CEO da gigante de tecnologia Nvidia começou limpando privada aos 9 anos

O imigrante Jensen Huang era o estudante mais novo em um internato rural em Kentucky e foi encarregado de limpar os banheiros

Eva Roytburg Fortune

O CEO da Nvidia, Jensen Huang, faz a palestra principal na Conferência de Tecnologia de GPU da Nvidia no SAP Center em San Jose, Califórnia, EUA, em 18 de março de 2025. REUTERS/Brittany Hosea-Small/Foto de arquivo
O CEO da Nvidia, Jensen Huang, faz a palestra principal na Conferência de Tecnologia de GPU da Nvidia no SAP Center em San Jose, Califórnia, EUA, em 18 de março de 2025. REUTERS/Brittany Hosea-Small/Foto de arquivo

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O CEO da empresa mais valiosa do mundo não conheceu os Estados Unidos por meio de universidades de elite ou incubadoras de tecnologia. Sua educação começou em um internato rural em Kentucky onde os estudantes fumavam, carregavam facas e o aluno mais novo do campus, aos 9 anos, era encarregado de limpar os banheiros.

Esse aluno era Jensen Huang.

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Em uma recente participação no podcast de Joe Rogan, o CEO da Nvidia voltou àquele começo improvável e o atribuiu aos pais, que haviam enviado ele e o irmão para os Estados Unidos em meados dos anos 1970 praticamente sem nada.

A família morava em Bangkok durante um dos recorrentes golpes de Estado na Tailândia, e seus pais decidiram que já não era seguro manter as crianças ali.

Eles contataram um tio que nunca tinham visitado em Tacoma, Washington, e pediram que ele encontrasse uma escola nos Estados Unidos que aceitasse dois meninos estrangeiros com quase nenhuma economia.

Ele encontrou uma: o Oneida Baptist Institute, no condado de Clay, Kentucky, um dos mais pobres do país na época — e ainda hoje. Os dormitórios não tinham portas de armário, não tinham trancas e abrigavam uma turma de adolescentes que fumava o tempo todo — Huang disse que também tentou fumar por uma semana, aos 9 anos — e resolvia brigas com facas.

O colega de quarto de Huang era um jovem de 17 anos enrolado em fitas por causa de uma briga recente; “o garoto mais durão da escola”, como ele disse.

Todo aluno tinha um trabalho. Seu irmão foi enviado aos campos de tabaco que a escola mantinha para se sustentar — “quase como uma penitenciária” — enquanto Huang virou o faxineiro, limpando os banheiros usados por cem adolescentes (“eu só desejava que eles fossem um pouco mais cuidadosos” no banheiro, brincou).

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Essa disposição incansavelmente bem-humorada, mesmo ao descrever cenas que pareceriam brutais para quase qualquer outra pessoa, atravessou toda a entrevista.

Huang disse que a maioria de suas lembranças daquele período era boa e recorda a vez em que contou aos pais seu deslumbramento depois de comer em um restaurante: “Mãe e pai, fomos hoje ao restaurante mais incrível. O lugar inteiro é iluminado. Parece o futuro. E a comida vem dentro de uma caixa, e a comida é incrível. O hambúrguer é incrível.”

“Era o McDonald’s”, disse Huang, rindo.

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Na verdade, essas lembranças eram repassadas aos pais só mais tarde; os meninos estavam lidando com tudo aquilo sozinhos. Ligações internacionais eram caras demais, então seus pais compraram para eles um gravador simples.

Uma vez por mês, os meninos gravavam uma carta em áudio contando como era a vida na região carbonífera e mandavam a fita para Bangkok. Os pais gravavam por cima da mesma fita e a enviavam de volta.

Dois anos depois, os pais de Huang finalmente chegaram aos Estados Unidos, apenas com malas e um pouco de dinheiro. Sua mãe trabalhou como empregada doméstica.

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Seu pai, um engenheiro formado, procurava trabalho circulando vagas nos classificados do jornal e ligando para quem atendesse. Acabou conseguindo emprego em uma consultoria de engenharia projetando fábricas e refinarias.

