Cenário nos EUA não é cor-de-rosa como Wall Street pensa, diz especialista em emprego

O S&P 500 subiu mais de 17% no ano, mas economista da ADP, empresa de RH e dados de trabalho, diz que mercado mostra sinais de fraqueza

Eleanor Pringle Fortune

Dólares e moedas estrangeiras (Imagem gerada com auxílio IA/Leonardo Albertino
Dólares e moedas estrangeiras (Imagem gerada com auxílio IA/Leonardo Albertino

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Apesar de toda a volatilidade que 2025 enfrentou, as coisas até que acabaram relativamente bem: o índice da bolsa S&P 500 sobe mais de 17%, a inflação não disparou apesar de uma enxurrada de tarifas, e a taxa de desemprego se manteve relativamente estável.

Como resultado, analistas e investidores em geral estão se sentindo otimistas em relação a 2026 — afinal, o desempenho da economia dos Estados Unidos tem superado as expectativas desde a pandemia, então por que não adotar uma postura positiva diante de um enorme estímulo fiscal?

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Bem, por baixo desse quadro macroeconômico relativamente robusto, começam a aparecer rachaduras. Esses tremores já estão sendo sentidos; basta olhar para a decisão do Fed de cortar a taxa básica, apesar de argumentos de que, em circunstâncias normais, não haveria um motivo específico para isso.

Os mercados esperavam o corte com base no cenário de emprego, que vem mostrando alguns sinais de fraqueza no que o presidente do Fed, Jerome Powell, chamou de uma economia de “pouca contratação e pouca demissão”.

Essa fraqueza parece destinada a se tornar algo permanente em 2026, segundo a economista-chefe da empresa de RH e dados sobre emprego ADP, Nela Richardson.

A visão da ADP sobre a economia ganhou destaque neste ano, em parte por causa do fechamento do governo, que impediu a divulgação de dados públicos de folha de pagamento. Nesse vácuo, entraram os dados da ADP, que compartilha informações sobre o emprego no setor privado.

Diferentemente de seus pares economistas em Wall Street, Richardson diz à Fortune: “Estamos acompanhando mudanças em tempo real — é o máximo de alta frequência que os dados de folha de pagamento conseguem ser, e não vimos esse cenário cor-de-rosa para 2026 nos dados. Acho que, quando as pessoas apontam para um mercado de trabalho melhor no próximo ano, elas estão destacando algumas coisas da macroeconomia, enquanto nós estamos olhando para esse conjunto de dados muito granular do emprego privado”.

“Elas destacam talvez alguns cortes de juros; destacam algumas vantagens do lado da política fiscal; e provavelmente destacam alguns ganhos com IA e investimentos dando resultado — e certamente estão adicionando alguma clareza em termos de política comercial e resolvendo algumas das questões macro. Tudo isso são atributos fantásticos, mas leva mais tempo para que cheguem ao pequeno comerciante.”

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Richardson aponta para o relatório mais recente de empregos de sua empresa: o emprego privado nos Estados Unidos caiu em 32 mil vagas em novembro, liderado pela fraqueza das empresas menores.

Companhias com um a 19 funcionários eliminaram 46 mil postos, enquanto aquelas com 20 a 49 empregados cortaram 74 mil. Em contraste, empresas com mais de 500 funcionários adicionaram 39 mil trabalhadores.

“Empresas muito pequenas representam uma grande fatia do emprego, mas elas fazem movimentos pequenos, e todas estão se movendo na mesma direção”, acrescentou Richardson.

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“Pode ser algo tão simples quanto não contratar dois adolescentes na padaria ou abrir mão daquele motorista de entrega em determinada época do ano. Isso não significa uma demissão grande e em massa; é não repor um trabalhador aqui ou ali, e essas mudanças se acumulam. Se você está fazendo esses micromovimentos, microdecisões para pequenos negócios familiares, esses motores macroeconômicos têm menos chance de influenciar seus padrões.”

Um quadro em rápida transformação

Antigamente, uma boa ética de trabalho e perseverança eram suficientes para garantir um primeiro degrau na carreira. Em 2025, isso já não é mais assim — basta perguntar aos líderes empresariais no topo de algumas das maiores corporações dos Estados Unidos.

E, embora seja verdade que a geração Z enfrenta um mercado de trabalho totalmente diferente daquele de seus pais, as regras do jogo estão evoluindo tão rapidamente que quem entra no mercado de um ano para o outro já encontra um conjunto diferente de obstáculos — o que torna o cenário para 2026 ainda mais complexo.

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Essas mudanças não aconteceram no vácuo, diz Richardson, mas são mais o resultado da convergência de tendências dos últimos cinco anos.

A chamada Grande Renúncia e o avanço do trabalho híbrido estão entre as principais. O trabalho híbrido, por exemplo, fez com que o campo de concorrência se ampliasse rapidamente, já que gestores de contratação deixaram de ficar restritos a uma determinada geografia.

Da mesma forma, “a Grande Renúncia significou que as pessoas puderam impor seus próprios termos”, acrescentou Richardson. “Isso significou trabalho híbrido, salários mais altos e bônus, todo tipo de promoção aconteceu nesse período. Por que sair?”

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Esses fatores fazem com que as regras do jogo mudem o tempo todo para quem está entrando no mercado: “Nem é mais de geração para geração”, diz Richardson. “É o seu irmão ou irmã mais velho que se formou há três ou quatro anos — e o mercado de trabalho já é diferente em relação ao deles.”

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