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Novos cortes em estimativas para a colheita brasileira de soja

Projeções começam a convergir para um volume ainda recorde, mas inferior a 160 milhões de toneladas

Fernando Lopes

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O forte calor e a escassez de chuvas em polos agrícolas do Centro-Oeste, acentuados pelo El Niño, continuam a atrasar o plantio de soja e a motivar revisões para baixo nas estimativas para a colheita da oleaginosa na região e no país nesta safra 2023/24. No início da semeadura, em meados de setembro, as projeções convergiam para um volume superior a 160 milhões de toneladas, mas, com as adversidades climáticas dos últimos meses, dificilmente esse patamar será alcançado.

Falta de chuvas no Centro-Oeste prejudicou lavouras de soja

Segundo cálculos da consultoria AgRural, o plantio de soja foi concluído em 85% da área total estimada para o país até quinta-feira passada, ante 74% na semana anterior e 91% no mesmo período de 2022. O avanço foi puxado pela melhora nas condições climáticas no Rio Grande do Sul, onde as fortes chuvas trazidas pelo El Niño vinham inviabilizando os trabalhos. Em Mato Grosso, onde o problema vinha sendo a falta de precipitações, diminuiu a irregularidade – que, no Norte e no Nordeste, continuam dando o tom.

Com isso, a AgRural efetuou um novo corte em sua estimativa para a colheita no Brasil na temporada, desta vez para 159,1 milhões de toneladas. Em outubro, a consultoria previa 164,6 milhões de toneladas, e já havia reduzido a conta para 163,5 milhões em novembro. A Biond Agro, empresa de gestão e comercialização de grãos, acaba de efetuar um corte de mais de 4 milhões de toneladas em seu cálculo, para 159,4 milhões de toneladas, enquanto a MB Agro, que no início da semeadura projetava 165 milhões de toneladas, hoje trabalha com 156 milhões.

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“Desde setembro, a região Centro-Oeste tem enfrentado anomalias significativas nas chuvas e temperaturas, especialmente nos Estados de Mato Grosso e Goiás. Vale ressaltar que nossa primeira projeção já incorporava uma baixa produtividade em todas as regiões brasileiras devido ao El Niño, com exceção do Sul, e essa situação se agravou devido aos eventos climáticos recentes”, afirma Felipe Jordy, coordenador de inteligência e consultoria da Biond Agro.

Levando em consideração os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), as novas previsões, mesmo mais baixas, ainda sinalizam que um novo recorde histórico será batido. De acordo com a estatal, o recorde atual é de 2022/23 (154,6 milhões de toneladas). A Conab ainda prevê para 2023/24 um volume de 162,4 milhões de toneladas, mas analistas esperam um ajuste para baixo no novo relatório de acompanhamento de safra que será divulgado na quinta-feira.

Em evento na semana passada, Alexandre Mendonça de Barros, sócio-diretor da MB Agro, lembrou que, mesmo menor que o previsto inicialmente, o volume a ser colhido no Brasil, que lidera a produção e as exportações mundiais de soja, tende a ser ainda robusto. E, como a produção americana foi grande e na Argentina haverá forte recuperação depois da quebra do ciclo passado, provocada pelo fenômeno La Niña, a relação global entre oferta e demanda deverá ficar relativamente confortável. Mesmo assim, as incertezas climáticas na América do Sul tem oferecido sustentação às cotações internacionais.

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Fernando Lopes

Cobriu o setor de energia e foi editor do semanário Gazeta Mercantil Latino-Americana até 2000. Foi editor de Agro no Valor Econômico até fevereiro de 2023.