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Sinergias de Petz e Cobasi ainda são incertas, mas especialistas veem ganhos 

Empresas celebraram um memorando de entendimentos não vinculante nesta sexta-feira

Iuri Santos Felipe Mendes Alexandre Inacio Mitchel Diniz

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Não demorou muito ao mercado reagir à notícia dos avanços na fusão entre Petz e Cobasi. Às 14h desta sexta-feira (19), a empresa já havia ganhado R$ 640 milhões em valor de mercado, embora ainda se tente entender quais sinergias serão colhidas no negócio. Em parte, essas dúvidas não serão respondidas tão em breve, já que as apurações financeiras sobre os dois negócios devem se intensificar apenas após uma eventual assinatura de contrato — o chamado signing

Algumas das potenciais sinergias, no entanto, são óbvias, na avaliação de analistas ouvidas pelo IM Business. É visto como natural que uma fusão leve à melhora na distribuição das marcas em regiões nas quais o seu apelo é melhor, seja Cobasi ou Petz, bem como um crescimento exponencial em linhas de negócio como Zee.Dog ou mesmo a vertical de saúde animal. “A distribuição de tudo isso praticamente dobra de um dia para o outro”, diz Ricardo Bahiana, sócio da B2R Capital, assessoria especializada em M&A e valuation. 

Andreas Ferreira, analista de empresas da Mantaro Capital tem a percepção de que as empresas se uniram em um movimento defensivo. “Não acho que é um M&A para ataque. Não é exatamente um negócio ‘oportunístico’ de ganho de market share”, afirma. “A oportunidade maior talvez não seja a sinergia, mas aproveitar a força um do outro para se defender”, diz o analista, dando o exemplo do impacto negativo da concorrência dos marketplaces nos últimos resultados das duas empresas. 

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Para Ferreira, a Petz busca referência em um dos poucos M&As do varejo que de fato deram certo nos últimos 15 anos. A operação da Raia Drogasil conferiu ganho de escala e de participação de mercado à empresa combinada, além de uma “impressionante diluição de empresas”, diz ele. 

Chegada ao Cade 

O CEO da Petz, Sergio Zimerman, disse em teleconferência aos investidores na manhã desta sexta-feira (19), que não espera dificuldades em conseguir o aval do negócio junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O órgão só entrará em jogo após uma eventual assinatura de um contrato. 

De toda forma, a avaliação do Cade deve se pautar na distribuição regional das lojas. “É preciso definir a abrangência geográfica dos mercados. Não me parece que mercados de varejo, inclusive esse de varejo de produtos animais, sejam mercados muito extensos territorialmente”, diz Olavo Chinaglia, especialista em direito concorrencial e ex-conselheiro do Cade. “A depender de como o Cade entender a definição do escopo geográfico dos mercados, pode ser que sejam identificadas regiões em que a concentração é alta e, consequentemente, em que possa haver restrições.” 

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Andreas vê ainda uma sobreposição muito forte de lojas. “As duas empresas nasceram em São Paulo, focaram na expansão no Estado e depois nas grandes capitais, brigando por espaços muito próximos. Vejo oportunidades de fechamento de loja”, pontuou. 

Bahiana avalia que as empresas devem até mesmo se antecipar a possíveis reivindicações, especialmente quanto às lojas das atuais concorrentes que disputam em um raio muito próximo — essa distância, no entanto, não deve ser tão grande no mercado pet. “O Cade olha muito para o perímetro de influência daquela operação no mercado. Faça um paralelo com uma universidade. As pessoas se deslocam de 10km a 15km para uma. Agora, qual é o perímetro de influência de um pet shop? Ninguém está disposto a andar 15km para comprar ração”, explica. O movimento pode ser até mesmo uma solução para uma eventual fusão, já que resolveria possíveis redundâncias na operação. 

Um bom negócio

“Há muitos paralelos entre os varejos farmacêutico e pet. Ambos são muito pulverizados em termos de oferta, mas resilientes em momentos difíceis de mercado”, explica o analista. A Raia Drogasil, segundo ele, também pode ser considerada um caso bem sucedido de profissionalização. A saída de Sérgio Zimerman da presidência para ser chairman da companhia combinada com Cobasi já aponta nessa mesma direção. 

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No mercado, a sensação geral é de otimismo. Para a Cobasi, a concretização gera liquidez para o Kinea, fundo com posição relevante na empresa que já está na janela de desinvestimento. A companhia dificilmente encontraria um caminho por meio de IPO, uma vez que o própria desempenho fraco da Petz na bolsa pelos últimos anos vinha impossibilitando a incursão da concorrente no mercado de capitais. 

Esse cenário pode mudar para a Petz, que agora vê o entusiasmo dos investidores com a possível fusão. Em fevereiro deste ano, o CEO e fundador da companhia, Zimerman, aumentou a sua posição no negócio para 48,1% por meio de derivativos. Além do sinal de confiança no negócio, um especialista avalia que esse movimento tenha sido ensaiado para garantir uma posição maior na fusão. 

O acordo prevê um pagamento de R$ 450 milhões da Cobasi aos acionistas da Petz, que seria bancado por uma injeção de capital primária pré-transação feita pela família Nassar e pelo Kinea. Nessa configuração, os acionistas da Petz ficariam com 50% da empresa combinada e os da Cobasi, com a outra metade. 

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Juntas, Petz e Cobasi podem até ganhar poder de barganha e influência para exigir dos fornecedores uma postura mais dura contra concorrentes que vendem seus produtos abaixo da média de mercado. Mas, o analista da Mantaro acredita que há limitações. A indústria tem evitado retaliar varejistas por esse motivo e os próprios fornecedores já estão se movimentando para vender seus produtos diretamente ao consumidor final via marketplaces. 

Impacto da indústria veterinária

Uma das indústrias que encabeça a lista de fornecedores da Petz e Cobasi é a veterinária. Os produtos para saúde animal são considerados estratégicos para as duas redes, pois são “geradores de demanda” para as lojas.

Ainda que em alguns Estados já seja possível encontrar produtos veterinários em farmácias convencionais, a compra por itens voltados à saúde dos animais ainda requer uma visita ao pet shop.

O CEO de uma das principais empresas veterinárias do Brasil disse ao IM Business que a fusão das duas redes tende a melhorar o nível de serviços, ainda que ocorram eventuais ajustes de perfil de cada uma das marcas.

 Por essa razão, o executivo não acredita que ocorra uma pressão por parte das empresas para ajustes de preços nos fornecedores de produtos veterinários. Mesmo porque, a estimativa é que, juntas, Petz e Cobasi representem apenas 10% do mercado veterinário.

O mercado de pet shops é estimado em 70 mil pontos de venda em todo o Brasil. São mais lojas voltadas aos cuidados animais do que farmácias para os humanos.