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Para Yunes, do Mercado Livre, competição do e-commerce vive novo capítulo

Companhia cresceu oito pontos percentuais e alcançou cerca de 40% do market share do comércio eletrônico no terceiro trimestre

Lucinda Pinto Vera Brandimarte Raquel Balarin

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O varejo eletrônico no Brasil vive um novo capítulo, marcado por uma competição acirrada em que os players locais devem perder  espaço para empresas estrangeiras. É assim que o Mercado Livre enxerga o atual momento do setor, afirma Fernando Yunes, vice-presidente sênior e líder do Mercado Livre para o Brasil, em entrevista ao  IM Business. A liderança folgada, 40% de market share, dá à companhia vantagens em uma corrida em que a escala é variável-chave, mas não elimina a necessidade de acompanhamento das inovações que os competidores que vêm de fora estão trazendo,  especialmente em aspectos como usabilidade e mídias sociais.

No terceiro trimestre, o Mercado Livre  apresentou lucro líquido de 359 milhões de dólares, cifra que representa um avanço de 178,2%, em dólar, em relação ao mesmo período do ano passado, e surpreendeu os analistas.  “Foi mais um trimestre de consistente entrega, tanto de crescimento como rentabilidade. Crescer 40% a receita no momento atual e também aumentar a rentabilidade é algo para ser destacado”, diz Yunes.

O crescimento nas vendas permitiu que o Meli,  como é conhecida no mercado,  ampliasse o market share  em 8 pontos percentuais  em relação a igual período de 2022. Sua fatia está entre 39% e 42%, dependendo da fonte da informação, mais do que o dobro da posição do segundo colocado – a Magalu. A participação era de 20,5%  no primeiro trimestre de 2020  e veio crescendo desde então até atingir  a maior aceleração da história da companhia no trimestre passado, em parte por causa da dificuldade enfrentada por outras companhias, entre elas a Americanas. “O mercado passa por uma consolidação, que não está acontecendo por meio de M&As, mas de forma orgânica”, afirma.

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No atual patamar, essa participação  gera muita escala para  toda a empresa, na logística, no marketing, na área de tecnologia, diz Yunes. Basta pensar que, em toda a América Latina, são 15 mil desenvolvedores trabalhando para tornar o aplicativo cada vez mais eficiente. E, embora não tenha lojas físicas, hoje o Meli conta com 5 mil pontos de devolução ou retirada de produtos, além dos pontos dos Correios – o que é mais do que a rede de lojas físicas das companhias, que soma cerca de 1 mil unidades.

Tudo isso justifica a expectativa do executivo de que o Meli continue avançando sobre a concorrência, ainda que em um ritmo menor daqui para frente. Ele vê espaço para avanços em segmentos como o de eletroeletrônicos e eletrodomésticos, nos quais as varejistas brasileiras ainda são fortes. “Nossos planos não contemplam um ganho de market share da mesma magnitude, mas deve ser um ganho interessante”, define. Para tanto, a companhia planeja para 2024 um investimento ainda maior do que os R$ 19 bilhões empenhados em 2023, entre capex e despesas estratégicas – que incluem , por exemplo, a renovação do patrocínio do Big Brother.

Embora esteja em uma condição mais confortável do que seus pares, Yunes afirma que , para o setor, o próximo ano ainda vai ser  desafiador.  “A não ser que os juros baixem em uma velocidade muito rápida e alivie o resultado das empresas nacionais, 2024 vai ser um ano duríssimo, uma continuidade do que foi 2023”, afirma. Como a queda do juro deve ocorrer em uma intensidade menor do que o previsto, para algo entre 9,5% e 10%,  o  foco de muitas das empresas pode continuar na sobrevivência: garantir o caixa recorrendo a instrumentos como follow-on, emissão de dívida ou desinvestimento.

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Enquanto isso, ele acredita que as varejistas estrangeiras – além do Mercado Livre, de origem argentina, a Amazon e as empresas asiáticas estão no páreo  – não vão deixar de aumentar a intensidade na competição por aqui. “Com a China mais desacelerada, essas asiáticas estão indo para outros lugares. Isso está acontecendo em vários segmentos, como o de carros elétricos, e também no de marketplace. O Brasil é um dos escolhidos, porque está vindo todo mundo para cá, e são bolsos fundos”, afirma.

O ponto positivo da vinda de players estrangeiros para brigar no e-commerce é que eles contribuem para que “o bolo aumente” – o que, em sua visão, é hoje um dos principais desafios para uma empresa como o Meli. “O desafio é entender  como fazer o comércio eletrônico  sair de 15% das vendas para 20%. E isso vai depender de boas experiências do usuário”, diz.

Um exemplo de como o aumento da concorrência pode ajudar é a  venda de produtos de tíquete  muito baixo com frete grátis por parte de alguns concorrentes asiáticos. É uma operação que dá prejuízo, mas que tem o mérito de atrair clientes para o e-commerce.

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Para Yunes, o poder de fogo dessa concorrência que está chegando não é fatal.  Com um sortimento que chega a 400 milhões de produtos, e prazo de entrega curto – 50% das entregas ocorrem até o dia seguinte e 80% em até dois dias -, o Mercado Livre está em um ponto que levará tempo para ser alcançado por esses entrantes, afirma Yunes.  “Construir logística no Brasil não é rápido. E as pessoas se acostumaram a receber os produtos em um dia”, diz. Mas a concorrência está sendo constantemente monitorada. “A gente está sempre de olho, estudando, e tendo insights do que pode ser bom para o Mercado Livre. A presença desses players gera ideias, planos de inovação, senso  de urgência e propósito.”

Para o executivo, as varejistas locais deveriam ter essa mesma visão, de entender e se inspirar nas competências da concorrência estrangeira.  “Mas é fato que hoje os estrangeiros  têm uma vantagem de impostos, e eu não concordo com isso. É preciso ter isonomia, para a competição acontecer por eficiência , qualidade de serviços, produtividade, e não por uma vantagem fiscal”, afirma.

Lucinda Pinto

Editora-assistente do Broadcast, da Agência Estado por 11 anos. Em 2010, foi para o Valor Econômico, onde ocupou as funções de editora assistente de Finanças, editora do Valor PRO e repórter especial.