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Três vezes na semana passada, o Senado votou para negar ao presidente Donald Trump o poder de aplicar as tarifas que ele impôs desde que assumiu o cargo, em janeiro. Alguns republicanos se uniram aos democratas, refletindo uma crescente resistência dentro do próprio partido às políticas comerciais do presidente.
A ação foi simbólica, já que as medidas dificilmente avançarão na Câmara e não seriam sancionadas por Trump. Nos bastidores, porém, republicanos pressionavam por uma reversão concreta.
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Em um almoço fechado com o vice-presidente JD Vance, vários senadores pediram que o governo abandonasse o plano de ampliar as importações de carne bovina da Argentina.
Os republicanos do Congresso têm apoiado quase integralmente a agenda interna e externa de Trump. Mas, juntos, as votações para acabar com as tarifas e o encontro privado com o vice-presidente revelam crescente inquietação no Partido Republicano sobre o impacto da política comercial do presidente em seus eleitores.
Vance foi enviado ao Capitólio para tentar convencer seus ex-colegas a rejeitarem três resoluções que revogariam os estados de emergência usados por Trump para justificar tarifas a parceiros comerciais em todo o mundo.
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Em vez disso, o vice-presidente enfrentou uma discussão acalorada com senadores republicanos de estados produtores de gado sobre o plano do governo de quadruplicar as importações de carne argentina, com tarifas mais baixas. A medida, destinada a conter a alta nos preços da carne, irritou pecuaristas — um grupo-chave para o partido.
O senador Ted Cruz (republicano do Texas) descreveu o encontro como uma “conversa franca e vigorosa” — eufemismo para um debate tenso. Seu colega texano, John Cornyn, afirmou que os republicanos “não querem favorecer importações estrangeiras em detrimento da produção nacional”.
Horas depois, o Senado aprovou, com apoio bipartidário, uma resolução para encerrar as tarifas de 50% sobre o Brasil. Na noite seguinte, outra votação de 50 a 46 encerrou parte das tarifas sobre o Canadá.
E, na quinta-feira, 30/10, republicanos cruzaram a linha partidária para aprovar, por 51 a 47, uma terceira resolução que revoga a tarifa global de Trump sobre mais de 100 parceiros comerciais.
A maioria dos republicanos ainda apoia a política de tarifas, argumentando que, embora causem desconforto temporário, elas tornarão o comércio global mais justo para agricultores e fabricantes americanos.
O senador John Hoeven (republicano de Dakota do Norte), que votou contra as resoluções, reconheceu as dificuldades dos fazendeiros, mas disse acreditar que “o esforço do presidente trará melhores acordos comerciais”.
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Outros republicanos, porém, veem prejuízos claros. O ex-líder Mitch McConnell (republicano do Kentucky) apoiou todas as medidas contra as tarifas, dizendo que a guerra comercial de Trump prejudicou montadoras, agricultores e destilarias de bourbon em seu estado. “Os consumidores estão pagando preços mais altos em todos os setores”, afirmou.
A senadora Susan Collins (republicana do Maine) também votou contra as tarifas e alertou que as taxas sobre aço e alumínio agravaram os custos dos pescadores de lagosta locais, elevando o preço de equipamentos básicos.
O democrata Tim Kaine (Virgínia), autor das resoluções, disse que o envio do vice-presidente ao Congresso mostra que “a própria Casa Branca está realmente preocupada” com o descontentamento interno.
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Entre os cinco republicanos que apoiaram as resoluções estavam Rand Paul, McConnell, Collins, Lisa Murkowski (Alasca) e Thom Tillis (Carolina do Norte) — este último criticando as tarifas sobre o Brasil como “arbitrárias” e prejudiciais à indústria americana.
A Constituição concede ao Congresso o poder de impor impostos — e “tarifas são impostos”, afirmou Paul. “Essas novas taxas não fracassam apenas na economia; fracassam na Constituição e precisam ser revertidas.”
A Suprema Corte ouvirá, nesta semana, argumentos sobre se o presidente pode aplicar tais tarifas com base na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional, aprovada na era Carter.
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Republicanos contrários às resoluções chamaram-nas de ataques políticos. O senador Josh Hawley (Missouri) defendeu que Trump agiu dentro dos limites legais. “Estão tentando escolher o que gostam e o que não gostam. Mas apresentaram alguma proposta para mudar as leis?”, questionou.
c.2025 The New York Times Company