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Junior Durski admite que faltou critério no plano de expansão do Madero: “50 lojas por ano é muito”

Dona da rede de restaurantes Madero e Jerônimo melhorou o perfil da dívida acumulada durante a pandemia, mas indica que expansão moderada é novo normal

Mitchel Diniz

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O Grupo Madero chega ao final de 2023 com mais da metade da sua dívida repactuada e mais confiante em sua posição financeira. Porém, a companhia segue cautelosa em relação a abertura de novos restaurantes, prevendo expansão modesta para 2024, no mesmo ritmo deste ano. Atenta à evolução do mercado de capitais, não descarta retomar uma oferta de ações na Bolsa para financiar seu crescimento. Mas aponta que a fome por novas unidades diminuiu.

A companhia, dona dos restaurantes Madero, Jerônimo e Dundee, encerrou o terceiro trimestre de 2023 com uma dívida líquida de R$ 834 milhões. Em julho, a companhia repactuou mais da metade desse valor, R$ 435 milhões, com bancos e debenturistas, barateando o montante e alongando prazos.

Em outubro, deu mais um passo para a redução de seu endividamento e levantou R$ 150 milhões com a emissão de certificados de recebíveis do agronegócio (CRA). “Com isso, não temos necessidade [de fazer novas emissões], pelo menos nos próximos 18 meses, quiçá 24 meses”, afirmou Ariel Szwarc, vice-presidente financeiro do grupo ao IM Business. “Por enquanto. estamos super tranquilos. Não temos necessidade nenhuma de acessar o mercado”.

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O CFO avalia que a posição financeira do Madero tem melhorado trimestre após trimestre enquanto seu índice de endividamento vem recuando, o que torna mais fácil o acesso ao mercado de crédito. “Mas não é algo que está no horizonte”, afirma.

No terceiro trimestre de 2023, a dívida líquida da companhia chegou a 2,11 vezes o Ebitda do período e a expectativa da administração é que o indicador melhore ainda mais agora no quarto trimestre. Em 2020, com as restrições da pandemia em nível máximo, a alavancagem estava em 15,03 vezes.

“Por outro lado, não podemos expandir, porque temos que utilizar o dinheiro para pagar juros e baixar a dívida. Então vamos [terminar o ano] com um crescimento muito modesto”, afirma o CFO. “No próximo ano, isso também vai acontecer, porque queremos chegar a um nível de endividamento muito baixo. Aí sim, retomando de forma muito segura, o crescimento”.

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O grupo deve terminar 2023 com um total de 276 restaurantes. Foram inauguradas unidades da Madero Stake House em Florianópolis (SC) e Maringá (PR), além de um Madero Container na área de embarque do aeroporto de Congonhas, na capital paulista. O período também foi marcado por sete conversões de formato, de Jeronimo ou Dundee, para Madero. Três restaurantes foram fechados no ano.

O Madero opera com um modelo de negócio verticalizado em que produz os próprios ingredientes. A cozinha central do grupo, no Paraná, tem capacidade para abastecer 500 restaurantes, quase o dobro do número de unidades existentes hoje. Mas, a expansão deve seguir em ritmo moderado em 2024. “Para o ano que vem, vamos estar abrindo umas três, quatro operações. Por enquanto não está planejado mais do que isso, justamente pela cautela no gerenciamento do caixa”.

Luiz Renato Durski Junior, fundador e dono da rede de restaurantes, afirma que o Madero continua sendo uma empresa de crescimento, mas admite que faltou critério no plano de expansão. Segundo ele, não é só pela falta de caixa que a empresa não cresce como antes — já não existe mais aquele apetite para abrir até 50 lojas por ano.

