Conteúdo editorial apoiado por

Saiba como a VTEX virou gigante do e-commerce com fusão firmada “na palavra”

Cofundador Alexandre Soncini relembra início sem salário e aposta em tecnologia no fim dos anos 1990, em pleno estouro da bolha das empresas de internet

Osni Alves

Ativos mencionados na matéria

Publicidade

Quem vê hoje a VTEX faturando mais de US$ 230 milhões por ano talvez não imagine que tudo começou com uma parceria firmada na base da confiança e sem nenhum real no bolso. Alexandre Soncini, cofundador da plataforma de e-commerce, relembra os primeiros anos da trajetória, marcada pela fundação da WX7 no fim da década de 1990 – em pleno estouro da bolha das empresas de internet – e pela fusão com outras duas empresas que daria origem à VTEX, já nos anos 2010.

“Por sete anos, a gente não teve salário”, conta Soncini no podcast Do Zero ao Topo, ao recordar os primeiros passos da WX7, fundada ao lado de Rafael, seu sócio. A empresa começou desenvolvendo sites dinâmicos para casas noturnas e pequenos clientes da era pré-redes sociais, em um tempo em que o mercado digital brasileiro ainda engatinhava.

Sem acesso a capital de risco ou investidores anjo, tudo foi construído com o próprio esforço – e com a ajuda das famílias, que bancaram a sobrevivência enquanto o negócio não dava lucro.

Leia mais: Criador da DiaTV, Rafael Dias revela os bastidores e incertezas antes do lançamento

Na época da bolha das pontocom, entre 1999 e 2000, mais de 500 empresas quebraram e a Nasdaq perdeu US$ 5 trilhões em valor de mercado. Mas foi exatamente nesse cenário turbulento que nasceu a WX7, como uma produtora de soluções para internet. Anos depois, a união com a Vitex (na época ainda chamada Vitrine Têxtil) e uma terceira empresa consolidaria o que viria a se tornar uma das maiores plataformas de e-commerce da América Latina.

“Conhecemos os fundadores da Vitex em uma feira nos Estados Unidos e logo percebemos que fazia sentido juntar os trapos. Foi tudo na palavra, com um contrato escrito à mão que eu guardo até hoje.”

De estagiário voluntário à fusão de três empresas

Antes de fundar a WX7, Alexandre Soncini teve uma breve carreira no automobilismo. Chegou a montar sua própria mecânica de kart aos 16 anos como forma de bancar as competições, mas acabou migrando para a tecnologia, área que o fascinava desde a adolescência. Começou a programar aos 13 anos e decidiu cursar engenharia de computadores.

Continua depois da publicidade

Foi durante uma visita informal a uma pequena agência digital que conheceu Rafael, seu futuro sócio. Sem pedir remuneração, Soncini se ofereceu como estagiário voluntário, apenas para aprender. A parceria evoluiu rapidamente: os dois perceberam uma demanda crescente por desenvolvimento web e fundaram juntos a WX7, no início dos anos 2000.

“Era tudo muito embrionário. A empresa foi incubada dentro da agência. Começamos atendendo baladas e eventos. Fazíamos sites com programação de atrações, algo dinâmico, que não era comum na época”

Aos poucos, o negócio cresceu – mas com muita dificuldade e sem capital. Por anos, os sócios trabalharam sem qualquer remuneração.

Mesmo com a graduação concluída, Soncini não seguiu o caminho tradicional de seus colegas engenheiros. Preferiu apostar na construção de um negócio próprio, embora sem saber se aquilo se tornaria algo relevante no mercado. “Foi uma escolha. A gente acreditava que podia criar algo de impacto no longo prazo.”

Continua depois da publicidade

Foco no e-commerce e virada com feira nos EUA

O ponto de virada para a empresa veio por meio de uma decisão estratégica: focar em e-commerce. Foi nesse momento que Soncini e Rafael decidiram investir pesado – mesmo sem recursos – em uma viagem a uma das principais feiras do setor nos Estados Unidos.

Para bancar a passagem e a estadia, recorreram a um empréstimo. Mas a aposta deu certo: foi nesse evento que conheceram Mariano e Geraldo, fundadores da então Vitrine Têxtil.

A conversa evoluiu rápido. Em pouco tempo, os fundadores das três empresas decidiram se unir. E a fusão aconteceu da forma mais informal possível: as operações foram unificadas antes mesmo da formalização legal, com todos os funcionários instalados em um novo escritório na zona sul de São Paulo.

Continua depois da publicidade

“O escritório da WX7 era na Mooca, o da Vitex em outra região. Alugamos uma laje na Cardoso de Melo e levamos todo mundo para lá, mesmo sem contrato formal. A confiança era total. Sabíamos que, se alguém quisesse agir de má fé, um contrato não nos protegeria. Então preferimos seguir na base da boa fé”

O acordo oficial só foi assinado oito meses depois. Até lá, a empresa já operava unificada, com todas as decisões e rotinas compartilhadas.

Leia também: Reserva de emergência e estratégia: o caixa como motor do crescimento do negócio

Do bootstrap ao bilhão: uma construção paciente

Com a fusão oficializada, a nova VTEX iniciou sua escalada como plataforma de e-commerce. Em 2011, a empresa faturava cerca de R$ 7 a 8 milhões por ano. Hoje, ultrapassa US$ 230 milhões anuais. A trajetória não foi linear nem isenta de sacrifícios.

Continua depois da publicidade

“Os primeiros 10 anos foram de pura construção. Sem glamour, sem salário, sem investidores.”

Apesar das dificuldades, o foco sempre foi um diferencial. “A gente teve momentos em que estava tentando fazer de tudo. Mas, quando decidimos focar, o jogo começou a virar. O foco em e-commerce foi fundamental”, diz.

Alexandre Soncini, cofundador da VTEX, conta trajetória da empresa no programa Do Zero ao Topo (Divulgação/InfoMoney)

Ao escolher se especializar, a empresa passou a entender melhor as dores dos clientes, a desenvolver soluções específicas e a ganhar relevância no mercado.

O crescimento da VTEX também veio embalado por uma cultura de confiança, colaboração e visão de longo prazo. “Não existia a mentalidade de buscar uma saída rápida ou um ganho imediato. O que nos movia era criar algo que fizesse diferença no mundo”, afirma o cofundador.

E assim, com base na palavra e no trabalho duro, a VTEX virou referência global no mercado de plataformas para e-commerce – mostrando que é possível construir uma gigante digital mesmo começando com um papel escrito à mão e nenhum centavo no bolso.