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Seu maior comprador é a China. Suas maiores perspectivas estão nos EUA. Sua maior aquisição em quase uma década está focada na Europa. A gigante brasileira de celulose e papel Suzano (SUZB3) está se globalizando enquanto navega pelas tensões comerciais entre potências geopolíticas.
A empresa colhe matérias-primas de seus eucaliptos que entram na fabricação de tudo, desde livros até papel higiênico, e afirma desempenhar um papel na vida de 2 bilhões de pessoas no mundo todo. Seus executivos dizem ter um plano para navegar neste período tumultuado do comércio global, um que pode servir de roteiro para outras empresas que buscam não apenas sobreviver, mas lucrar.
A estratégia da Suzano, em sua essência, é estender seus laços em todas as direções. Nos EUA, fez pequenas aquisições após sua oferta fracassada de US$ 15 bilhões para comprar a International Paper no ano passado. Na China, está transferindo algumas operações de compras para Xangai para encontrar mais fornecedores locais e recentemente emitiu seus primeiros títulos denominados em yuan. E na semana passada, adquiriu uma participação no negócio global de papel tissue da Kimberly-Clark em um acordo de US$ 3,4 bilhões que aumentará a presença da Suzano na Europa.
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“Somos agnósticos quando se trata de geografia”, disse o CEO João Alberto Abreu em entrevista na quinta-feira. “Avaliamos e estudamos, mas não há geografia que consideremos fora dos limites.”


Embora Abreu reconheça que a série de tarifas lançadas por Donald Trump pode prejudicar o crescimento global, sua atitude exemplifica como empresários e formuladores de políticas na maior economia da América Latina veem a guerra comercial.
Potência em commodities que exporta de soja a suco de laranja e minério de ferro, o Brasil está em uma posição única para continuar explorando tanto os mercados dos EUA quanto da China, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmando que não deseja escolher um lado.
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Esse sentimento é compartilhado por David Feffer, presidente da Suzano e neto do falecido Leon Feffer, imigrante ucraniano que fundou a empresa em 1924. Embora David tenha sucedido seu pai Max como CEO em 2001, decidiu profissionalizar a gestão dois anos depois — um movimento incomum na cultura corporativa familiar dominante no Brasil.
A estratégia da Suzano não conquistou imediatamente os investidores, que estão focados na queda dos preços globais da celulose, em parte ligada à guerra comercial. Os resultados do primeiro trimestre ficaram abaixo das estimativas dos analistas, com embarques menores do que o esperado. Mas as ações subiram mais de 6% com a notícia do acordo com a Kimberly-Clark, reduzindo as perdas acumuladas no ano para 14%.
Enquanto os preços nos EUA devem subir devido às tarifas, a Suzano não conseguiu aumentar os preços gerais tanto quanto o esperado. Os preços da celulose no principal mercado, a China, até caíram recentemente, disseram analistas do BTG Pactual liderados por Leonardo Correa em relatório no mês passado. Esse enfraquecimento ajudou a conter o desempenho das ações da Suzano em comparação ao índice Ibovespa, referência do Brasil.
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Ainda assim, o potencial de criação de valor da empresa é maior do que o refletido atualmente no preço das ações, segundo o analista da XP Inc., Lucas Laghi. “No mundo das commodities, esta ainda é a ação que mais gostamos”, afirmou.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização da Suzano ultrapassou 23,8 bilhões de reais (US$ 4,2 bilhões) em 2024, um aumento de mais de 30% em relação ao ano anterior. Os analistas projetam crescimento de 4% este ano, mesmo com a queda do preço da celulose, e aumento de 16% em 2026.
Dezessete dos 18 analistas acompanhados pela Bloomberg recomendam a compra das ações, e o preço-alvo consensual prevê retorno de 41% nos próximos 12 meses, o décimo primeiro melhor entre as empresas listadas no Brasil.
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“Não vemos nenhuma mudança na estratégia da Suzano”, disse a analista da S&P Global Ratings, Luisa Vilhena. “E não acho que deveria haver, dado o tamanho da empresa e sua capacidade de gerar caixa mesmo com preços baixos da celulose.”

