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(Bloomberg) — À medida que a reputação das criptomoedas passa por uma reabilitação cautelosa no tribunal da opinião pública, fundos de Venture Capital (VC, ou, em tradução livre, capital de risco) estão financiando uma nova onda de empreendedorismo em blockchain nos campi universitários.
Um grupo de investidores especializados em ativos digitais — incluindo Collab+Currency, Consensys Mesh, Artemis e Hydra Ventures — reuniu cerca de 600 Ether, a segunda maior criptomoeda do mundo e amplamente vista como um alicerce para a próxima fase das finanças digitais. O financiamento flui por meio de clubes geridos por estudantes, de Michigan ao Oregon, sob uma iniciativa conhecida como Dorm DAO.
O programa, que combina capital com orçamentos de pesquisa e pipelines de estágio, reflete uma mudança nas ambições da indústria. Antes descartada como algo pouco sério e definida por esquemas de enriquecimento rápido, a cripto está caminhando para a se tornar “respeitável”. Produtos de investimento regulados e o retorno cauteloso de Wall Street ajudaram nesse processo. Mas seus apoiadores também veem outro campo de provas: o campus universitário, onde esperam cultivar uma nova geração de talentos — e uma visão mais disciplinada das finanças digitais.
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O impulso coordenado atraiu um grupo entusiasmado, incluindo alguns que têm memórias limitadas da turbulência da indústria nos últimos anos. Um exemplo é Cameron Coleman, que diz que mal tinha ouvido falar de cripto antes do seu primeiro ano na faculdade. Mas, depois que um colega o convidou para um evento do clube de blockchain no campus da Universidade do Oregon, a curiosidade falou mais alto.
Coleman diz que rapidamente se fascinou pelo mundo excêntrico das memecoins, começou a participar de sessões de trading, acompanhou lançamentos de tokens no X (o antigo Twitter) e entrou em comunidades no Discord. O estudante do terceiro ano agora é presidente do Oregon Blockchain — liderando mais de 40 membros, gerenciando o braço de trading do clube e orientando novos estudantes.
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“Eu não estava muito familiarizado com cripto quando entrei na faculdade — sempre fui um investidor tradicional,” disse Coleman. “Mas me apaixonei pela pesquisa.”
O jovem de 20 anos está finalizando um estágio em Nova York na Hype, uma plataforma de trading de memecoins apoiada pela aceleradora de startups Y Combinator.
Durante o mercado em alta explosivo da cripto em 2021, estudantes universitários entraram em peso na indústria, criando startups, investindo em projetos e, em alguns casos, abandonando a faculdade para seguir carreiras em cripto. O colapso do ecossistema cripto em 2022, em meio a uma série de falências e escândalos, teve um efeito desanimador sobre os novatos. Empresas consolidadas como Coinbase, Crypto.com e Gemini realizaram grandes demissões, enquanto ofertas de emprego foram canceladas. A cripto passou de algo “cool” para algo a ser tratado com cautela, fazendo os estudantes hesitarem em apostar na indústria.
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A busca pelo interesse em cripto
Em 2023, a Collab+Currency lançou o Dorm DAO, uma organização autônoma descentralizada para reacender o interesse dos estudantes justamente quando a cripto estava se recuperando. O Dorm DAO lançou sua primeira turma de clubes em nove escolas, incluindo as universidades de Michigan, Oregon e Virgínia.
“Nosso principal objetivo com o Dorm DAO é fazer com que o maior número possível de estudantes em universidades acadêmicas de elite se entusiasme com a tecnologia blockchain,” disse Zack Rosenblatt, diretor de operações da Collab+Currency, que já investiu em mais de 150 empresas, incluindo 21Shares, Sky Mavis e StarkWare. “Se conseguirmos que o maior número possível de estudantes participe desses clubes, sentimos que essa é a melhor forma de construir um pipeline incrível de talentos para a indústria.”
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Ao final do primeiro ano do Dorm DAO, os gestores do fundo estudantil superaram o Ether em 15%. A Collab+Currency começou a receber consultas de outros VCs interessados em colher os benefícios de ter um grupo sempre interessado e talentoso de estudantes à disposição, disse Rosenblatt. Mais parceiros se juntaram, reunindo mais dinheiro para fornecer tokens para negociações nas escolas, chegando a cerca de US$ 2,3 milhões. E o programa até se expandiu para o exterior, por meio da Cambridge e Imperial College no Reino Unido.
Essa abordagem difere muito do movimento de base que caracterizou a cripto no início. Quando o Bitcoin foi apresentado ao mundo, há cerca de 16 anos, os defensores organizavam “meetups” e até distribuíam tokens gratuitos, defendendo uma ética anti-establishment.
Dois ex-alunos do Dorm DAO ilustram essa trajetória. Reva Jariwala, ex-membro do clube de blockchain de Cornell e agora na Coinbase, e Evan Solomon, que foi presidente do clube de Michigan e hoje é chefe de gabinete na Portal Ventures, se uniram para organizar uma conferência universitária de blockchain. No ano passado, eles disseram ter arrecadado mais de US$ 115 mil e ajudado a colocar mais de 50 estudantes em estágios. Este ano, eles pretendem dobrar o financiamento da conferência com patrocinadores como Uniswap, Solana e Coinbase — todos que lançaram ou expandiram programas de estágio em cripto. Eles até conseguiram a participação da comissária da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, Hester Pierce, para falar no evento em dezembro.
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E o estigma da cripto nos campi também parece estar diminuindo. Oliver Tipton, engenheiro de software na Gemini e cofundador do clube de blockchain do Davidson College, lembrou o ceticismo inicial.
“Eu ouvia muito ‘ah, você está em cripto’,” disse Tipton. “Mas agora, até essas pessoas estão começando a ver como uma classe de ativos séria. É divertido construir esse pipeline.”
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