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PARIS — Muitas coisas parecem instáveis na França atualmente. Tarifas oscilantes vão afetar os negócios? A Perrier é realmente tão natural? E nem se fale do calor do verão.
Mas, nos últimos 21 meses, os fãs de um popular programa francês de perguntas viveram uma certeza simples e inabalável. Sintonize ao meio-dia em qualquer dia, e lá estava ele: um jovem de fala mansa chamado Émilien, com óculos redondos e finos e um conhecimento impressionante de curiosidades.
Com a mesma regularidade, Émilien derrotava os outros concorrentes. Repetidas vezes.
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Embora tenha preferido não revelar seu sobrenome por questões de privacidade, Émilien se tornou uma espécie de celebridade na França por sua sequência recorde de vitórias no programa “Les Douze Coups de Midi” (“Os Doze Golpes do Meio-Dia”). Desde 25 de setembro de 2023, ele competiu 647 vezes e acumulou 2,56 milhões de euros, cerca de US$ 3 milhões, em dinheiro e prêmios.
Mas tudo chegou ao fim no domingo, quando uma única derrota encerrou seu reinado.
Émilien, agora com 22 anos, está tão incrédulo quanto qualquer outra pessoa por ter chegado tão longe.
“É uma história louca”, disse ele por telefone esta semana. “Nunca imaginei que duraria tanto.”
Transmitido pela rede de TV TF1, o programa reúne quatro concorrentes diários que competem em uma série de quizzes. O vencedor — o Maître de Midi, ou Mestre do Meio-Dia — defende o título no dia seguinte.
“Meu objetivo sempre foi o mesmo: estar lá no final do programa, do primeiro ao 647º dia, fazer o meu melhor e voltar no dia seguinte”, disse Émilien.
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“Eu nunca tive uma meta específica de bater esse ou aquele recorde”, acrescentou.
Ainda assim, ele conseguiu. Em um comunicado emocionante que o coroou como “o maior campeão dos campeões”, a TF1 afirmou que sua “jornada lendária” quebrou o recorde mundial de participações solo em programas de perguntas e o recorde europeu de ganhos em programas do gênero.
“Émilien superou todos os limites, dia após dia, diante de milhões de espectadores fiéis”, disse a emissora.
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A mente enciclopédica e o jeito discreto de Émilien geraram intensa cobertura da mídia, uma enxurrada de memes, alguns críticos que reclamavam que ele recebia perguntas fáceis (acusação negada pelos produtores) e até um elogio no Instagram da ministra da Cultura da França, que destacou sua “calma, cultura e modéstia”.
Além dos prêmios em dinheiro, Émilien levou para casa cerca de 800 mil euros em prêmios, incluindo 23 carros; viagens para destinos como Veneza, na Itália, e Ilhas Canárias; uma sessão de paraquedismo; televisores; smartphones; consoles de videogame; scooters; instrumentos musicais; joias; maquiagem; bicicletas e eletrodomésticos.
“É muita coisa”, reconheceu.
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Émilien, que teve uma criação modesta na região da Vendée, no oeste da França, disse ter guardado parte dos prêmios, mas também doado ou vendido muitos itens. Ele afirmou não ver necessidade de 23 carros — ou dos 35 quilos de doces que distribuiu para crianças em escolas.
Mas o sucesso de Émilien não foi por acaso. Ele sempre gostou de quizzes, especialmente durante o isolamento da pandemia, e cresceu assistindo “Les Douze Coups de Midi” com os avós.
Ele foi recusado na primeira tentativa de participar do programa ao completar 18 anos. “Eu era muito tímido”, contou. Mas a avó o incentivou a tentar novamente dois anos depois, e ele conseguiu.
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Foi aí que as coisas ficaram sérias.
“Eu podia fazer quizzes o dia todo, 15, 16, 17 horas. Não me importava”, disse Émilien, acrescentando que anotava e pesquisava curiosidades, especialmente sobre temas desconhecidos.
Participar do programa, que é gravado em sessões intensivas de uma ou várias semanas e exibido depois, fez com que ele pausasse os estudos de História na Universidade de Toulouse.
“Tentei acompanhar as aulas enquanto participava do programa, mas não consegui”, disse. “Meus exames sempre coincidiam com os períodos de gravação.”
Agora, ele está fazendo uma pausa de um ano para viajar e aproveitar os ganhos antes de retomar os estudos, possivelmente para se tornar professor. Mas a vida não será mais a mesma. As pessoas já o reconhecem na rua.
“No começo, eram os telespectadores habituais, principalmente idosos”, contou. Depois, o público jovem também passou a acompanhá-lo, alguns confessando que ele despertou neles o interesse por quizzes.
Jean-Luc Reichmann, apresentador do programa, atribui a popularidade de Émilien à sua humildade — mesmo quando ele o interrompeu para corrigir uma pergunta sobre a capital da Indonésia, que estava errada.
“Você se tornou um modelo para os jovens”, disse Reichmann nas redes sociais.
Émilien não tem tanta certeza.
“Sou apenas alguém que gosta de responder perguntas”, disse. “Se isso ajuda algumas pessoas a ampliar seus horizontes, é tudo o que eu poderia desejar.”
c.2025 The New York Times Company