The AgriBiz: Consórcio capta US$ 60 mi para financiar soja livre de desmatamento

Parceria entre Traive, SIM e Opea almeja chegar aos US$ 200 milhões na safra 2026/27

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Grãos de soja no Brasil - 17/02/2020 (Foto: REUTERS/Jorge Adorno)
Grãos de soja no Brasil - 17/02/2020 (Foto: REUTERS/Jorge Adorno)

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Enquanto o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) suspendeu a Moratória da Soja, criando um risco a uma das ações privadas mais reconhecidas no combate ao desmatamento no bioma amazônico, um grupo de investidores mostrou que há interesse do em financiar a soja livre de desmatamento no Brasil.

Poucos dias antes da decisão do órgão antitruste, o consórcio formado pela consultoria SIM (Sustainable Investment Management) em conjunto com a fintech Traive e com a securitizadora Opea levantou US$ 60 milhões com investidores estrangeiros por meio de um CRA verde, chamado RFC Cerrado.

Os recursos levantados com o título são usados para financiar a produção sustentável de soja, a juros mais baratos do que os de mercado.

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O veículo de investimento foi criado em 2022, a partir da necessidade de supermercados ingleses, consumidores indiretos de soja brasileira, de financiarem uma produção mais sustentável da commodity, baseados na premissa de que não é necessário abrir novas áreas para acomodar o aumento da demanda.

Feita a estrutura do CRA, o título veio a mercado com um aporte de US$ 11 milhões, feito pelas redes Tesco, Sainsbury’s e Waitrose. No ano seguinte, o montante cresceu, a partir de aportes do Rabobank, do fundo Agri3 e do Santander, chegando aos US$ 47 milhões.

No ano passado, diante de todos os percalços na safra de grãos, a postura do consórcio foi mais conservadora: apenas investir o residual, de US$ 6 milhões. “A gente quis esperar para entender melhor como estava a situação do mercado e, este ano, voltamos à carga”, explica Maurício de Moura Costa, fundador e COO da SIM, ao The AgriBiz.

Nesta nova rodada, vieram ainda o programa Mobilising Finance for Forests (MFF), gerido pelo banco de desenvolvimento holandês FMO e financiado pelos governos do Reino Unido e da Holanda, e também o IDB Invest.

“O nosso grande desafio é realmente o mercado de capitais, mais sensível ao retorno. Na nossa visão, isso pode ser superado quando a gente consegue ter uma fonte mais estável de capital subordinado. É nisso que estamos trabalhando agora”, ressalta Costa, ainda sem dar detalhes do que está na mesa.

Na próxima safra, a ambição é chegar aos US$ 200 milhões. Os investidores esperam encontrar um ambiente mais auspicioso para a captação: neste ano, a estimativa inicial era chegar a US$ 150 milhões, uma tarefa que se provou ainda difícil.

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Como funciona?

O CRA funciona com uma estrutura de blended finance, misturando investidores com capital catalítico a investidores de mercado. Nesse mix, o CRA oferece empréstimos aos produtores que custam, em média, de 8,5% a 9,5% ao ano (em dólar).

O dinheiro captado neste ano deve beneficiar cerca de 280 propriedades rurais, com expectativa de produção de 240 mil toneladas de soja livre de desmatamento. Com isso, a estimativa da tríade é conservar cerca de 90 mil hectares de vegetação nativa.

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A Traive fará a seleção dos produtores a partir de uma rede de clientes que usa a plataforma de crédito da fintech (principalmente olhando para revendas e cooperativas). A Opea faz a securitização.

“Nesse ano, usamos pelo menos 40 canais de originação, aumentamos muito nossa rede. No final, analisamos quase 2 mil nomes. Nós sempre buscamos essa eficiência da esteira de originação, que é a base do nosso modelo pra diferentes soluções financeiras”, explica Maurício Quintella, diretor de negócios da Traive.   

Não há um porte determinado de produtor elegível ao programa. A partir da candidatura dos interessados, faz-se um “match” entre o que eles oferecem e o os critérios de exigibilidade, focados na preservação ambiental.

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Conteúdo produzido por The AgriBiz.

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