“Eles deixaram tudo para trás”, disse Huang. “Recomeçaram aos quase 40 anos.”

Ele ainda carrega uma lembrança daqueles primeiros anos que, segundo ele, parte seu coração. Pouco depois de seus pais chegarem ao país, a família morava em um apartamento alugado mobiliado quando ele e o irmão quebraram acidentalmente uma mesinha de centro frágil, de madeira prensada.

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“Eu ainda lembro da expressão no rosto da minha mãe”, disse. “Eles não tinham dinheiro nenhum, e ela não fazia ideia de como iria pagar aquilo.”

Para Huang, momentos como esse definem o tamanho do risco que seus pais aceitaram ao ir para os Estados Unidos “com quase nenhum dinheiro”.

“Meus pais são incríveis”, disse ele. “É difícil não amar este país. É difícil não ser romântico em relação a este país.”

Começo humilde de Huang inspirou a Nvidia

Essa maneira de enxergar os Estados Unidos — como um lugar onde as pessoas te dão uma chance se você estiver disposto a agarrá-la — é como Huang explica as apostas iniciais e improváveis da Nvidia.

Huang teve a ideia da Nvidia sentado em uma mesa da lanchonete de fast food Denny’s, onde trabalhou primeiro como lavador de pratos e depois como ajudante de garçom.

Ele queria construir um chip capaz de rodar gráficos 3D em um computador pessoal, e foi naquela mesa do Denny’s que ele se encontrou com dois amigos para rabiscar o que viria a ser a empresa.

Muito antes de a companhia se tornar sinônimo do boom da IA, Huang continuou a direcioná-la para ideias que poucas pessoas compreendiam e menos ainda acreditavam.

A plataforma de computação Cuda foi uma delas. Quando a Nvidia lançou o sistema em 2006, o custo do chip praticamente dobrou, a receita não se mexeu e o valor de mercado da empresa caiu de cerca de US$ 12 bilhões para US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões.

“Quando lancei a Cuda, a reação foi um silêncio absoluto”, disse. “Ninguém queria. Ninguém pediu. Ninguém entendeu.”

A Cuda é a camada de software que transforma os chips gráficos em motores de computação de uso geral, permitindo que eles impulsionem grandes redes neurais. Agora, claro, praticamente todos os grandes modelos de IA rodam em hardware que depende da Cuda.

O mesmo aconteceu quando ele apresentou o primeiro supercomputador de IA da Nvidia, o DGX-1. O lançamento gerou “silêncio completo”, disse ele, e não houve pedidos de compra.

A única pessoa que entrou em contato foi ninguém menos que o CEO da Tesla, Elon Musk, que lhe disse ter “um laboratório de IA sem fins lucrativos” que precisava de um sistema como aquele.

Huang supôs que o negócio seria impossível.

“Todo o sangue sumiu do meu rosto”, contou a Rogan. “Uma organização sem fins lucrativos não vai comprar um computador de US$ 300 mil dólares.”

Mas Musk, o homem mais rico do mundo, insistiu. Então Huang encaixotou uma das primeiras unidades, colocou-a no carro e dirigiu ele mesmo até San Francisco.

Em 2016, ele entrou em uma pequena sala no andar superior lotada de pesquisadores — o pioneiro da robótica de Berkeley Pieter Abbeel, o cofundador da OpenAI Ilya Sutskever e outros — trabalhando em um escritório apertado.

Aquele espaço acabaria se revelando a OpenAI, muito antes de se tornar a organização de IA mais comentada do mundo. Huang deixou o DGX-1 com eles e voltou para casa.

Olhando para trás, mesmo como CEO de uma empresa de US$ 4,5 trilhões que hoje atrai multidões e caçadores de autógrafos por onde passa, ele não descreve nada disso como visão estratégica ou heroísmo.

Para ele, tudo é uma continuação dos riscos que seus pais assumiram ao mandar dois meninos atravessar o mundo com quase nada.

“Nós realmente acreditávamos nisso e, se você acredita nesse futuro e não faz nada a respeito, vai se arrepender pelo resto da vida”, disse Huang.

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