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SÃO PAULO – Mais de um século depois da Lei Áurea, que estabeleceu o fim da escravidão no Brasil, podemos verificar que pouco se evoluiu no País: os negros têm um rendimento de 50% a 70% inferior ao dos demais trabalhadores, na mesma ocupação, segundo o diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Clemente Ganz Lúcio.
“Nós temos uma estrutura social que propicia ao negro uma inserção diferenciada, desvantajosa, em relação aos outros membros da sociedade. Ou seja, os fatores cor e raça conferem uma desigualdade a essas pessoas, que precisam sim de políticas que propiciem equidade nessa inserção”, opinou Lúcio, em entrevista ao programa Revista Brasil da Rádio Nacional.
Ele mencionou que o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social fez uma pesquisa nas 500 maiores empresas do Brasil e identificou que somente 3,5% dos cargos de chefia são ocupados por negros. “Os negros acabam não tendo oportunidade de ter acesso a uma educação que lhes permitam galgar essa oportunidade e, mesmo quando surge uma vaga, essas pessoas não estão habilitadas a disputar”.
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Atividades com maior presença de negros
O nível de escolaridade menor dos negros e pardos, na comparação com a população branca, fica claro se observarmos a distribuição deles nos diversos setores da economia.
Segundo estudo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com base em dados da Pesquisa Mensal de Emprego de setembro de 2006, a proporção de negros e pardos trabalhando só é maior nas atividades Serviços Domésticos e Construção (57,8% contra 42% de brancos e 55,4% contra 44,1%, respectivamente).
Por sua vez, o grupamento com a menor participação de pretos e pardos foi o de Serviços Prestados a Empresas e Intermediação Financeira, Atividades Imobiliárias, com 34,6%. Em segundo lugar, ficou Saúde, Educação e Administração Pública, com 35,2%, ante 63,9% de brancos.
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Características de Trabalho
Os empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado, categoria com maior proteção legal e melhores remunerações entre as analisadas no estudo, eram 59,7% de brancos e 39,8% de pretos e pardos.
A maior presença de brancos nesta categoria, no total das seis regiões metropolitanas pesquisadas (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e Recife), se justifica pela grande presença de brancos em regiões metropolitanas com forte participação do emprego formal, que são: São Paulo e Porto Alegre (44,9% e 44,2% da população ocupada no setor privado tem carteira de trabalho, respectivamente).
Ocupação
Há maior proporção de negros e pardos, comparativamente aos brancos, entre trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercados, com 40,6% ante 27,5% de brancos. Em segundo lugar, estão os trabalhadores da produção de bens e serviços industriais, com 25,7% contra 18,8% de brancos.
Nessa parte da pesquisa do IBGE, mais uma vez os brancos se destacam com as melhores ocupações. Entre membros superiores do poder público, dirigentes e gerentes de empresas, por exemplo, 9,2% são brancos e 3,7% são pardos e negros. O mesmo acontece com os profissionais das ciências e das artes: 13,4% são brancos e apenas 4,1% são pardos e negros.
Salários
Em todas as regiões metropolitanas analisadas, os pretos e pardos possuíam rendimentos inferiores aos dos brancos, mas em Salvador as diferenças foram maiores. Nessa região, os pretos e pardos recebiam pouco mais de 1/3 do que recebiam os brancos, conforme revelou o IBGE. A Região Metropolitana de Porto Alegre foi a que registrou a menor diferença nos rendimentos recebidos.
Observe a diferença entre os salários:
Rendimento médio real em setembro de 2006 | |||
Região | Preta/Parda (1) | Branca (2) | Razão (1)/(2) |
Recife | R$ 540,47 | R$ 1.046,93 | 51,6 |
Salvador | R$ 644,91 | R$ 1.749,90 | 36,9 |
Belo Horizonte | R$ 692,70 | R$ 1.249,95 | 55,4 |
Rio de Janeiro | R$ 653,31 | R$ 1.293,37 | 50,5 |
São Paulo | R$ 694,00 | R$ 1.361,30 | 51,0 |
Porto Alegre | R$ 649,40 | R$ 1.062,95 | 61,1 |
Fonte: IBGE