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“A gente olha 45, 50 [lojas], é muito. Nós podemos fazer muito bem feito aí, 30, 35 restaurantes e ponto. Vamos deixar limitado nisso”, afirmou o chef, ao IM Business. Com o capex limitado, a marca Madero tende a dominar a estratégia de expansão moderada, seja com a abertura de novas lojas ou conversões de formato. É o nome mais conhecido no portfólio do grupo e que possui o tíquete médio mais alto, de R$ 75, quase o dobro do Jerônimo (R$ 35).

Junior Durski (Divulgação)

“No momento, estamos afiando o machado com o Jerônimo”, diz Durski, garantindo que o formato fast casual do Madero não vai perder relevância. É uma questão de tornar a marca mais conhecida para investir mais nela. “Nós já temos uma relevância grande com 90 unidades do Jerônimo”.

O Madero também aprendeu a dimensionar melhor seus novos restaurantes e passou a gastar menos com aberturas. Segundo Durski, o custo médio para abrir uma steak house caiu de R$ 5,5 milhões para R$ 4,2 milhões. “Estamos sendo mais assertivos no tamanho. Não dá para fazer um restaurante com 250 lugares se o público é de 130”.

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Expansão via franquias parece fora de cogitação. O Madero mantém sua estratégia de crescimento focada exclusivamente em restaurantes próprios. Durski conta que o grupo chegou a ter 29 franqueados no passado, mas que a qualidade das operações deixava a desejar, comparada a uma loja própria. A rentabilidade também era pior.

Segundo o empresário, mesmo que o Madero não tivesse o custo da abertura da loja franqueada, o grupo ficava com royalties de apenas 6% do faturamento da unidade operada por terceiros. “Desses 6%, em um conta grosseira, sobra metade para a margem da companhia. Porque você vai pagar impostos e alguma coisa para gerenciar esse restaurante. Sendo que nossa margem, em um próprio, é oito vezes maior”.

O Madero recomprou praticamente todas as franquias, com exceção de três, que continuam operando em cidades do interior do Paraná e de Santa Catarina.

IPO é conveniente, mas não necessário

O Madero desistiu de captar recursos em Bolsa, via IPO, no começo de 2022, mas diz que já está com tudo pronto para retomar a oferta. No entanto, considera que o mercado ainda está fechado para esse tipo de operação. “Não é o nosso plano A. Agora, se tiver o IPO, claramente vai nos ajudar muito, vamos capitalizar a companhia e retomar a expansão. Mas não estamos com urgência. É conveniente, mas não necessário”, afirmou Szwarc. O CFO diz que o grupo segue trabalhando próximo a bancos e investidores para entender o melhor momento de retomada da operação.

Questionado sobre sua percepção da atual conjuntura macroeconômica, Durski ressalva que não é economista e não gosta muito do assunto, mas percebe que está mais difícil fazer contratações pois o número de desempregados diminuiu. “Isso é um bom sinal para a economia, né”, indaga. “Os juros estão baixando e isso impacta fortemente o nosso resultado […], estamos vendo a Bolsa com 127 mil pontos, que também é sinal bom. Acho que está bem”.

O empresário, no entanto, se mostra preocupado com o aumento de ICMS proposto por Estados do Sul e Sudeste para proteger a arrecadação da reforma tributária. As regiões concentraram a maioria esmagadora dos restaurantes do grupo. “Se a nossa margem estiver baixa e simplesmente tivermos que subir os preços, nós perdemos clientes. […] Eu não acho que seja correto os governadores ou o governo federal querendo aumentar imposto. Não é justo com o povo, nem com o empresário, que sempre paga a conta”.

Durski diz ainda que o Madero não avalia fazer novos restaurantes na região Nordeste porque os impostos que pagos lá “são muito maiores do que no sudeste”.

No último mês de junho, Durski afirmou em entrevista ao jornal O Globo ter se arrependido pelas declarações que fez durante a pandemia, ao dizer que o Brasil “não podia parar por cinco ou sete mil mortes”. Questionado se pretende adotar algum posicionamento político nas próximas eleições, o empresário foi assertivo: “é melhor trabalhar mais e falar menos”.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados