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“IPO deve ser o ‘plano Z’ dos empreendedores”, diz Guilherme Benchimol, em entrevista

Para o fundador da XP, realizar um IPO só faz sentido se a companhia tiver tamanho, governança, clareza e eficácia para o uso do capital e entender exatamente o que ganha nesse processo todo

Carolina Paes

Guilherme Benchimol, fundador e presidente do conselho de administração da XP (Foto: Divulgação)
Guilherme Benchimol, fundador e presidente do conselho de administração da XP (Foto: Divulgação)

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No estudo Founder Liquidity in Brazil, lançado pela Endeavor, um dado mostra a expectativa do ecossistema: 79% dos fundadores de empresas de tecnologia planejam realizar um evento de liquidez nos próximos dois anos.

Para dar vida a esses números, a Endeavor reuniu grandes nomes do empreendedorismo em uma série de entrevistas exclusivas. Entre eles, Guilherme Benchimol, fundador da XP, que compartilhou, em entrevista exclusiva, os aprendizados de sua própria trajetória de liquidez.

Leia a entrevista a seguir.

InfoMoney: Para empreendedores que começam um negócio hoje, em que situações o IPO é a melhor estratégia de liquidez?

Guilherme Benchimol: Abrir capital tem muitas coisas boas e outras nem tanto, é importante que o empreendedor saiba onde está pisando antes de dar o próximo passo — a coisa boa é que você acessa capital, ganha visibilidade, passa a ter uma moeda líquida e melhora sua governança. No entanto, o lado não tão bom é que sua empresa passa a ser analisada pelas pessoas mais inteligentes do mercado financeiro e por boa parte dos investidores e isso faz com que você deixe de “voar abaixo do radar”, afinal suas informações passam a ser públicas, seus concorrentes passam a conhecer mais sobre o seu negócio e de uma forma mais ampla, tudo que você faz é muito mais escrutinado.

Por isso, sempre defendi que o IPO deve ser o “plano Z” de qualquer empreendedor, só quando realmente não houver outra saída, esse movimento deveria ser levado adiante. Na minha opinião, realizar um IPO só faz sentido se a companhia tiver tamanho, governança, clareza e eficácia para o uso do capital e entender exatamente o que perde nesse processo todo. Caso contrário, é melhor buscar investidores privados.

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IM: M&A e secundárias ganham espaço. Na sua visão, de que forma isso impacta a mentalidade de longo prazo do empreendedor?

GB: Eu sempre quis construir algo “built to last” (feito para durar). A forma como sempre gostei de gerar liquidez foi através dos dividendos e não vendendo minhas ações. No entanto, também entendo que seja importante que os empreendedores tenham acesso a alguma liquidez no curto prazo, para que possam ter uma vida mais equilibrada do ponto de vista financeiro. Na minha lógica, rodadas ou M&As — deveriam ser majoritariamente primárias, ou seja, feitas para fortalecer a empresa, trazer sócios melhores e aumentar o caixa para que o business fique melhor, mais diversificado e resiliente.

Muitas vezes o empreendedor vê o IPO ou a rodada como algo finalístico. Eu respeito essa decisão, afinal cada um tem uma ambição na vida, mas isso limita a visão de longo prazo. Quem consegue se manter comprometido, mesmo após liquidez, aproveita o poder dos juros compostos e cria companhias ainda mais extraordinárias a longo prazo.

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IM: O que os fundadores precisam saber sobre o peso de um IPO na cultura da empresa?

GB: Todo o trimestre sua empresa será analisada e escrutinada, a oscilação do preço do papel pode fazer o seu time tomar decisões mais curto prazistas e pode haver perda de foco do C-level para atender os acionistas e cumprir toda a governança que uma listagem exige.

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IM: O giveback é tradicionalmente ligado ao Vale do Silício, que tem um grande fomento à inovação. O que falta para o Brasil chegar nesse patamar de giveback por parte dos empreendedores?

GB: Construir e perpetuar um negócio é um desafio descomunal, antes de pensar em abrir novos negócios ou se envolver em projetos de filantropia, esteja 100% focado no seu negócio e faça ele ficar o mais resiliente e diversificado possível.

Perder o foco na jornada empreendedora é a coisa mais fácil que tem e muitas vezes isso pode ser a diferença de continuar vivo ou não. Tudo tem a sua hora. É importante os empreendedores terem essa consciência.

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Na hora certa, você terá tanta gente boa ao seu lado e dinheiro sobrando, que tudo será natural e o seu impacto muito maior

IM: Segundo o estudo da Endeavor, a janela de IPOs está fechada até 2030 na B3. Quanto disso se deve a um atraso do mercado de capitais brasileiro?

GB: O mercado é cíclico e incontrolável. A única coisa que é controlável é a consistência e a qualidade da sua companhia. Para mim, o foco nunca deve ser “quando será o IPO”, mas sim construir um negócio saudável, rentável, com processos bem definidos, pessoas competentes, cultura forte, clientes satisfeitos e etc. O IPO acontece como consequência disso tudo e quando houver a conjunção certa de fatores macroeconômicos. Achar que existe um prazo fixo — 2030, por exemplo — não muda a essência do que falei: quem constrói algo sólido, estará sempre pronto para aproveitar quando a janela abrir.