Último integrante da equipe que conquistou o Everest pela 1ª vez morre aos 92 anos

Uma viagem para a Índia atrás de trabalho acabou se transformando em uma vida toda escalando a montanha mais alta do mundo

Victor Mather The New York Times

Montanhistas seguem em direção ao acampamento base do Everest, no Nepal, em 12 de abril de 2025. REUTERS/Purnima Shrestha
Montanhistas seguem em direção ao acampamento base do Everest, no Nepal, em 12 de abril de 2025. REUTERS/Purnima Shrestha

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As primeiras pessoas a escalar o Monte Everest foram Sir Edmund Hillary e Tenzing Norgay, em 1953. Mas ninguém chega ao topo da montanha mais alta do mundo sem uma equipe de ajudantes anônimos.

O último integrante vivo da equipe Hillary-Norgay, Kanchha Sherpa, morreu na quinta-feira (16), informou a Associação de Montanhismo do Nepal em um comunicado. Ele faleceu aos 92 anos em sua casa em Kapan, Nepal, disse o presidente do grupo, Phur Gelje Sherpa, à Associated Press.

Kanchha, cujo nome também foi grafado como Kancha, nasceu em 1933 em Namche, Nepal. Ele disse que não sabia a data exata de seu nascimento.

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Quando jovem, ele teve dificuldades para encontrar trabalho para sustentar sua família, chegando a caminhar por cinco dias em 1952 até Darjeeling, na Índia, em busca de emprego.

Embora não tivesse interesse especial em montanhismo, Kanchha posteriormente se juntou a uma equipe de 35 alpinistas e centenas de carregadores que apoiavam Hillary, um explorador da Nova Zelândia, e Norgay, seu guia Sherpa, na subida ao Monte Everest.

Há um século já se sabia que o Everest era o ponto mais alto do mundo, mas a ideia de escalar até o topo parecia fantasiosa durante a maior parte desse tempo. O vento, o frio e o ar rarefeito aumentavam os desafios da escalada.

Poucos tentaram — notavelmente George Mallory, que justificou sua tentativa em 1924 dizendo “porque está lá”. Seus restos só foram encontrados em 1999.

Ainda assim, Hillary e Norgay aceitaram o desafio, auxiliados por sua vasta equipe de ajudantes. Kanchha carregava 27 quilos de equipamentos, fixava cordas e explorava o caminho para a equipe. Apesar de lesões, frio, doenças e dificuldades, “eu tive um bom trabalho”, disse ele ao Climate Wire em 2011. “Eu tive roupas boas. Foi bom para mim.”

Escalando sem oxigênio suplementar, ele foi um dos poucos membros da equipe a chegar ao acampamento base final, onde pararam. Como muitos carregadores em expedições, seu papel não era chegar ao topo. Hillary e Norgay seguiram o restante do caminho, até o cume a 8.848 metros acima do nível do mar.

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Quando a equipe recebeu a notícia pelo rádio de que os dois haviam desafiado as probabilidades e se tornado os primeiros a alcançar o topo, “dançamos, nos abraçamos e nos beijamos”, contou Kanchha ao Everest Chronicle, agência estatal de notícias do Nepal. “Foi um momento de pura alegria.”

Ele continuou a trabalhar na montanha até 1970, quando uma avalanche fatal levou sua esposa, Ang Lhakpa Sherpa, a pedir que ele parasse. Ele começou a trabalhar para uma empresa de trekking, guiando visitantes para locais mais seguros e menos elevados na região.

Norgay morreu em 1986; Hillary em 2008.

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Kanchha deixa sua esposa, quatro filhos, duas filhas, oito netos e uma bisneta, informou o Everest Chronicle.

Mais recentemente, ele expressou preocupação com o grande número de pessoas escalando o Everest e os danos ambientais causados.

Ainda assim, como guia de montanha, disse ao Climate Wire, “se pararmos os turistas para salvar as montanhas, não teremos o que fazer. Só plantar batatas, comer e sentar.”

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c.2025 The New York Times Company

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