Os executivos atribuem o fracasso da Suzano em fechar um acordo com a International Paper à recusa em pagar demais pela empresa americana. Eles saíram dessa experiência focados em defender seu mercado principal contra concorrentes, enquanto buscam oportunidades menores.
Para Feffer, isso virou um mantra de três palavras: descentralizar, internacionalizar e verticalizar. Isso vale tanto para a China quanto para os EUA.
A Suzano mantém fortes laços comerciais com a potência asiática e está focada em manter boas relações com clientes chineses para defender seu território, enquanto concorrentes como a chilena Celulosa Arauco y Constitución planejam iniciar novas fábricas.
“Há pessoas vindo para montar fábricas no Brasil”, disse Abreu. O objetivo da Suzano é continuar “com 30% de participação de mercado e sendo líder em custos de produção de celulose.”
Os compradores dos EUA representam cerca de 20% dos volumes de celulose da Suzano. A perda da International Paper levou a empresa a buscar outras operações no país. Ela explorou um acordo com a Clearwater Paper Corp. e considerou comprar ativos da Rand-Whitney Group, empresa de papel e embalagens controlada pela Kraft Group. No fim, adquiriu uma fábrica no Arkansas e uma unidade de extrusão na Carolina do Norte da Pactiv Evergreen em julho passado.
Diversificar é fundamental para empresas de celulose e papel, já que tendências demográficas e econômicas pesam na demanda na China, segundo o analista do Rabobank, Andres Padilla. “Você tem que manter essa boa abertura com todos para não depender de apenas um bloco”, disse ele. Players brasileiros como a Suzano “têm a oportunidade de manter canais abertos e fortalecer os laços comerciais que já existem.”
A empresa também espera mudar a cadeia de suprimentos, convencendo produtores de papel na América do Norte e Europa a comprar mais da celulose de madeira dura mais barata que produz no Brasil. Mas não é tarefa fácil, já que muitos produtores do segmento de papelão têm produção própria de celulose e não dependem de fornecedores externos.
A vantagem da Suzano está no fato de possuir algumas das fábricas de menor custo do mundo, o que mantém suas operações lucrativas mesmo em períodos de preços baixos. A fibra de madeira macia, produzida principalmente no Hemisfério Norte, tem custos de produção mais altos e está ficando mais cara em relação à madeira dura. Isso convenceu alguns produtores americanos a mudar de um produto para outro, principalmente no segmento de papel tissue, segundo Patrick Cavanagh, economista da agência de preços de commodities Fastmarkets.
E a Suzano considerou essa mudança de mercado entre fibras em seus últimos negócios. “A oportunidade de substituir fibra é uma sinergia que só nós temos ao avaliar certos ativos”, disse Abreu.
Com a joint venture da Kimberly-Clark, por exemplo, a Suzano vê espaço para acelerar a mudança para madeira dura na Europa. Embora as fábricas precisem de investimento tecnológico para isso, o processo pode ser acelerado após a Suzano assumir o controle dos ativos.


No centro da estratégia da Suzano estão suas plantações de eucalipto. As plantações comerciais são colhidas a cada sete anos e depois replantadas. Cerca de 1,2 milhão de árvores jovens são plantadas todos os dias. Em comparação, alguns produtores de celulose de alto custo do Hemisfério Norte têm menos controle sobre a madeira que usam e dependem da compra de cavacos ou outros resíduos de serraria.
“O que efetivamente torna a produção de celulose vantajosa no Brasil é a tecnologia florestal”, disse Marcello Collares, vice-presidente para desenvolvimento de negócios de produtos florestais para a América Latina na agência de inteligência de mercado ResourceWise.
Mas a guerra comercial pode abrir outras portas para a Suzano também. Se as tensões com Trump persistirem, produtores americanos de celulose podem evitar o mercado chinês devido a possíveis tarifas retaliatórias impostas por Pequim, deixando mais espaço para a Suzano. E se as tarifas impedirem que o papel de embalagem chinês concorra com produtos americanos, a nova fábrica da empresa brasileira nos EUA será um tiro certeiro.
A aquisição dos ativos da Kimberly-Clark trará uma pausa temporária na busca por aquisições nos EUA. Embora a empresa tenha observado de perto a reorganização das companhias americanas em busca de negócios que lhe deem maior acesso ao mercado local, Abreu disse que o foco nos próximos dois a três anos será otimizar seus novos ativos.
Questionado sobre o futuro dos negócios na América do Norte, o CEO afirmou: “Temos uma operação lá que ainda não tem a escala que consideramos ideal, mas não estamos com pressa.”
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