A plataforma de software de comércio eletrônico VTEX completa 25 anos este ano. Em 2021, quando o negócio já tinha clientes internacionais, os coCEOs e fundadores da empresa, Mariano Gomide e Geraldo Thomaz, junto com seus outros sócios, decidiram abrir o capital da companhia. Em vez de fazer o processo na bolsa brasileira, os executivos optaram por abrir o capital nos Estados Unidos.
Publicidade
Gomide explicou as razões pela escolha dos Estados Unidos ao InfoMoney Entrevista. Confira, abaixo, trechos editados da entrevista que está disponível, na íntegra, no canal do InfoMoney no Youtube.
Leia também: “IPO nos ensinou a pensar mais no longo prazo”, diz Alexandre Soncini, da VTEX
InfoMoney: Como foi o processo de abertura de capital da empresa?
Mariano Gomide: A VTEX completa 25 anos este ano. No início, estávamos muito focados no Brasil e, a partir de 10 anos, começamos a expandir para o mundo. Depois de conquistar a América Latina, expandimos para a América do Norte e Europa. Isso coincidiu com o final de 2020 e a pandemia ‘explodindo’. Naquele momento, estávamos com bastante caixa e uma perspectiva de crescimento quase infinito à nossa frente porque tudo passou a ser feito online.
Leve seu negócio para o próximo nível com os principais empreendedores do país!
Em 2021, fizemos nosso IPO, uma abertura de bastante sucesso. Demos sorte porque estava no momento certo, na hora certa e a empresa estava preparada para o IPO. Conseguimos capturar um momento legal do mercado. A empresa abriu a US$ 19 e dois ou três meses depois, chegou a US$ 32. Foi um IPO de bastante sucesso.

IM: Do IPO até agora, a empresa passou por alguns solavancos. Como a empresa está agora?
MG: Alguns meses depois do IPO, o mercado inverteu, os juros, de fato aumentam muito, todas as empresas de mid capital [empresas listadas de capitalização intermediária] sofreram bastante. Os juros [dos EUA] saem de 0,25% para 4,5%. A VTEX continua entregando os resultados, o crescimento e a consolidação. Nos últimos 12 meses, a gente vem, consistentemente, aumentando bastante a margem bruta da empresa e bastante o bottom line da empresa – a margem líquida.
A empresa cresceu muito rápido durante o COVID e isso trouxe problemas operacionais. Conseguimos ajustar a equipe e, hoje, a empresa está bem, está rodando bem, está bem alocada no mundo e está com time correto.
Então, estou bem entusiasmado pelo que vem pela frente. A VTEX começou a ser reconhecida como uma marca global de software ao lado de empresas como Adobe, SAP, Oracle. Nos dá muito orgulho de ser uma empresa de engenharia brasileira e representar a engenharia brasileira no mundo afora.
Estou muito orgulhoso e muito entusiasmado pelo que vem pela frente. Nesses últimos 12 meses, lançamos muitos produtos e serviços novos. Tem muito espaço para VTEX crescer, tanto no Brasil quanto na América Latina.
Continua depois da publicidade
IM: Em 2021, quando decidiram abrir o capital, o que os levou a escolher os Estados Unidos?
MG: Eu tenho a tese de que você faz IPO por três razões: 1) você precisa fazer uma [emissão] primária, porque o teu negócio é de capital intensivo e você precisa de caixa para crescer – e quanto mais você cresce mais você precisa de caixa; 2) você precisa fazer uma [emissão] secundária porque tem algum investidor que tem que sair ou há uma necessidade de reestruturação de cap table [organização societária da empresa]; 3) você faz por razões de marketing.
A VTEX não tinha ninguém querendo sair e já estávamos muito capitalizados. Então, a razão que nos levou a abrir o capital foi marketing.
Continua depois da publicidade
E nesse sentido, o futuro da VTEX é ser uma empresa global, onde Estados Unidos e Europa têm uma participação maior do que a América Latina. Ainda estamos muito longe desse futuro, mas nesse sentido, abrir capital dentro da New York Stock Exchange (NYSE) é uma chancela para você ser considerado mais ‘American friendly’. Seria muito mais complicado para a empresa vender para fora sendo uma empresa pública brasileira do que sendo uma empresa pública americana.
Leia também: ‘Brazil engineering’: o plano ambicioso da VTEX para exportar tecnologia brasileira
IM: Por que não abrir o capital no Brasil também?
Continua depois da publicidade
MG: Existe sempre aquela pergunta de ‘por que não abrir também aqui, na Bolsa do Brasil?’. Mas esta é só uma questão técnica: seria preciso diluir um pouco a liquidez do papel e não faria sentido.
É uma troca que precisamos fazer: adoraria estar aberto no Brasil para permitir que os brasileiros possam entrar e compartilhar esse movimento que é a engenharia brasileira fazendo diferença lá fora, mas, tecnicamente, não faria sentido ou não faz sentido por hora abrir aqui no Brasil.
A NYSE é um clube de 2.400 empresas. Pouquíssimas empresas no mundo e pouquíssimas empresas de tecnologia do Brasil têm acesso a esse clube. A VTEX está abrindo o mercado para várias outras empresas de engenharia brasileira, seja de gestão, de manufatura ou de software.
Olhando para trás, foi uma escolha acertada, eu escolheria de novo abrir lá fora.
Continua depois da publicidade