paulo e Agora São Paulo e acumula experiência em comunicação corporativa